Do mais clássico ao mais moderno; das rimas ásperas e cruas aos poemas leves e sonhadores; da produção tradicional fortemente alimentada por samples às batidas mais esquizofrénicas que só a era digital é capaz de oferecer. Hoje temos uma mão-cheia de discos de hip hop que certamente conseguem agradar a gregos e troianos nesta Sexta-feira farta e, pelo meio, uma fornada de música electrónica para dançar vinda de um entusiasmante novo projecto colaborativo.
Se estiverem com a sensação de que este é um dia monótono, garantimos que é mesmo só isso: uma mera sensação. Podem comprová-lo através dos muitos outros lançamentos protagonizados por LZ & YeezYuri (10 DE 10), Carminho (Eu Vou Morrer de Amor ou Resistir), Neon Soho (SHALL WE BEGIN), Jimmy P (Prova Viva), Diogo Piçarra (D≡Z), Gab Ferreira (Carrossel), Tori (Areia e Voz), Khalid (after the sun goes down), Amber Mark (Pretty Idea), Ino Casablanca (EXTASIA), Blawan (SickElixir), Kent Jamz (fear), Brian Eno & Beatie Wolfe (Liminal), DJ Swisha (FIRST HAND SMOKE), PinkPantheress (Fancy Some More?), St. Paul & The Broken Bones (St. Paul & The Broken Bones), Depresión Sonora & Bb trickz (DSxBB), Alison Shearer (In The Garden), Bale (Ghetto Gold), Not for Radio (Melt), BIA (BIANCA), Don Was and the Pan-Detroit Ensemble (Groove in the Face of Adversity), HAAi (HUMANiSE), Feeo (Goodness), Hollie Cook (Shy Girl), Charles Lloyd (Figure In Blue), Jacob Collier (The Light For Days), Yara Asmar (everyone I love is sleeping and I love them so so much), The Orb (Buddhist Hipsters) e Emily A. Sprague (Cloud Time).
[Mobb Deep] Infinite
O 9º álbum dos Mobb Deep é o primeiro a ser lançado após a morte de Prodigy, em 2017. As rimas deixadas gravadas pelo rapper de Nova Iorque já lhe tinham valido a edição de um disco póstumo a solo, The Hegelian Dialectic 2: The Book of Heroine, mas a quantidade era suficiente para, pelo menos, voltar a oferecer às ruas mais um trabalho assinado juntamente com Havoc, sendo que neste Infinite também The Alchemist está metido ao barulho em algumas das produções. O esforço de Nas, através da sua plataforma Mass Appeal, em promover as grandes lendas do hip hop da Costa Este continua a dar frutos e este LP é mais um importante testemunho de um dos grupos mais adorados de todos os tempos, a quem se juntam também convidados como os Clipse, Jorja Smith, Ghostface Killah, Raekwon ou o próprio Nas.
[Da Chick] Up In The Clouds
Up In The Clouds é o voo mais alto e introspectivo de Da Chick até hoje, um álbum em que o groove ganha alma e tem a leveza como filosofia. Totalmente produzido pela própria artista, o longa-duração é um manifesto de independência traduzido em som e conjuga a sofisticação da soul e do jazz com uma vibração solar e a habitual cadência do hip hop. Cada faixa é como que um capítulo de auto-descoberta ou um retrato de um estado de espírito. Estão todos convidados para olhar o mundo lá de cima, onde o amor, o ritmo e a paz se encontram numa mesma frequência.
[VIER] IIII
VIER é sinónimo de Machinedrum, Holly, Thys e Salvador Breed — todos ao molho e fé na batida. IIII é o resultado do esforço colectivo entre estas quatro entidades que têm dado cartas em diferentes campos da música electrónica e tem como principais rostos o americano Machinedrum e o português Holly, eles que já têm vindo a trabalhar algumas vezes juntos nos últimos anos, em especial no álbum do primeiro para a prestigiada Ninja Tune em 2020, A View Of U. Miguel Oliveira está em todas — seja a esculpir um trabalho digno de Grammy ao lado de Baauer ou a servir rappers como Danny Brown ou Slow J — e neste IIII volta a alimentar o circuito da IDM com 10 malhas colaborativas que vão da bass music ao drum & bass e ao garage.
[Princess Nokia] GIRLS
Começa num breve trecho de techno com o anúncio de “Girl FM #1” e, a partir daí, é toda uma viagem à boleia da nave de Princess Nokia. Do hip hop mais tradicional ao trap metal, passando por diferentes nuances de R&B, pop e electrónica de dança, GIRLS é uma celebração multifacetada da identidade feminina — um hino tanto às suas sombras quanto às suas luzes que demonstra a versatilidade da sempre eclética MC de Nova Iorque. Sem temer escavar as camadas mais complexas do seu “eu”, Princess Nokia constrói aqui um conceito que une beleza e estranheza numa só voz ao quinto LP da carreira.
[TiaCorine] CORINIAN
Em 2022, TiaCorine arrancou com uma trilogia de discos com I Can’t Wait e logo captou a atenção da Interscope Records, que prontamente selou o segundo capítulo Almost There um par de anos depois. CORINIAN vem encerrar essa saga e mostra-nos a rapper na sua mutação final, já a dominar totalmente a arte de criar canções de rap estranhamente viciantes. Pujança é algo que não falta e sente-se um swing digital bem gostoso ao longo dos 17 temas do disco, para os quais contribuíram produtores como Kenny Beats, Hit-Boy ou 0txoa, bem como um interessante leque de convidados que vai de Smino a Wiz Khalifa.
[The Cool Kids] Hi Top Fade
Chuck Inglish e Sir Michael Rocks andaram a investir nas suas carreiras a solo antes de reactivarem o projecto The Cool Kids em 2017, sendo que hoje já somam quase duas décadas de história. Mas agora a dupla parece ter vindo mesmo para ficar e Hi Top Fade é já o seu 5ª registo de longa-duração desde o regresso à actividade. São 15 temas repletos de rimas e batidas cuidadosamente esculpidas com a maturidade de quem já leva muitos anos de experiência e prestam homenagem às diferentes formas que o hip hop adoptou ao longo da sua cronologia — da estética clássica da golden age aos bounces mais modernos da era digital.