Não é patrocinada pela Kinder, mas esta Sexta-feira farta é como que um grande ovo de chocolate com uma gran surpresa lá dentro, onde cabem hip hop português e norte-americano, rock alternativo e jazz psicadélico com sabor a Brasil. E o melhor de tudo? Não é necessário esperar até domingo para saborear estas iguarias sonoras, com uma mão-cheia de destaques sobre os quais nos debruçamos no decorrer desta peça.
E como o corpo não sofre pelo excesso de açúcar que nos entra pelas vias auditivas, sintam-se à vontade para abusar dos doces e provar o que nos foi também servido pelas confeitarias de Piruka (Menino da Mamã), Too $hort (SIR TOO $HORT, VOL. 1 (FREAKY TALES)), Kool Keith (Karpenters), Blu (Forty), Mozzy (Intrusive Thoughts), Chip (Grime Scene Saviour), JP Saxe (Articulate Excuses), Juana Rozas (TANYA), Little Barrie & Malcolm Catto (Electric War), Cappadonna (Godly Wealthy & Beautiful), Hieroglyphic Being (Dance Music 4 Bad People), G Perico & DJ Drama (LA Gangster: Gangsta Grillz), Zeitgeist Freedom Energy Exchange (Inspire // Radicalise), dublon (Nectar), Trim (No Caller ID), Alex Isley (WHEN), Davido (5ive), Mark de Clive-Lowe (past present (tone poems across time)), That Mexican OT & Sauce Walka (Chicken & Sauce), Wiz Khalifa (Kush + Orange Juice 2), quickly, quickly (I Heard That Noise) e Divide and Dissolve (Insatiable).
[Westside Gunn] HEELS HAVE EYES
Entre o rap e o empreendedorismo, Westside Gunn criou a sua própria lane ascendente na cultura hip hop. Além de ser um dos MCs de culto mais badalados do momento, é também o fundador da Griselda Records, uma casa editorial que tem vindo a somar infindáveis elogios ao longo dos últimos anos pela forma como voltou a colocar em evidência o que é feito nas ruas. O que alguns podem não ter apanhado é que o artista nascido Alvin Lamar Worthy está também a alavancar a sua própria companhia de wrestling profissional, a 4th Rope, que se tem destacado pelos eventos Heels Have Eyes, onde o combate anda de mãos dadas com a música — pelos seus ringues já passaram lutadores da TNA ou da AEW, enquanto que lendas do hip hop como DJ Premier ou Pete Rock ajudam a animar a festa com performances. Agora, HEELS HAVE EYES é também o título de um EP, o segundo nas contas de 2025 de Westside Gunn, ele que logo em Fevereiro nos tinha dado o álbum 12. Completamente a solo nas rimas, o MC de Buffalo, Nova Iorque, aplica novos golpes verbais sobre batidas Harry Fraud, Mr. Green, Cee Gee e Denny Laflare ao longo de cinco faixas.
[Tunde Adebimpe] Thee Black Boltz
Está aí a estreia a solo do vocalista dos TV on the Radio, Tunde Adebimpe. Criado durante a pandemia e profundamente influenciado pela perda súbita da sua irmã, Thee Black Boltz é uma resposta emocional à dor pessoal e à inquietação global. Musicalmente, o álbum funde géneros como synth-punk ou pop industrial e conta com a produção de Wilder Zoby, bem como com colaborações de membros dos TV on the Radio. O LP é descrito como uma “mixtape de emoções”, onde Adebimpe procura momentos de alegria por entre a dissonância e a tristeza, reflectindo a sua versatilidade artística e profundidade emocional.
[Bispo] Entre Nós
O novo trabalho de Bispo é um testemunho vívido de uma década de entrega à arte, uma carta aberta onde o rapper de Mem Martins expõe com coragem e sensibilidade a sua trajectória, marcada por superações e uma fidelidade inabalável à verdade que o rap lhe ensinou a cantar. Entre Nós é uma ponte construída com emoções cruas e também uma reunião com um dos seus primeiros companheiros de viagem, Fumaxa, que assume grande parte da produção. Depois de três Coliseus esgotados, Pedro Bispo explora novas sonoridades com a ousadia de quem se reinventa sem perder o norte — sempre ancorado na introspecção, na gratidão e na capacidade de sonhar. Pelo decorrer das suas 16 canções podemos encontrar um par de colaborações improváveis, de Olavo Bilac e Benjamim Epps, aos quais se juntam Chyna, Papillon e Gama WTD.
[Adrian Younge] Something About April III
Adrian Younge encerra a sua trilogia Something About April com o ambicioso e cinematográfico terceiro volume. Numa ode à essência da música psicadélica brasileira dos anos 60 e 70, o disco funde arranjos orquestrais exuberantes com sintetizadores, breakbeats e letras cantadas em português por um elenco de vozes que inclui o próprio Younge e a cantautora Céu. O músico, compositor e produtor de Los Angeles, que confessou ter dedicado quinze anos a aperfeiçoar este projecto, mergulhou profundamente na cultura brasileira, aprendeu a língua de Camões e estudou os discos mais raros para capturar fielmente a atmosfera desejada. O resultado é uma experiência auditiva que é tanto uma homenagem ao passado como uma visão ousada do futuro por parte o homem que ajuda a ditar os destinos da Jazz Is Dead.
[The Underachievers] Homecoming
Tal como anunciado logo na “Intro”, Homecoming marca o regresso dos The Underachievers após anos de silêncio coletivo, durante os quais Issa Gold e AKTHESAVIOR andaram focados nas suas carreiras a solo. Composto por nove faixas, o longa-duração oferece uma fusão de boom bap e trap e equilibra momentos de elevada energia com outros de introspeção lírica. Sem quaisquer convidados, a dupla que é parte do movimento Beast Coast reafirma a sua relevância no panorama do hip hop contemporâneo.