De Mirror People já nos chegou Desert Island Broadcast, que prontamente foi abordado por cá com uma entrevista ao líder do projecto, Rui Maia. Seguimos para a habitual dose de destaques administrada pela nossa redacção, que hoje lança um olhar mais crítico sobre sete novos registos de longa-duração. Há estrelas pop, ícones do rap, electrónica de balanços vários e diferentes visões de swing por entre as obras que vão poder encontrar no decorrer desta peça.
Se precisarem de reforçar a dose, não se esqueçam que também GUIMA & Vilas Boas (Nova Era),RAIA (Uádi), Tasha & Tracie (Serena & Venus (Lado A)), HUMAN ERROR CLUB + Kenny Segal (HUMAN ERROR CLUB AT KENNY’S HOUSE), ZelooperZ (Dali Aint Dead), Automatic (Is It Now?), Cardo Got Wings (Sigan Viendo), Sven Wunder (Daybreak), Rochelle Jordan (Through the Wall), Olivia Dean (The Art of Loving), Rauw Alejandro (Cosa Nuestra: Capítulo 0), Tom Skinner (Kaleidoscopic Visions), Denzel Himself (Bunny), Dexter Fizz (Head Caught Fire), Chuuwee (FEAR…LESS), Jay Worthy (Once Upon A Time), Bitchin Bajas (Inland See), crushed (no scope), Piotr Kurek (Songs and Bodies), Mulatu Astatke (Mulatu Plays Mulatu), Gary Bartz Ntu Troop (The Eternal Tenure of Sound: Damage Control), M. Sage (Tender / Wading), Peter Evans + Being & Becoming (Images), Paul St. Hilaire (w/ The Producers), Meklit (A Piece of Infinity) e Chris Williams (Odu: Vibration II) trouxeram novas propostas para este final de semana.
[Doja Cat] Vie
Há muito hip hop e R&B no trajecto que levou Doja Cat a ascender a um lugar de topo na cultura pop mundial e Vie, o quinto álbum da discografia da artista californiana, não esquece essas raizes, mas funde-as com outras tantas influências para tentar criar algo novo. Apoiada sobretudo em Jack Antonoff, o principal produtor do disco, Doja Cat recua até às décadas de 70 e 80 para retocar o seu som com um certo charme retro nas 15 faixas que compõem o alinhamento. Entre temas e amor ou de auto-aceitação, a MC e cantora aproveita ainda para dividir a luz dos holofotes com SZA, a única convidada em todo o projecto que surge para emprestar a sua voz a “Take Me Dancing”.
[Young Thug] UY SCUTI
O público ansiava pelo novo álbum de Young Thug, mas a vida não está fácil para o rapper de Atlanta. As últimas semanas têm, aliás, sido bem conturbadas, depois de várias chamadas telefónicas comprometedoras que fez a partir da prisão terem começado a surgir na esfera digital, deixando a sua posição no game bastante frágil pelo modo com que falou de certos amigos e colegas de profissão. É no meio deste caos que nos chega UY SCUTI, o quarto álbum de Yung Thug, que aqui transforma as dores, críticas e controvérsias em combustível rap para incendiar batidas cedidas por Metro Boomin, Southside, London on da Track ou Wheezy.
[Cais Sodré Funk Connection] Um Quarto Na Rua Cor De Rosa
É em jeito de manifesto de identidade e pertença que os Cais Sodré Funk Connection celebram 15 anos de estrada. Com o groove elevado à sua forma mais pura e pela primeira vez com temas cantados inteiramente em português, a banda transforma a sua locomotiva de funk e soul numa máquina afectiva em Um Quarto Na Rua Cor De Rosa, capaz de evocar tanto a energia contagiante das pistas de dança quanto a poesia urbana da rua lisboeta que os viu nascer. Ao todo, são dez as novas faixas reunidas aqui em disco, o primeiro em que NBC e TAMIN dividem o microfone em estúdio.
[XEXA] Kissom
Atmosferas densas, grooves que cintilam, ritmos dançantes e momentos de introspecção. Kissom, o novo álbum de XEXA, tem tudo isso e é uma amostra perfeita do amadurecimento da artista da Quinta do Mocho radicada em Londres. Desconstruir para criar algo novo parece ser o motto da DJ e produtora, que assina neste registo um conjunto de dez malhas assentes num conceito de exploração rítmica que quebra com quaisquer tipo de padrões. Na semana passada, XEXA passou pelas páginas do Rimas e Batidas para falar mais a fundo sobre este Kissom.
[MXGPU] Sudden Light
A pista de dança transforma-se em espaço de comunhão e catarse quando MXGPU são chamados a prestar serviço. Moullinex e GPU Panic têm provado isso mesmo nas suas inúmeras prestações conjuntas, mas chegam agora ao ponto de rebuçado com a edição do primeiro LP a quatro mãos, Sudden Light, pela Discotexas. São 11 canções que exploram a possibilidade de uma electrónica íntima, sensorial e colectiva, inspiradas por Suzanne Ciani e James Turrell, mas também pelo brilho digital dos anos 90.
[Hugo Danin] Sonologues
Em Sonologues, Hugo Danin mergulha fundo numa ideia de diálogos musicais, com cada uma das suas 16 músicas — à excepção da intro e do outro — a resultarem de um encontro entre a sua bateria e um outro instrumento de um dos muitos convidados. Aqui podemos escutar as “conversas” entre as peles e os metais de Danin e o acordeão de João Barradas, os teclados de Azar Azar, o vibrafone de Eduardo Cardinho ou o trompete de Gileno Santana. É jazz nas suas mais diversas formas — do tradicional e sublime ao mais rockado e matemático — que dentro de breve contará também com uma edição física em vinil levada a cabo pela Now Jazz Agora.
[O Mau Olhado] Os Cães Ladram
Os Cães Ladram e a caravana de O Mau Olhado passa alegremente, contangiando-nos com a sua música. Está encontrada a estreia do projecto do portuense João Cardoso no registo de longa-duração, que traduz para linguagem de estúdio o lado nómada e imprevisível que tem vindo a semear nas ruas com as suas actuações pop-up. Do fado ao jazz e ao flamenco, entre temas originais e reinvenções de canções tradicionais, O Mau Olhado esbate aqui qualquer noção de fronteira sonora com um disco mestiço e carregado de técnica à guitarra e improviso.