O MEO Kalorama arrancou ontem com mais edição — a primeira reportagem já cá mora — e, a partir de hoje, o Rimas e Batidas desdobra-se também pelo Sabura Festival, do qual faremos aqui chegar de igual forma os relatos de tudo o que se vai passar em Sesimbra. Entre as andanças, as edições não nos dão tréguas e obrigam a uma paragem para reflectir sobre tudo aquilo que de novo está a aterrar no mercado discográfico.
Além dos 6 discos por aqui evidenciados, há também a ter em conta os projectos editados por Leviano (Acorde E Fique Rico), Phl Notunrboy (Hora do Rock), Laíz & The New Love Experience (Mena), Evil (Obedience), John Legend (My Favorite Dream), Strick (ALL TIME HIGH), Kofi & Baelei (LOHDAON), Destroy Lonely (LOVE LASTS FOREVER), Tank & the Bangas (The Heart, The Mind, The Soul), Base Hollow (Winner’s Circle), Seefeel (Everything Squared), VIC ROSE (From Where To Eternity), Ellen Reid (Big Majestic), Daniel Herskedal (Hope), Laurie Anderson (Amelia), Los Bitchos (Talkie Talkie), Chelsea Wolfe (Undone EP), Lotus (Synthbuljong) e Coco & Clair Clair (Girl).
[Doechii] Alligator Bites Never Heal
É a estreia de Doechii num disco de longa duração. A rapper da TDE, natural da Florida, autoproclamada “swamp princess”, apresenta-se à séria com uma mixtape onde explora os seus dotes líricos mas também melódicos, com uma energia confiante e uma ambição pop que torna o seu trajecto cada vez mais promissor. Do estrelato crescente conquistado nos últimos anos às relações pessoais, passando pelos vícios ou pelas percepções em torno do sucesso, Doechii aborda uma série de temas ao longo de 19 faixas. Do lado narrativo de “Bullfrog” aos versos frenéticos de “Boom Bap”, a MC mostra que tem argumentos e versatilidade para dar e vender no trabalho mais elaborado feito até agora.
[Big Sean] Better Me Than You
Big Sean está de volta com o seu primeiro álbum em quatro anos. Better Me Than You é o sexto disco de estúdio do rapper de Detroit e já está a ser aclamado por várias publicações especializadas como o trabalho mais maduro e elaborado do seu percurso. Ao todo, são 21 faixas onde o MC de 36 anos reflecte sobre a sua vida e se apresenta amadurecido. Ao longo dos últimos meses, Big Sean revelou aos fãs que o processo de construir e aperfeiçoar o disco estava a ser particularmente desgastante, o que evidencia o esforço e o tempo investido neste álbum. Embora tenha uma roupagem contemporânea, a maior parte dos temas são soulful e com um registo introspectivo. “Precision” acaba por ser um banger relativamente solitário. DJ Premier, The Alchemist, Teyana Taylor, Larry June, Bryson Tiller, Kodak Black, Ellie Goulding, Thundercat, Syd, Gunna e Charlie Wilson são alguns dos muitos que contribuíram para o resultado final.
[Kehlani] While We Wait 2
Entre o álbum CRASH, lançado em Junho, e a digressão internacional de apresentação do disco, Kehlani ainda encontrou tempo para orquestrar uma mixtape que funciona como um segundo volume de While We Wait. Com convidados como Vince Staples, Destin Conrad, FLO ou Ludmilla, entre outros, este é um projecto descontraído e soalheiro de R&B, gravado em duas semanas de Verão. Mais instintivo do que cerebral, promete vibrações relaxantes e despreocupadas, vozes suaves sobre instrumentais aveludados.
[Jon Hopkins] RITUAL
Apresentado como um contraponto para o seu último álbum, Music For Psychedelic Therapy (2021), e inspirado pela trilha sonora que compôs para a experiência imersiva “Dreamachine” em Londres, RITUAL é uma jornada electrónica de 41 minutos que está dividida por partes, mas que é uma viagem só. Trata-se de uma sinfonia dreamy movida a melodias transcendentais e subgraves cavernosos. Evoca uma energia primária que alude ao divino e reflecte a trajectória de um herói pela sua libertação espiritual, com uma série de contrastes sonoros e profundidades distintas. Tanto é suave como intenso, ao nível sonoro, mas também emocional. Vylana, 7RAYS, Ishq, Clark, Emma Smith, Daisy Vatalaro e Cherif Hashizume são colaboradores habituais que participam neste novo projecto de Jon Hopkins.
[Alexandre Centeio] Silvo
O terceiro álbum de Alexandre Centeio acaba de ser editado pelo Colectivo Casa Amarela. Silvo é mais uma peça de música experimental orquestrada entre melodias e ideias e estruturas abstractas, explorando a dissonância, a falha, o ruído e uma série de texturas variadas ao longo de uma dúzia de faixas que acabam por compor uma narrativa musical. Graças à sua densidade e aos muitos (e diferentes) elementos presentes, vários dos temas evocam sensações de implosão ou mesmo sufoco. Música sensorial e exploratória para quem sente a urgência de desbravar novos caminhos sonoros.
[Tycho] Infinite Health
Vanguardista da electrónica, este é o sexto álbum do projecto do compositor e produtor norte-americano Scott Hansen. Editado pela Ninja Tune a nível global, Infinite Health é um disco espiritual e positivo, que deposita esperanças no futuro e se reconcilia com o passado, que manifesta desejos de cura, bem-estar e reflexão — seja na dimensão da saúde mental, física ou nas relações que temos com os outros. Em termos sonoros, este mantra foi construído com um certo regresso a uma produção mais electrónica, feita de elementos rítmicos e breaks, em que os samplers de Tycho voltam a ganhar preponderância. A instrumentação acrescentou outras camadas numa fase posterior.