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Sam The King

[TEXTO] Ricardo Farinha [FOTO] Francisco Gomes

Não é a expressão mais original e tenho a certeza de que não fui eu que a inventei, mas continua a ser verdade. Sam The King. Esta semana publicamos vários artigos sobre a sua obra, focados em vertentes específicas como o storytelling. Estamos em 2016, precisamente dez anos desde Pratica(mente), o último álbum que Sam The Kid lançou em nome próprio.

Foi com esse disco que o conheci. Quem vos escreve tinha apenas 11 anos na altura. Já lá vai uma década. Recebi-o como prenda de aniversário e foi uma das obras que mais me marcou e que se provou determinante para o meu interesse em descobrir todo o universo do hip-hop. Tenho-o religiosamente guardado e devidamente assinado numa prateleira junto a outros tantos discos (Rui Miguel Abreu, o diretor desta casa, riu-se quando lhe falei apenas numa prateleira).

Já lá vão dez anos, mas nem por isso temos deixado de ouvir coisas de Samuel Mira. Todos os anos há inúmeras participações talentosas ou beats assinados pela MPC do “quarto mágico” – com alguns discos de Orelha Negra pelo meio. O legado do último álbum – e de toda a obra de Sam The Kid – é imenso e continua a ter repercussões.

Como eu, muitos outros miúdos cresceram a ouvir e a inevitavelmente deixar-se influenciar por Pratica(mente), Sobre(tudo), ou Beats Vol 1: Amor e Entre(tanto), acabando por se tornarem rappers, produtores ou DJs, enfim, aquilo que nós hoje conhecemos como a nova escola do hip-hop nacional – que, ao invés de só inspirar, é a mesma escola que hoje Sam ajuda a construir e sustentar, colaborando com pessoas como os GROGNation, Beware JackBispo, ou os Tribruto, entre tantos outros possíveis exemplos.

O legado é inegável. Sam apareceu no fim dos anos 90/início do milénio como um dos principais nomes num boom do movimento de hip-hop nacional, onde também surgiam artistas tão fortes como os Dealema, Valete, Chullage e os Micro, mas Sam teve um merecido destaque. Podemos ouvir a herança musical portuguesa nos instrumentais de Sam… a voz de Amália, de Dulce Pontes, ou a guitarra de Carlos Paredes, por exemplo. É a reinvenção da música nacional.

Por cima das batidas, as rimas. Com um dom hereditário para a poesia, Sam The Kid sempre obrigou os ouvintes a fazerem replay uma meia-dúzia de vezes até absorverem todos os trocadilhos e mensagens transmitidas de forma subtil, sempre com uma linguagem muito própria, a sua, aquela que é real, mesmo que isso implique erros de gramática ou expressões de calão. Não interessa, é o que é. É o que ele é. A crítica social, a descrição da realidade complicada de Chelas e os sentimentos pessoais sempre estiveram presentes. O seu trabalho – como o de muitos autores, em diversas áreas, mas que também é um aspeto predominante no hip hop – é caracterizado por uma forte personalização.

Afinal, basta conhecer a obra de Sam The Kid para conhecermos muitos aspetos da sua vida. É mais fácil do que com a grande maioria dos MCs. Sabemos onde vive, a sua rotina, o que faz, para onde quer ir, o que pensa, o que sente. É a sua vida em rimas. Com poucos filtros e omissões – embora nem todos as letras se baseiem em si próprio e nestes temas, evidentemente. O que eu escrevo aqui não é nada de novo, mas é importante reconhecermos e homenagearmos os mestres desta cultura.

Passados dez anos sem editar nada em nome próprio, podemos finalmente ter um ano em que ouvimos um segundo conjunto de versos de Sam The Kid ou mais beats do que aqueles a que já nos habituou. O novo álbum de Orelha Negra é certo, mas não estamos (só) a falar dele. O prometido segundo volume do álbum de instrumentais pode chegar este ano, assim como o disco em conjunto com Mundo Segundo, que estava previsto para o fim do ano passado e que ficou adiado para 2016. Que venham eles, estamos pacientemente à espera. É o mote de partida do Rimas e Batidas para uma semana em que celebramos Sam The Kid e a sua obra.

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