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O simples acto de acordar e ligar a Internet enquanto pessoa racializada pode ser sinónimo de “dia estragado”. Por estes dias, a Agência Lusa cometeu um daqueles “erros” que nos fazem engolir em seco e pensar que os melhores dias se calhar nunca vão chegar. No entanto, e porque a música há-de ter algum poder para atenuar estas dores, apresentamos um cardápio de seis discos que são criados por pessoas que sabem bem o que é crescer e viver com a carga emocional de se ser uma minoria. Não se resolvem os problemas assim, mas temos de começar por algum lado.
Sam Gellaitry (IV), Nicki Minaj (Beam Me Up Scotty), IAMNOBODI (The Interludes), Marco Franco (Arcos), KAKAF (Pushing), 21 Savage (Spiral: From The Book of Saw Soundtrack), y.azz x b-mywingz (CYCLES), Deekapz (Ensaio Sobre Você), Smoke Hills (O Homem Que Viu o Sol) e Vic Spencer (Legend Laws of Power) são outros “pratos” para se degustar no final desta semana.
[Sons Of Kemet] Black To The Future
Mais do que procurar dar respostas, os Sons Of Kemet propõe-se a oferecer perguntas que possam levar a que cada um tire as suas conclusões sobre a experiência negra. Em Black To The Future, o grupo liderado pelo indefectível Shabaka Huchings usa as vozes (e aqui também cabem instrumentos, atenção) de Joshua Idehen, Moor Mother, Angel Bat Dawid, Kojey Radical e D Double E para provocar todo o tipo de reacções. Isto é jazz britânico que se explora e procura o ângulo menos provável que existe no hip hop, nos sons da diáspora africana e do Caribe ou no hardcore continuum.
[J. Cole] The Off-Season
Os ténis estão todos pisados, o equipamento já cheirou melhor e a bola parece cada vez mais gasta. Nos últimos anos, J. Cole andou a treinar para corroborar com as afirmações daqueles que lhe chamam um dos melhores rappers da actualidade e The Off-Season é o resultado dessa jornada. Lil Baby, Cam’ron ou 21 Savage juntam-se ao MC e produtor da Dreamville neste conjunto de 12 faixas.
[Jorja Smith] Be Right Back
Este disco é o que se chama “guardar lugar”. “É algo que quero que os meus fãs tenham neste momento, não é um álbum e estas canções não teriam entrado [se fosse]”. OK… talvez Jorja Smith não seja a melhor relações públicas do mundo, mas vamos dar-lhe mais uma oportunidade para promover este letárgico projecto de 25 minutos. “Se eu precisei de fazer estas canções, então alguém precisa de as ouvir também”. Ao vosso risco…
[LSDXOXO] Dedicated 2 Disrespect
“The devil fucked me good”: não é Lil Nas X a cantar este verso (ainda tem que agradar à rádio), mas sim LSDXOXO. O produtor e DJ da Filadélfia, de momento radicado em Berlim, lança o EP Dedicated 2 Disrespect, uma pequena cápsula de hip e ghetto house da qual já conhecíamos o single “Sick Bitch”. Erótica a percutir com descrições explícitas, gemidos e sobre batidas de Baltimore.
[Fatima Al Qadiri] Medieval Femme
Fatima Al Qadiri está de volta aos discos, com selo da Hyperdub e poesia de mulheres árabes. Medieval Femme elabora a “metáfora de um jardim islâmico, no espaço liminar entre depressão e desejo”, esbatendo o presente para encontrar passados e futuros. É etéreo e vagaroso, por contraste ao último trabalho (não considerando a sua banda sonora para o filme Atlantique de Mati Diop), o hiper-estimulante Shaneera.
[Paris Texas] BOY ANONYMOUS
Louie Pastel e Felix formam Paris Texas, dupla de Los Angeles que acaba de disponibilizar o seu álbum de estreia. O importante co–sign de Kevin Abstract (dos BROCKHAMPTON) é apenas mais uma razão para se perder algum tempo com este projecto difícil de definir — mas que parte da pluralidade que o hip hop pode receber e distribuir.
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