É música para activar os sentidos, que se recusa a seguir por caminhos fáceis e não aconselhável a escutas descartáveis. Há mares onde vale mesmo a pena mergulhar bem fundo e por lá ficar até ao final da trilha, emergir por uns minutos para recuperar o fôlego e voltar à imersão com a ajuda do botão do repeat. Do rap nutritivo à electrónica que faz dançar corpo e mente, hoje destacamos por cá cinco discos obrigatórios para rodar durante os próximos dias.
Depois da matéria bem estudada, aconselhamos a obtenção de créditos extra nas aulas musicais que também nos deram Raso (Transeunte), Hetta (Acetate), Ransom & Conductor Williams (The Uncomfortable Truth), The Bug vs Ghost Dubs (Implosion), Tems (Love Is A Kingdom), Odeal (The Fall That Saved Us), Trellion (Big Sur), Nemzzz (From Me 2 U), Tommy Richman (WORLDS APART*), Kara-Lis Coverdale (Changes in Air), Greg Spero (Journeys), MAJOR LAZER (GYALGEBRA), Obongjayar (Paradise Now & Forever), Aya Nakamura (Destinée), SHOLTO (The Sirens), Kelly Lee Owens (KELLY), John Scofield & Dave Holland (Memories of Home), DJ Q (Foundations), Kelman Duran (Daily News), Skrillex (hit me where it hurts x), Sophia Hansen-Knarhoi (Undertow), Samm Henshaw (It Could Be Worse), The Hellp (Riviera), Max Jaffe (You Want That Too!), Lawrence English & Stephen Vitiello (Trinity) e ultra caro (moonlight diaries).
[Papillon] WONDER
WONDER consolida a jornada de metamorfose que Papillon tem atravessado e chega-nos uma semana após o rapper da Linha de Sintra ter lançado a curta-metragem SONHOS no YouTube. Tal como nos tem vindo a habituar ao longo do percurso que tem trilhado a solo, este novo álbum transcende as fronteiras do hip hop para dar vida a todo um ecossistema sensorial onde a introspecção se revela elemento chave. Carla Prata e Bárbara Tinoco são as únicas participações de voz que podem ser escutadas ao longo das 13 faixas de WONDER, alicerçadas sobre batidas com assinatura de GOIAS, Migz, Ariel, FRANKIEONTHEGUITAR e Slow J, entre outros.
[De La Soul] Cabin In The Sky
São quase quatro décadas de actividade de um trio que passou a dupla de forma forçada força devido ao desaparecimento precoce de Trugoy the Dove em 2023. Mas graças ao material que já tinham gravado, é na sua formação completa que voltam aos lançamentos para chegar ao 10º registo de longa-duração, nove anos após o anterior And the Anonymous Nobody…, de 2016. Os esforços de Nas através da sua Mass Appeal Records continuam a colher frutos no que toca ao reactivar carreiras de nomes lendários da esfera do hip hop e esta edição dos De La Soul é mais um capítulo de uma saga que este ano já nos trouxe discos de Slick Rick, Mobb Deep ou Ghostface Killah.
[Traz Água] Traz Água
Entre a nostalgia rítmica dos pátios de recreio, capturada nas melodias cristalinas e nas texturas vaporosas que evocam uma ingenuidade lúdica, e a pulsação electrónica contemporânea de Lisboa, que flui como o Tejo pelas ruas e clubes da cidade, Traz Água marca a estreia da dupla com o mesmo nome sob a alçada da Enchufada de Branko. Longe de ser um mero exercício de estilo, este EP de apresentação consolida uma amizade antiga, que leva já vários anos de impacto subterrâneo e colaborações de peso (incluindo com o próprio Branko), num projecto que se cola à particular identidade musical da capital portuguesa, mapeando com precisão os cantos da electrónica moderna sem nunca perder o pulso das percussões da diáspora que formam o substrato emocional mais profundo do par.
[Oneohtrix Point Never] Tranquilizer
Também dos artefactos do passado se faz música capaz de apontar ao futuro. Depois de se reencontrar com alguns CDs de samples comerciais dos anos 90, Oneohtrix Point Never partiu para a concepção deste novo Tranquilizer para voltar a inscrever um novo capítulo na sua ligação à pretigiada Warp Records. O sucessor de Again (2023) navega por águas inquietas, fundindo ondas sonoras etéreas com pianos límpidos, sopros de jazz atmosférico e pads digitais que provocam rupturas abruptas e fazem emergir texturas inesperadas. São 15 composições que conseguem provocar sensações de estranheza e caos, mas que, em simultâneo, também nos soam a algo familiar pelos detritos culturais desenterrados para dar vida a esta obra.
[Fabiano do Nascimento] Cavejaz
Em Cavejaz, Fabiano do Nascimento faz escorrer magia dos dedos ao manusear guitarras menos convencionais de sete e oito cordas. O músico brasileiro entrega-nos mais uma obra minimal com selo Leaving Records, na qual recupera tradições afro-brasileiras para desenvolver 13 faixas vanguardistas que vão também beber à inesgotável fonte do jazz. O título, sugerido pelo amigo e colaborador Sam Gendel, que assina a capa deste trabalho, aponta para isso mesmo: é música orgânica e livre que podia muito bem ser uma nascente de água a brotar no escuro silêncio de uma caverna perdida na floresta.