O hip hop nacional esta a respirar e bem, com projectos oriundos das mais diversas camadas da cultura — do underground ao mainstream — a aterrar nas plataformas digitais ao dia de hoje. Aos devaneios de ODm_ (Soundcheck) e Phedilson (Phedilson) soma-se o experimentalismo dos 10/16 (all i see is blur), o manifesto feminista de MAR (BADDIEFEST, Vol. 1) e o trap assente em ecos da urbe de SleepyThePrince (003), LEO2745 (RUA OU GLAMOUR) e 608 Records (608’s & 808’s).
Dia cheio este, portanto, que, aliado à necessidade marcar presença noutros pontos do país, nos faz reduzir ao mais essencial e virar as atenções a quatro projectos internacionais que contam com discos novos, todos eles capazes de levantar ondas por entre a imprensa da especialidade a uma escala global. Contamo-vos tudo nos parágrafos mais abaixo.
Só assim já parece muito? É verdade. Mas não se espantem se vos dissermos que há muito mais por onde navegar nesta maré de lançamentos de 27 de Setembro: Linda Martini (Tudo E O Seu Contrário), IRMA (Twala Kumoxi), Inóspita (E nós, Inóspita?), Baiuca (Barullo), HEDO HYDR8 & Muskila (C), Dead Players (Faster Than the Speed of Death), Wiseboy Jeremy & Kirti Pandley (Pumpkin Seeds), RiTchie (Quiet Warp Express), Merca Bae (Amuleto), Rob Mazurek – Exploding Star Orchestra (Live at the Adler Planetarium), Kate Bollinger (Songs From A Thousand Frames Of Mind), Daniel Herskedal (Call For Winter II: Resonance), José James (Amsterdam 2024), Bilal (Adjust Brightness), Alan Sparhawk (White Roses, My God), William Basinski (September 23rd), Depart (Yours Truly), Monaleo (Throwing Bows), Xiu Xiu (13″ Frank Beltrame Italian Stiletto with Bison Horn Grips), Rahim Redcar (Hopecore) e Sun Araw (Lifetime) também editaram música nova.
[Ezra Collective] Dance, No One’s Watching
A rota do novo jazz britânico é quase impossível de escapar de tão vibrante que se tem vindo a apresentar. Joe Armon-Jones, Femi Koleoso, TJ Koleoso, James Mollison e Ife Ogunjobi dão vida aos Ezra Collective, umas das bandas mais plurais dentro deste entusiasmante movimento artístico, que ao terceiro álbum vão directos ao assunto logo no título escolhido: Dance, No One’s Watching. Das mais calmas “Palm Wine” e “N29” às mais frenéticas “The Herald” e “Ajala”, dá para movimentar o corpo de todas as maneiras possíveis, a sós ou acompanhados. São cadências que vão do hip hop ao afrobeat em tela de fundo assumidamente azul, para a qual contribuem também Olivia Dean ou Yazmin Lacey.
[SOPHIE] SOPHIE
Infelizmente, já não está entre nós para celebrar mais uma obra em seu nome, mas quiseram os amigos, familiares e colaboradores próximos que a estética de SOPHIE não ficasse esquecida no presente. O homónimo SOPHIE é um LP que nos amarra à pista de dança em ambiente de rave e prima por batidas desconcertantes, texturas glitch, ambiências carregadas de efeitos e um ambicioso leque de convidados, que vai desde Nina Kraviz a Evita Manji ou Kim Petras.
[Tommy Richman] COYOTE
É um dos nomes incontornáveis deste ano de 2024, estatuto que alcançou à boleia do super-single que é “MILLION DOLLAR BABY” — se não o escutaram ainda, é porque andaram os últimos meses fechados numa bolha. Com direito a airplay, cobertura e colocação em playlists um pouco por todo o mundo, a expectativa seria obviamente grande para ver como se safava Tommy Richman num longa-duração. Pois bem, o jovem que conquistou um lugar na ISO Supremacy de Brent Faiyaz não desiludiu em COYOTE, um disco bem festivo que assenta na ideia de um funk modernaço, pleno de groove e sintetizadores, que vai também beber aos campos do hip hop mantendo uma toada digna dos 80’s. São 11 faixas dignas de serem tocadas à noite numa viagem de carro à beira-mar sob luzes neon a ver palmeiras a passar.
[Mustafa] Dunya
A Jagjaguwar, etiqueta norte-americana que se tem especializado num certo tipo de folk de vanguarda, viu em Mustafa um diamante suficientemente valioso para o incorporar num catálogo onde cabem nomes já consagrados como Bon Iver ou Angel Olsen. O canadiano de ascendência sudanesa já tinha impressionado em 2021 com a sua sensibilidade poética e musical acima da média em When Smoke Rises, alcançando desde logo contributos de artistas como James Blake, Jamie xx, Sampha ou Dom Maker. Desta vez, ao segundo álbum, Dunya, volta a ter colaboradores de alto calibre, como são os casos de ROSALÍA, DJ Dahi ou Nicolas Jaar, alcançando um total de 12 faixas que aproximam a tradição musical das suas raízes com uma estética urbana contemporânea que anda de mãos dadas com a electrónica.