No primeiro dia de Agosto, a indústria musical mostra-se avessa a férias e continua a carburar como se o calor não pedisse praia e descanso. E esta sexta-feira até é particularmente proveitosa, não tanto pelo número de projectos em destaque — são seis os discos sobre os quais nos debruçamos nos parágrafos que se avizinham — mas mais pela diversidade que representam, exibindo o hip hop nas suas várias formas e passando por batidas dançáveis, R&B de vanguarda ou jazz que não responde a dogmas. Sentem-se, apertem os cintos e deixem-se levar.
Se tiverem combustível para mais, convidamo-vos ainda a espreitar o que lançaram Russo (Better Than None), Nite Chimp (Mold Scare), Isak + Zigarro & Armando Teles (Super Brega), Kmila Cdd (Quebra-Cabeça), Burial (Comafield / Imaginary Festival), demahjiae (what do you hear when you pray?), Mal Devisa (Palimpsesa), Debby Friday (The Starrr Of The Queen Of Life), Ali Sethi (Love Language), Saweetie (HELLA PRESSURE), Maya Unagi (Pieces), Hieroglyphic Being (THE SOUND OF SOMETHING ENDING), Yeat (DANGEROUS SUMMER), Juicy J (Head On Swivel), Marigold (MR. NOBODY), AraabMuzik (Electronic Dream 2), Sofia Kourtesis (Volver), 24HRSnTOKYO (24HRS In TOKYO 2), BabyTron (Luka Troncic 2), wolfacejoeyy (SUMMERSONGS), Desiigner (ii), René Najera (Painted Life) e Dev Lemons (SURFACE TENSION).
[Maze] O Eremita
Mais do que um mero álbum, O Eremita é o diário de um retiro interior numa jornada de sobrevivência criativa. Nascido em 2019, atravessando o período da reclusão forçada durante a pandemia de COVID-19, o disco revela Maze como um rapper maduro e de regresso à sua essência: a da composição em estado bruto, com o silêncio como aliado e longe de pressas. São 19 faixas produzidas pelo próprio, com versos captados a partir de um microfone emprestado por Mike Ghost, feitos de uma urgência visceral que atravessa memórias, fantasmas, milagres e vazios. Com misturas assinadas por Pi, as canções amadureceram no arquivo de Maze e vêem hoje a luz do dia, mostrando o lado mais vulnerável e cristalino do veterano MC dos Dealema.
[$uicideboy$] Thy Kingdom Come
Os $uicideboy$ chegaram ao sexto álbum, Thy Kingdom Come, que foi hoje selado pela sua própria editora G*59 Records. São 10 faixas carregadas de um rap sombrio e visceral, com a dupla de Nova Orleães, formada por $crim e Ruby da Cherry, a manter-se fiel às sua raízes, recorrendo a batidas pesadas, rimas cruas e a uma aura que tanto evoca desespero como uma certa tensão quase cinematográfica. Sem sair deste universo, o par recruta BONES e Night Lovell como únicos convidados, eles que também vão fazer parte da próxima Grey Day Tour, que começa a 5 de Agosto e vai levar os $uicideboy$ a percorrer dezenas de arenas e anfiteatros na América do Norte.
[DJ Helviofox] ESTÁ ACONTECERÉ
Em ESTÁ ACONTECERÉ, DJ Helviofox consolida-se como um talento emergente da batida lisboeta, cultivada na Quinta do Mocho com influências angolanas e envolta num diálogo musical híbrido entre kuduro, house e R&B. As sete faixas presentes no alinhamento combinam sons arquivados dos últimos anos e composições totalmente novas, contando ainda com convidados como MONICA, DJ Sallah, DIIONYG e V3.
[Mansur Brown] Rihla
Ao longo dos anos, Mansur Brown foi-nos habituando a tapeçarias sonoras sem rótulos, onde guitarra, electrónica aventureira, rock alternativo, explorações dançáveis e R&B futurista se fundem sem hierarquia, guiados apenas pela honestidade emocional que lhe permite a sua liberdade criativa. Rihla (que quer dizer “jornada” em árabe) não foge desse parâmetro e funciona como um testemunho autobiográfico do próprio alquimista musical londrino, que assegurou toda a composição, interpretação e produção do sucessor de Heiwa (2021). Introspectivo e expansivo em igual medida, Rihla é uma viagem musical que não podem perder.
[Metro Boomin] Metro Boomin Presents: A Futuristic Summa (Hosted by DJ Spinz)
Numa audaz reimaginação do legado do trap, Metro Boomin convida-nos a revisitar os sons que tomaram conta de Atlanta no arranque do presente milénio e que estiveram na base de uma revolução musical que mudou não apenas o curso do hip hop, mas da própria pop. Apresentada pelo lendário DJ Spinz, a mixtape combina nostalgia — dos voicemails aos sons do MySpace — com produção afiada e cheia de bounce, sempre com o rigor técnico associado ao artista nascido Leland Tyler Wayne. Como se de um desfile de estrelas se tratasse, A Futuristic Summa reúne ainda inúmeros colaboradores de peso como T.I., Waka Flocka Flame, Gucci Mane, Lil Baby, Quavo ou Young Thug.
[Rodrigo Amado & Chris Corsano] The Healing
No dia em que mergulhámos a fundo na sua discografia através de um longo ensaio assinado por João Esteves da Silva, Rodrigo Amado fez surgir na sua página no Bandcamp o LP The Healing, um segundo capítulo da dupla que o saxofonista português mantém com o baterista norte-americano Chris Corsano. Este registo sucede a No Place To Fall (2019), uma das obras destacadas na referida peça como sendo “um dos registos mais virulentos de Amado, aproximando-se das vertentes mais incendiárias do free jazz”, e consiste numa gravação ao vivo de um lendário concerto do par na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, no ano de 2016. Envolto numa capa desenhada por Rui Moreira, The Healing serve de primeiro passo na reactivação da European Echoes, editora que Rodrigo Amado fundou e manteve entre 2006 e 2009.