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Publicado a: 29/03/2018

Scratchers Anónimos: “O scratch nacional está bom e recomenda-se”

Publicado a: 29/03/2018

[TEXTO] Gonçalo Oliveira [FOTO] Direitos Reservados

Os Scratchers Anónimos celebram cinco anos de vida em 2018. A festa de aniversário está agendada e acontece no Tokyo no próximo sábado. O Rimas e Batidas trocou algumas palavras com o colectivo acerca desta mão cheia de história, tentando ainda antecipar um pouco do que se vai desenrolar na última noite de Março em Lisboa.

É graças ao espírito comunitário que tanto caracteriza o movimento do hip hop que os Scratchers Anónimos abriram actividade em 2013. Fundada por DJ Ki há cinco anos, a crew de turtablists tem sido uma das principais organizadoras de pontos-de-encontro entre os praticantes da arte de bem mexer nos pratos. Entre jams, workshops e batalhas, foram vários os amantes dos gira-discos a cruzar o seu percurso com os S.A.. Dos mais inexperientes aos mais sábios, Big, Kwan, Nel’Assassin, Cruzfader ou X-Acto foram alguns dos DJs que foram aderindo aos meetings interactivos proporcionados por este colectivo.

Cinco anos após os primeiros passos, é no formato de trio que os Scratchers Anónimos se apresentam, composto pelo fundador DJ Ki, que se faz acompanhar de Camboja Selecta e DJ Ketzal. Os três apresentam-se este sábado no Tokyo para o acto de abertura da festa de aniversário. DJ É-me e Nel’Assassin são os outros dois artistas com actuação marcada para esta celebração, que vai este ano adoptar um registo mais virado para a vertente clubbing, bem a condizer com o coração da capital portuguesa.

 



Falem-me um pouco da vossa história. O que esteve na origem da formação dos Scratchers Anónimos?

Scratchers Anónimos inicia actividade em 2013. A ideia e fundação partiu de DJ Ki (ex-Dr.Ki). O primeiro a juntar-se à causa foi o DJ Subvision. São dois DJs com background de drum’n’bass, ambos scratchers. Nesse mesmo ano junta-se Camboja Selecta e, um pouco mais tarde, DJ Apu, DJ X-Acto e DJ Rodric. Há cerca de 3 anos entrou o DJ Ketzal. Hoje, o grupo integra DJ Ki, Camboja Selecta e DJ Ketzal.

A ideia surgiu da necessidade de jams de scratch. Na altura eram praticamente inexistentes. Não existiam colectivos que apostassem no scratch. Desde a primeira organizada pelo Pass One, nos Estúdios Compasso, das jams da Breakfast e das da Move The Crowd do Dj Spot que aconteciam muito esporadicamente. Quisemos voltar a trazer o espírito de comunidade, comunhão e partilha, que caracteriza o movimento de DJs turntablists e do scratch em concreto. É nas jams que muito se pode aprender — conhecer DJs, trocar informação, experiências ou conhecimento. Para além disso, pretendemos que fosse algo regular, de forma a fortalecer laços. Basicamente são sessões, livres e abertas a qualquer DJ, artista ou simplesmente seguidor da arte de scratch. Porém, a filosofia e a mensagem é que todos ali são iguais. Isto é: desde o mais experiente ao mais inexperiente, o nome de cada um, apesar de ser relevante, fica à porta. Não é uma “luta de galos”. Daí o nome “anónimos”. Com o tempo, e também devido à regularidade, passámos a explorar outros campos. Investimos num papel mais comunitário e social com workshops, decidimos organizar battles de DJing e, mais tarde, DJ sets. Contudo, tudo gira à volta das Open Scratch Jams. Sem isso tudo o resto deixaria de fazer sentido.

Ao contrário da cena turntablism a nível nacional, vocês têm sido bastante pró-activos. Que balanço fazem destes 5 anos recheados de jams, battles e workshops?

Não achamos que a cena turntablist nacional não seja pró-activa. Sendo que há DJs turntablists ou scratchers em Portugal, seria injusto ou talvez incoerente pensar isso. Portugal é campeão mundo do IDA. Se não tivéssemos de todo DJs dedicados, então aí sim. Há de facto bastantes praticantes desta disciplina em Portugal e com um nível muito elevado. A questão é que é difícil — ou foi difícil — ter um colectivo ou uma comunidade que apostasse em reunir vários scratchers num só local, de forma regular. O conciliar disponibilidades, sendo que muitas vezes temos que fazer opções entre ir trabalhar e ir a uma jam, que não é de todo lucrativa, é bastante difícil. Quando falamos de um grupo de 30 pessoas ainda mais. Só com muita força de vontade e muito amor é que se faz. Durante muito tempo o movimento andou muito disperso. Um pouco “cada um na sua”. A nosso ver essa é talvez a única diferença. Porém, gostaríamos que o conceito jam de scratch começasse a acontecer pelo país fora. Há muitos DJs de scratch espalhados por aí que não podem ou conseguem vir às nossas e que um dia podem começar também a organizar-se. Isso sim, seria uma verdadeira rede “riscadora” !

Quanto à outra questão, no que toca ao balanço, podemos dizer que é positivo. Se olharmos para trás, há 5 anos, era impensável fazer uma festa de aniversário no centro nocturno lisboeta, ou comparecerem na Open Scratch Jams nomes como Nokin, Big, Kwan, Maskarilha, Mafia do Caril, Nel’ Assassin, Sensei D, Madruga, CruzFader, Kali, X-Acto, Razor, Sims, Núcleo ou até o Dj Bernas (R.I.P), que tantas jams frequentou e que nos era muito querido, entre outros. Tudo scratchers de excelência que têm sido presença habitual. Como também não existiriam novos praticantes, ou curiosos a preencherem as nossas sessões. As jams no início tinham 3 ou 4 participantes. Foi muito difícil trazer de novo este espírito tendo em conta que a coisa esteve “parada” desde 2009 até 2013 e nunca foi tão regular. Foi com muita persistência e sobretudo resiliência. Outro factor positivo é as pessoas já reconhecem a marca S.A. e o seu trabalho, já há um “de boca em boca”. Mostra que ganhámos um espacinho não só no scratch, como também na cultura hip hop em geral. Por último e provavelmente a razão mais relevante, há DJs de scratch que “emergiram” nas Open Scratch Jams, nas battles e nas workshops. Exemplos disso são nomes como Rodric, Tayob e DJ-Éme (Marujo), que têm tido uma evolução estrondosa desde que passaram a ir às jams, e também os “veteranos” que aproveitaram e fortaleceram conhecimento. Por último, DJ Ketzal foi descoberto nas battles. Foi talvez o DJ que mais se destacou, até então um desconhecido no movimento. Por esse motivo achamos que o balanço só pode ser positivo pois conseguimos fazer o que é mais importante e para nós, o nosso mote, a transmissão de conhecimento..

Como olham para a situação actual em Portugal, na sua generalidade? Faz falta, por exemplo, o regresso das competições para fomentar o espírito dos praticantes?

O scratch nacional está bom e recomenda-se. Há bons scratchers de norte a sul e de este a oeste. Do ponto de vista técnico e artístico evoluiu muito e podemos afirmar que está no caminho certo. Há praticantes novos, os antigos continuam no activo e a treinar. Há vários grupos nas redes sociais de scratch, etc. Isto já não é algo tão raro como era há 15 anos atrás por exemplo. Agora só faltam mesmo as competições. Nós exploramos essa área e fá-lo-emos até porque podem sempre existir competições paralelas às oficiais. Oferecemos ao movimento a SA Scratch League, a SA Summer Battle e temos agora as SA Battles em formato vídeo, onde convidamos um DJ a batalhar com um DJ S.A.. Também não fomos os únicos — o grupo de Facebook, Tuga Scratch Nerds organizou algumas competições online, tal como o I Need a Needle. Mas isto é sempre numa onda desportiva de modo a que o espírito de battle não desapareça, não são competições a sério. A dimensão do IDA ou o DMC é outra, fazem muita falta ao país, por diversos motivos. A competição é, na nossa opinião, a única coisa que está a faltar pois é uma aliada da jam. No fundo treinamos todos com um objectivo inconcretizável para a maioria, pois não havendo competições internacionais, poucos são os que podem participar a nível mundial. O que é uma pena sendo que o nível de scratch em Portugal evoluiu muito. Há menos hipóteses de sermos levados a sério na comunidade internacional.

O clima agora é de festa e a celebração dos vossos 5 anos de vida acontece já na próxima semana no Tokyo. Querem revelar-nos um pouco sobre o que se vai passar no evento? O que pode esperar o público, tanto para quem pratica a mesma arte que vocês como os meros apreciadores?

É verdade, 5 anos a promover e a divulgar o scratch nacional! Este evento tem uma característica que não deverá ser muito comum em outros eventos da cultura hip hop. Os DJs seleccionados para actuar são turntablists ou scratchers. Em anos passados, celebrámos os aniversários com jams, com battles informais ou DJ sets. Este ano decidimos explorar uma vertente mais clubbing. Esperemos que possa ser o início de mais uma actividade a juntar às Open Scratch Jams, SA Battles e aos workshops. Sempre quisemos explorar a possibilidade de fazer festas com DJs convidados, apostando numa sonoridade mais próxima à nossa identidade. Fugir um pouco ao padrão da cena hip hop nacional. Por um lado, todos têm o scratch como elemento comum e desejamos que o oldschool e o new school se juntem, daí termos convidado um DJ como o Nel’Assassin e outro como o Dj-Éme. É sempre motivo de orgulho poder apresentar artistas emergentes — esse é também o contributo dos Scratchers Anónimos, o poder juntar e aliar um emergente a um experiente, e assim ter o melhor de dois mundos.

 


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