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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 15/12/2020

Trabalhos que não podem ficar retidos em 2020.

Seba Kaapstad: “A única certeza que temos é que as nossas paixões vão-nos levar a lugares verdadeiros”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 15/12/2020

São um segredo ainda bem guardado, mas espera-se que, ao segundo disco editado pela Mello Music Group, Konke, os Seba Kaapstad se transformem numa boa surpresa para todos aqueles que procuram um projeto em que boas mensagens se entrelaçam com muito ritmo. Nem o título do álbum, nem o nome do projeto deixam margens para dúvidas; aqui há África, há ginga, mas também rimas quentes, sensibilidade neo-soul e um olhar presente do mundo, não fosse este um projecto multicultural que envolve elementos oriundos da Alemanha, da África do Sul e da Suazilândia, contando ainda com participações especiais directamente dos Estados Unidos. Uma sopa de culturas que, naturalmente, afecta o som da banda, tal como nos confidenciou Sebastian Schuster (Seba), membro fundador e responsável pela união deste quarteto globalmente camaleónico que nasceu da sua paixão pelos músicos da África do Sul.

É hora de os conhecer.



O vosso novo álbum, Konke, foi editado há um mês. Já conseguem ter uma ideia de como tem sido a recepção?

A recepção tem sido muito boa até ao momento, especialmente nos Estados Unidos, na Europa e na América do Sul. Temos tido bastantes comentários positivos.

Thina foi lançado apenas há um ano. É um período de tempo bastante curto entre estes dois álbuns. Pensam neste último como uma espécie de continuação? Que diferenças podemos encontrar entre os dois trabalhos?

Penso que é difícil comparar os álbuns. A forma como foram escritos foi bastante distinta. Thina, por exemplo, tem arranjos mais complexos e os vocais são muito mais utilizados como um instrumento. Em Konke temos mais canções no real termo da palavra, e penso que é mais fácil criar empatia com estas músicas. Este é um álbum em que houve uma evolução ao nível de produção e técnicas de mistura.

Eu adoro os vocais do Konke. Existe uma química enorme entre as vozes e a forma como elas se comunicam e respondem entre elas. Como abordam esse processo criativo? Escrevem juntos?

Sim, escrevemos sempre as vocalizações juntos. Normalmente, eu levo um tema já pré-concebido, ou alguma batida que construo com o Pheel, e depois a Zoe e o Manana têm uma breve discussão sobre o que a batida transmite e partem para a escrita. Trocam ideias constantemente até que daí surja uma boa história para um tema. Existe essa capacidade de expressar livremente o que pensamos sobre diversos tópicos enquanto desfrutamos do processo. Após gravarmos os vocais, fazemos a edição final no estúdio do Pheel. 

Li numa entrevista que não querem ser rotulados como um projeto jazz ou de qualquer outro género porque para vocês o mais importante é a história que querem contar e, só depois, qual é o melhor som para vestir essa história, e que isso faz com que possam ser uma banda de qualquer género. Qual é a história a volta deste álbum?

Exacto, estamos completamente abertos a implementar qualquer género, desde que ele se encaixe na história que queremos contar. Mas a história também pode ser uma reacção à música. Normalmente, eu percebo qual dos caminhos devo seguir ao piano, mas até penso que estamos bem com a ideia das pessoas tentarem rotular-nos como algo. Isso ajuda a espalhar a música e, se as pessoas acabarem a explorar outros géneros depois disso, é algo positivo. Agora penso que cada música tem a sua própria identidade. Não diria que temos uma história principal. 



Sinto que o vosso trabalho é muito focado em conversas sobre problemas do quotidiano e assuntos dos quais as pessoas facilmente se identificam. Este é um período humanamente muito complexo. Isso acabou por inspirar-vos neste álbum? 

Talvez nos tenha inspirado, mas todas as canções já estavam basicamente terminadas quando a pandemia começou. Neste último ano estivemos apenas focados na produção.

Por falar no tema da pandemia: vocês produziram o álbum juntos?

Nós fazemos isso quando conseguimos estar todos juntos no mesmo espaço, o que é difícil. Após gravarmos os vocais, eu o Pheel continuámos a produção no estúdio dele, na Alemanha. Mesmo durante o período do confinamento.

No vosso site, podemos ler que os Seba Kaapstad são compostos “por artistas cuja linhagem é marcada por trauma e sofrimento” Até que extensão essa declaração marca o vosso trabalho? Como acreditam que as vossas heranças influenciaram o vosso som?

Penso que não concordamos em observar a nossa linhagem como conduzida por trauma e sofrimento. De certa forma isso aconteceu, mas, para nós, certamente que não é uma força condutora. Com dois membros europeus e dois do sul de África, não tivemos outra hipótese que não experimentar. O resultado é a combinação da percursão e dos vocais africanos combinados com as harmonias jazz, harmonias europeias, elementos de hip hop e de electrónica. Nós, como grupo, temos gostos similares e ouvimos as mesmas coisas, mas o nosso background é tão distinto. Penso que consegues escutar isso no nosso som.

Como foi trabalhar com pessoas como o Quelle Chris, a Georgia Anne Muldrow ou o Oddisee?

Foi óptimo, porque eles perceberam perfeitamente o que a música pedia. O que adicionaram elevou completamente as músicas desde o primeiro instante e nos três casos. Foi uma combinação perfeita! Felizmente, eles também estão ligados à nossa editora, a Mello Music Group, o que tornou a comunicação muito mais fácil. 



A vossa história começa com a tua chegada à Cidade do Cabo. Consegues descrever as tuas primeiras impressões sobre o país? A cultura e os músicos, a forma como te apaixonaste por eles e as diferenças que sentes entre esse período e a fase atual da África do Sul?

Quando eu cheguei, demorou algum tempo para formar novas impressões porque tudo era muito diferente. Foi um tempo fascinante, porque aprendi muitas coisas sobre a África do Sul, mas também sobre mim mesmo e do que sentia falta na Alemanha. Na Cidade do Cabo, especialmente, as coisas são coloridas e diversas. Definitivamente foi inspiração suficiente para toda a vida. Conheci imensos músicos e amei a forma como eles se expressam em palco. Tu consegues sempre perceber a origem deles e isso é algo que sinto muita falta na Alemanha.  

Noutra entrevista, a Zoe diz que “…existem muitos jovens na cena jazz sul-africana a tentar introduzir o género de uma forma distinta”. Qual é esta forma distinta que ela fala? Que diferenças sentes que aconteceram com este fenómeno?

O jazz é o antepassado da música moderna e vimos que pode evoluir temporalmente. Como cidadãos globais, apreciamos diferentes géneros de música e somos capazes de apreciar as raízes profundas do jazz na música. Em última análise, música é música, uma exploração em constante mudança e ela existe para mover as pessoas. Por isso, a nossa única certeza é que as nossas paixões vão-nos levar a lugares verdadeiros. 

Para finalizar, gostava de saber: como estão os planos para uma tour?

É difícil planear neste momento, porque ninguém sabe se os concertos vão acontecer ou não. Há um enorme risco financeiro no planeamento de uma tour e para nós ainda mais, porque temos imensas despesas de viagens. Temos esperança que volte a ser possível, rapidamente.


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