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Texto: ReB Team
Fotografia: Paula Vieira
Publicado a: 04/02/2019

Scúru Fitchádu: “Fascismo não se debate… combate-se”

Texto: ReB Team
Fotografia: Paula Vieira
Publicado a: 04/02/2019

“Oji Txuba ta txobê Molotova” é o novo grito de guerra de Scúru Fitchádu. A faixa é também o terceiro single que antecipa o seu longa-duração de estreia, Un kuza runhu, que, segundo o próprio, sairá idealmente antes do Verão.

O momento para esta “insurreição pura e sem rodeios”, que chega em formato canção, não poderia ser mais adequado, tendo em conta as últimas semanas conturbadas que se viveram em Portugal depois dos acontecimentos no Bairro da Jamaica, Seixal.

Falámos com Marcus Veiga sobre o seu mais recente tema, o próximo projecto ou os “tempos muito difíceis” que atravessamos.



[O significado do título]

“A tradução de ‘Oji Txuba ta txobê Molotova’ é algo como ‘Hoje chovem molotovs’. A mensagem deste tema é um enorme ‘BASTA’. É insurreição pura e sem rodeios. São anos e anos do acto de aguentar porrada calado, anos de opressão das comunidades mais fragilizadas nas periferias. Um dia a saturação morde-lhes o rabo…

Estas questões, situações e problemáticas sempre existiram por cá e são, neste momento, alvo de atenção mediática, expostas e à mão de semear por quem só via isto nos romances urbanos do outro lado do oceano. Os ‘moderados’ do costume que se abstêm de opinião, assobiam para o lado ou apoiam o tratamento marcial sobre comunidades desfavorecidas, têm de descer do pedestal de cristal, das suas redomas privilegiadas e compreender o que realmente se passa do outro lado do muro onde o sol não bate.

Esses iluminados são o problema! Os fascizóides convictos, esses ao menos sabemos quem são. No entanto aqueles que tomam café contigo, trabalham contigo, almoçam contigo, namoram contigo, mas não são racistas porque até têm amigos pretos e ciganos, esses têm de ser trazidos à razão e à luz do dia. Fascismo não se debate… combate-se. Ponto final. É esta a mensagem deste tema como um todo.

O molotov é uma arma de arremesso primordial e símbolo de insurreição do povo e de confronto caseiro característicos nos manifestos urbanos mais quentes. No entanto, nos dias que correm, este engenho não tem de ser físico, há manifestos verbais e de atitude tão contundentes quanto uma bomba incendiária.”

[O primeiro longa-duração]

“Está a ser uma bela dor de cabeça finalizar esta coisa, no entanto, garantidamente, antes da agenda de concertos arrancar, estará cá fora. Prevejo isso para antes do Verão, claro.

Será composto por 13 faixas, a maioria das músicas está feita e misturada, no entanto falta decidir as participações. Mas como tenho uma forma de produção bastante lo-fi e descomprometida, isto são coisas que farei com bastante rapidez e segurança. Este disco tem um conceito, então tudo tem de estar em sintonia.

Tenho pensado o contributo de um ou outro convidado, mas ainda estou a ver as possibilidades. Um dos meus convidados é o Chullage [do projecto Prétu e Sampladjud]. O conceito de Scúru Fitchádu revê-se perfeitamente no trabalho feito até aos dias de hoje por ele. Para além de ter feito parte da formação ao vivo de SF, estamos em constante harmonia de ideias. Mas posso adiantar que o tema com ele já foi gravado.”

[A reacção das plateias à sua música]

“Felizmente tenho vindo a tocar com frequência e o público tem ali a percepção do que realmente trata Scúru Fitchádu. Tenho tocado para plateias e o que me mais me satisfaz é ver o cruzamento de malta que à partida poderá ser díspar nos gostos. Vejo punks old school no moshpit com a malta do trance, a malta da bass music em ebulição, meninas de ‘boas famílias’ em crowdsurf para cima dos ‘rapazis berdianus’. Tudo numa salganhada bastante interessante de ver e sentir. É para isto que faço música. Quero ser os The Specials de Almada! [Risos]

A minha música está longe de ser de massas ou popular, por isso quem ouviu falar, que venha também! Uma mente aberta é uma mente desperta. Uma mente fechada é a oficina onde o diabo trabalha. Este ano já tenho algumas datas fora do nosso país e, defendendo que isto é uma manifestação artística que ultrapassa barreiras linguísticas, estou convicto que poderei levar a minha mensagem mais além deste jardim à beira-mar.”

[A “resposta” aos tempos agitados que atravessamos]

“Scúru Fitchádu é, desde o dia 1, música de protesto. Se queres dançar a ouvir isto? Óptimo! No entanto, o que tenho para dizer não é fácil. Isto é música de combate e de guerrilha. Atravessamos tempos muito difíceis, não vou entrar numa onda de Nietzsche fatalista de ‘no future‘, pois há sempre esperança de melhorias sociais e como indivíduos podemos trabalhar para melhorar esta coisa. Não há que entrar numa espiral de pessimismo gratuito.

Tudo está a reunir-se para a tempestade perfeita, Aaah, esses juízos de valor e tribunal das redes sociais. Os meios de informação e ‘fazedores de opinião pública’ estão numa cruzada para manter as pessoas em sono profundo de ignorância e adormecidas com populismo, pois promovem uma preguiça mental diária. Escrevem títulos inflamados de carga sensacionalista apenas para os cliques e para que apenas numa frase ou num título de notícia os leitores vistam as capas de justiceiro. Está o salve-se quem puder… Survival mode shit. O jornalismo já teve melhores dias e boa parte dele perdeu a credibilidade, mas ainda há esperança. Há a auto-sustentabilidade. O DIY de cada um, se eles não dizem nem fazem por nós, nós diremos e faremos por nós. Como artistas, somos educadores e não é tempo mais urgente para fazer da própria arte um instrumento de voz do que realmente interessa para o bem comum… ‘nuff bullshit!”


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