Uma catadupa de emoções na mais recente coleção de discos à sexta-feira. Há drama encenado por Rodrigo Amarante, revivalismos de rock alternativo pela mão de WILLOW, a busca pela identidade perdida de Chet Faker, um rápido espectáculo de Yves Tumor, uma celebração póstuma de Pop Smoke e ainda uma trama alienígena de Kai Whiston. E nem entramos em detalhe sobre os álbuns de Linn da Quebrada (Trava Línguas) e Clairo (Sling)…
[Chet Faker] Hotel Surrender
Nick Murphy já foi Chet Faker, já foi Nick Murphy e volta agora a ser Chet Faker. Quer isto dizer que Hotel Surrender sucede ao inesperado êxito de Built on Glass – com o qual esgotou o Coliseu dos Recreios em 2015 – ou aos menos bem recebidos Run Fast Sleep Naked e Music for Silence de 2019 e 2020? Entre todos os projectos há um fio condutor: uma sincronia de soul descomprometida entre a eletrónica e o acústico.
[Rodrigo Amarante] Drama
Quando deixou de ser Hermano a tempo inteiro, o músico carioca Rodrigo Amarante mudou-se para Los Angeles e cultivou a companhia de Devendra Banhart, Norah Jones e uma liga de cantautores em que parecia começar a ingressar. Uma pandemia não o irá parar: depois da sua chegada a Cavalo em 2014, o sensível e expansivo Drama é o seu segundo disco a solo, com a ajuda do produtor Noah Georgeson.
[Pop Smoke] Faith
Faith é o segundo trabalho póstumo do rapper Pop Smoke, falecido em fevereiro de 2020. Meses depois de Shoot for the Stars Aim for the Moon, chega-nos agora um trabalho com participações de Kanye West, Pharrell, Pusha T, Kid Cudi ou Dua Lipa. “Quando viste a palavra ‘Faith’ [fé] nesta capa, de certeza que achaste que isto era um álbum de gospel”, brinca Audrey Jackson, a mãe do artista desaparecido, na primeira faixa. Não é um conjunto de cânticos, mas é o prolongamento de uma vida com um ponto final prematuro.
[Kai Whiston] Drayan!
Sabemos que Kai Whiston é um produtor, compositor e cantor baseado em Londres; sabemos também que esta é a sua segunda mixtape, sucedendo ao álbum No World As Good As Mine de 2019. Mas quem é este Drayan merecedor de exclamação? É o filho híbrido, entre humano e extraterrestre (da civilização X’ziphursch VII, da galáxia Xeon), com 3037 anos de idade e só agora a chegar à angústia adolescente. Esta mixtape é, na verdade, um conjunto das transmissões musicais estrambólicas, serrilhadas e atmosféricas de Drayan. O que faz de Kai Whiston, na verdade, um impostor.
[Yves Tumor] The Asymptotical World
Um ano após o rock-soul psicotrópico de Heaven to a Tortured Mind, Yves Tumor tenta uma abordagem mais matemática. De quem, ao tender para infinito, se aproxima intimamente. Outro lançamento seu pela Warp, The Asymptotical World é um curta-duração mais directo e animado – e tão bizarro como sempre, na verdade. Produzido pelo próprio (sob o nome Sean Lee Bowie), por Chris Greatti (que tem ajudado a moldar a pop retorcida de Poppy, Slayyyter ou Grimes) e Yves Rothman.
[WILLOW] lately I feel EVERYTHING
O título ressoa com a hipersensibilidade adolescente que todos experimentamos, a primeira faixa evoca Paramore, a segunda é um take farrusco de rock de garagem, o resto é uma profusão de elementos de nu metal, shoegaze (digam lá que “naïve” não podia ser um inédito dos Slowdive) e tudo o que Willow esteja a sentir. De “Whip My Hair” a um disco com colaborações de Travis Barker dos Blink-182 e Avril Lavigne – se ainda querem duvidar do revivalismo do pop rock e territórios adjacentes, é para brincar.