Todas as semanas, uma nova colheita de música fresca — às vezes mais orgânica, nalguns casos mais processada — à sexta-feira. Neste feriado do 15 de Agosto, dançamos ao som de fusões electrónicas e hip hop, abanamos a cabeça ao ritmo do boom bap, inspiramo-nos com canções exploratórias de R&B ou ficamos pensativos enquanto escutamos rimas introspectivas de estudiosos da palavra.
Destacamos seis discos em detalhe nesta época de pleno Verão, mas há outras propostas por aí, nomeadamente projectos de Murs (Love & Rockets 3:16 (The Emancipation)), Rich Brian (WHERE IS MY HEAD?), Protect (500 Days of Summer), Recoechi (FLAVAZ) e Mondo Lava (Utero Dei).
[KAYTRANADA] AIN’T NO DAMN WAY!
Apenas um ano após TIMELESS, KAYTRANADA regressa aos discos com um trabalho que de alguma forma recupera as suas raízes na produção instrumental — um disco groovy virado para a pista de dança, que funde o hip hop e a electrónica com uma aura retro, muitas vezes evocando referências da música afro-americana das últimas décadas. Ao contrário dos seus restantes álbuns, não há cantores nem rappers convidados — as únicas vozes que vão pontuando esta música de assinatura são samples esporádicos, provenientes dos arquivos do produtor canadiano com raízes no Haiti.
[Gabe ‘Nandez & Preservation] Sortilège
Conheceram-se ao participarem em Aethiopes (2022), de billy woods, e desde então que o produtor e DJ de Nova Orleães Preservation começou a trocar ideias com o rapper nova-iorquino Gabe ‘Nandez. Três anos depois, eis o resultado: Sortilège é um disco noir, urbano e cinematográfico mas também aberto ao mundo (muito graças aos samples que servem de matéria-prima), em que os instrumentais densos de Preservation se tornam as paisagens ideais para serem habitadas pelas rimas encorpadas e flows contagiantes de ‘Nandez. Um disco clássico de rap que prova que, muitas vezes, menos é mais. O “padrinho” billy woods, Armand Hammer, Koncept Jack$on, Benjamin Booker e Ze Nkoma Mpaga Ni Ngoko dão contributos que só elevam mais a obra.
[Chance the Rapper] STAR LINE
É o primeiro álbum de Chance the Rapper em seis anos e o sucessor do seu longa-duração de estreia The Big Day (2019). STAR Line reúne 17 faixas que reflectem, segundo o artista, a jornada artística, pessoal e espiritual destes seus últimos anos. O disco foi construído com o produtor de longa data DexLvL e terá sido inspirado por viagens ao Gana, à Jamaica e a feiras de arte espalhadas pelo mundo. Um disco que vai beber à soul, que mantém raízes firmes em Chicago embora de horizontes alargados, e que inclui colaborações com nomes como Lil Wayne, Smino, Joey Bada$$, Vic Mensa, Young Thug, Jay Electronica, Jamila Woods e BJ The Chicago Kid.
[Evidence] Unlearning Vol. 2
Quatro anos volvidos desde o primeiro volume, eis que Evidence reaparece em cena — dias após ter actuado em Portugal — com o segundo volume de Unlearning. Não é, naturalmente, um projecto com ambições disruptivas — nesta fase da carreira do rapper norte-americano e tendo em conta que é assumido como uma sequência. Ainda assim, Evidence explora nuances distintas a cada trabalho, numa jornada introspectiva sem fim, onde há espaço para explorar emoções cruas e transformá-las em rimas certeiras através da sua mente criativa e jeito para as palavras. A sua voz e entrega, justamente conhecidas pela forma relaxada como soam, mantêm-se a grande força-motriz destas 15 faixas — onde cruza caminhos com The Alchemist, Larry June, Domo Genesis, DJ Babu ou Blu, entre outros.
[Dijon] Baby
Depois de se ter revelado um colaborador essencial em dois dos discos mais impactantes do ano — SABLE, fABLE, de Bon Iver; e SWAG, de Justin Bieber — Dijon atira-se agora à sua segunda aventura musical em nome próprio. O Baby do título refere-se ao seu filho, pelo que este disco é um trabalho que reflecte sobretudo sobre a paternidade e tudo o que essa nova fase da vida implica. Musicalmente, Dijon mantém a sua base num R&B autoral e experimental que muitas vezes incorpora elementos de glitch e avant pop. Certo é que cada canção é uma exploração diferente, o que mantém o processo sempre estimulante e surpreendente, e têm sido essas as valências que tantos outros têm reconhecido no compositor e cantor de Baltimore.
[Joey Valence & Brae] HYPERYOUTH
Apenas dois dias depois de se terem estreado nos palcos portugueses com um concerto no Vodafone Paredes de Coura, a dupla norte-americana de Joey Valence & Brae lança o seu terceiro álbum — que chega, de rajada, logo após PUNK TACTICS (2023) e NO HANDS (2024). Enérgicos e intensos, repletos de referências à cultura pop e versos satíricos, o duo faz lembrar os Beastie Boys com o seu rap aguerrido e barulhento (no bom sentido) só que com um som actualizado — mesmo que, frequentemente, pisquem o olho à nostalgia. JPEGMAFIA, TiaCorine e Rebecca Black são os convidados deste terceiro disco.