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Texto: ReB Team
Fotografia: Salomé Gomis-Trezise
Publicado a: 15/11/2024

Paisagens sonoras que vão de África à América Latina.

Sexta-feira farta: novos trabalhos de Pa Salieu, Chek1, Rauw Alejandro, Monsta ou Cordae

Texto: ReB Team
Fotografia: Salomé Gomis-Trezise
Publicado a: 15/11/2024

Viajar sem ter de sair à rua e enfrentar o frio é fácil quando se tem música disponível. E se for nova, melhor ainda. Escolham a vossa poltrona favorita, liguem as colunas num volume agradável, fechem os olhos e deixem-se embalar pelas frequências que vão das ruas portuguesas às norte-americanas, das tapeçarias sonoras da América Latina aos swings herdados do continente africano. São 7 os álbuns hoje aqui destacados que merecem toda a vossa atenção.

Para lá do que as nossas mãos escrevem, há muito mais para descobrir num dia carregadíssimo de lançamentos inéditos: YANKEMA (coisas que o cupido disse), MANILA (Domingo à tarde), MaZela (Desgostos em Canções de Colo), anaiis & Grupo Cosmo (anaiis & Grupo Cosmo), Tiago Nacarato & Cainã Cavalcante (Beira Mar – Live), 070 Shake (Petrichor), Alé Araya (INTUITION), Warmduscher (Too Cold To Hold), SHOLTO (Letting Go of Forever), Mary J. Blige (Gratitude), Blvck Svm (michelinman), STAR BANDZ (Estrella), Maxo Kream (Personification), Becky and the Birds (Only Music Makes Me Cry Now), Roper Williams (Too Beautiful to Die), Fazerdaze (Soft Power), Blanco (Gilberto’s Son), St. Vincent (Todos Nacen Gritando), Will Cherry (Somewhere in Ohio…), Merely & Malibu (Essential Mixtape), Dawuna (Naya), Dave East & AraabMuzik (Living Proof), FLO (Access All Areas), Kwengface (A Gangster’s Holiday), Actress (Дарен Дж. Каннінгем), Ganavya (Daughter of a Temple), Johnny Coley (Mister Sweet Whisper), Helena Hauff (Multiply Your Absurdities), Big Sad 1900 (1937 South Corning St), Homer (Ensatina) e Trees Speak (TimeFold) dão pano para mangas neste final de semana.


[Pa Salieu] Afrikan Alien

O sucesso chegou-lhe cedo e alguns dos seus primeiros temas, como “Frontline” e “My Family”, tornaram-se verdadeiros hinos nas ruas do Reino Unido. Não demorou a lançar o primeiro álbum em 2020, Send Them to Coventry, mas dois anos depois viu-se a contas com a justiça e acabou sentenciado a 33 meses de prisão. Em Setembro passado, Pa Salieu regressou à liberdade e carregou a fundo no acelerador para rumar ao segundo registo de longa-duração, impressionando desde logo com “Belly”, o primeiro e viciante single de antecipação desse projecto que hoje vê a luz do dia. Afrikan Alien é das melhores amostras que podemos colher desse caldeirão cultural que é a Inglaterra, com o artista de 27 anos a mostrar uma singular abordagem ao hip hop a partir das suas origens africanas.


[Chek1] SINAIS

É uma das mentes inquietas que habitam no covil de Enigmacru, mas mostra agora uma outra face no seu LP de apresentação. E esta outra face tem muitos tons. Em SINAIS, Chek1 não se despede por completo dos surtos líricos a que nos habituou em dupla com Each1, mas o registo autobiográfico fá-lo navegar até outras coordenadas do seu “eu”, tocando em temas como o amor, a amizade ou as rotinas diárias, ao mesmo tempo que navega sobre um alargado espectro de batidas — das mais sombrias às mais solares.


[Rauw Alejandro] Cosa Nuestra

Entre a primeira linha dos mais sonantes nomes da nova pop da América Latina está Rauw Alejandro, artista nascido em Porto Rico que tem vindo a somar números impressionantes nesta era do streaming. A sua ética de trabalho é directamente proporcional ao caracter viciante da sua música e Cosa Nuestra é já o seu quinto álbum, número pesado numa caminhada que já o levou a contracenar com algumas das maiores estrelas do planeta — de Pharrell Williams a Shakira. Alejandro mostra-se mais maduro no sucessor de PLAYA SATURNO (2023), onde explora as habituais cadências do reggaeton e do trap, ao mesmo tempo que mergulha nas tradições mais profundas da sua própria cultura. Bad Bunny, Pharrell Williams e até Laura Pausini são três das muitas colaborações sonantes que aqui regista.


[Monsta] NADA É COMO ANTES

Quando o clima fica tenso, NADA É COMO ANTES. Monsta vem sem papas na língua nos primeiros minutos do seu novo projecto e aponta a mira a diversas cabeças, deixando desde logo patente no tema de abertura: “Eu vou ser para sempre um problema no rap lusófono.” Os versos sagazes de singles como “TIJOLOS” e “MISSA A METADE” já tinha provocado danos por cá, com Paulo Pena a dar-lhes o merecido destaque na sua coluna Rap PT — Dicas da Semana, mas o resto do trabalho vem agora mostrar-nos um outro lado mais introspectivo da escrita do rapper, que aqui divide o microfone com Edgar Domingos, Phedilson ou Van Sophie.


[Cordae] The Crossroads

Cordae desde cedo mostrou ser dono de uma sensibilidade quase ímpar quando comparado com os restantes MC que integram a sua geração. Tem crescido a olhos vistos nos últimos anos e os seus dois primeiros LPs foram impactantes o suficiente para hoje em dia ser um dos nomes mais bem cotados dentro do hip hop norte-americano. Uma caneta recheada de tinta e beats com uma musicalidade acima da média voltam a colocar a fasquia lá no alto neste fresquíssimo The Crossroads, onde consegue ainda reunir um invejável elenco que vai de Kanye West e Lil Wayne a Anderson .Paak ou Joey Bada$$.


[Cavalier & Child Actor] CINE

A entrada na Backwoodz Studioz fez-lhe bem. Cavalier está na casa editorial perfeita para expressar a sua poesia urbana e isso reflecte-se logo no volume de trabalho que apresenta ao público. Depois rubricar a solo Different Type Time em Abril passado, tem agora o apoio de Child Actor na produção integral de mais um trabalho. CINE é um conjunto de 10 películas cinematográficas em modo de rap, onde Cavalier relata aquilo que sente e vê nas ruas, sem filtros e em tons de sépia. Ao seu lado nesta aventura, dois heróis do lado mais indie do hip hop: Quelle Chris e E L U C I D emprestam a sua voz enquanto features.


[Caixa Cubo] Modo Avião

A descrição no Bandcamp aponta Modo Avião como “uma sublime expedição do Brasil até ao céu”. E é provável que seja nesse mesmo pedaço de céu a que apontam os Caixa Cubo que mora um tal sítio a que muitos chamam de paraíso. O trio formado por Henrique Gomide (teclados), João Fideles (bateria e percussão) e Noa Stroeter (baixo) destila exotismo e executa com a maior das habilidades um jazz-funk de fusão que nos faz puxar a cassete atrás até à década de 70, honrando com distinção aquilo que se entende por música instrumental brasileira ao longo de 13 nuvens sonoras.

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