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Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 01/09/2024

Com o público rendido a Bezegol e Pongo.

Sabura Festival’24 — Dia 2: fora do tempo, mas dentro do conceito

Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 01/09/2024

O Verão ainda está bem vivo em Sesimbra e os dias passados no Sabura Festival são, por isso, mais quentes e felizes. Entre os concertos da noite e os afazeres que nos têm entretido antes do sol se pôr, reina a boa disposição e a camaradagem por entre todos aqueles com quem nos vamos cruzando. Aqui pairam mesmo no ar as boas vibrações que tantos eventos deste género nos tentam “vender”, e isso, só por si, é um factor a ter muito em conta para quem já anda cansado de todos os grandes e corporativos certames que muitas das vezes parecem vazios de espírito.

E por falar em espírito, foi precisamente o de um grande cantautor português aquele que nos invadiu na tarde de ontem quando demos entrada no recinto. Márcio Pinto, Catarina Anacleto e Diogo Picão — em marimba, violoncelo e saxofone, respectivamente — entrevagam aos presentes versões instrumentais de algumas canções de Zeca Afonso em jeito de tributo no palco que herda precisamente o nome dessa lenda da música nacional. Já na Dub Arena, um pouco mais ou lado, iam sendo levados a cabo os testes de som para Juana na Rap e a sua comitiva, responsáveis por trazer até ao Sabura um pouco dessas cores que tingem as telas urbanas da nossa cultura.

Mas a ronda de concertos a valer estava reservada para depois do jantar. Infelizmente, o segundo dia do festival ficou marcado por uma onda de atrasos sucessivos, o que levou a que cada actuação se iniciasse entre 30 a 60 minutos depois da hora prevista. Talvez fosse para combinar com a atenção dos festivaleiros, que embora parecessem em maior número dentro do recinto estiveram sempre bem mais dispersos. E isso foi notório no caso de Maria Reis, que conseguiu reunir vários curiosos à sua volta, mas sem nunca sentir realmente a proximidade da massa adepta, ladeada de Francisco Couto (no baixo) e do jovem que a ajudou a produzir o seu mais recente álbum, Tomé (na bateria). O trio entregou-nos o melhor momento de rock do Sabura, embalado pelos versos confessionais da cantautora co-fundadora da Cafetra Records. Com Suspiro… editado em Maio deste ano — do qual falou ao ReB em entrevista em Julho —, o espectáculo também passou por Benefício da Dúvida (2022) e A Flor da Urtiga (2021) e decorreu praticamente sem paragens, por vezes a soar quase como que um medley contínuo, colando subliminarmente algumas das canções umas às outras com passagens que não temos oportunidade de testemunhar em disco.



Sem sairmos das redondezas do palco Zeca Afonso, voltámos a ter de esperar bastante por mais um concerto. Desta vez, era o Bloco do Caos, banda de São Paulo com um espírito reggae bem presente, mas que faz do género musical jamaicano matéria de fusão com outras cadências — vindas desde os ritmos tradicionais do Brasil, a uma certa atitude punk que se denota desde logo até pelo lado visual do projecto, que coloca os quatro músicos em palco vestidos com o mesmo tipo de macacões laranja que associamos aos loucos criminosos que habitam no Arkham Asylum. Dada a forma demorada e minuciosa com que os vimos efectuar o soundcheck, talvez a fasquia se tenha elevado um pouco mais relativamente ao que esperaríamos que este quarteto pudesse desempenhar em palco. Ainda assim, o espectáculo foi sólido e intercalou músicas originais com alguns covers. Pelo meio, o Bloco do Caos recebeu ainda alguns convidados: primeiro Jack, um artista brasileiro que tem dinamizado a cena reggae no Algarve; depois a Associação Alto Astral para uma sessão de capoeira.

A penúltima actuação que tínhamos planeado ver ontem foi a de uma lenda viva do reggae português. Com mais de 30 anos de carreira e quase 50 de vida, Bezegol conduziu uma generosa banda que oferece ao veterano cantor e MC todo o suporte necessário para que este brilhe e entregue a melhor experiência possível aos seus dedicados fãs. A voz grave e arrastada aliada às letras de intervenção envolveram todos os presentes numa marcha reivindicativa que deixou o artista portuense de olhos envidraçados. “Fora da Lei”, “Monstro” e, claro, “Fire” são clássicos que não faltaram nesta bonita celebração, que pelo meio ainda teve um interessante momento de redenção, onde ficaram apenas a voz de Bezegol mais guitarra e baixo, envoltos numa névoa que pairava sobre o palco pouco iluminado.

Originalmente escalada para a uma hora da manhã, foi já só por volta das duas horas que Pongo se apresentou diante daquele que foi o maior ajuntamento de festivaleiros à beira do palco Sabura. Frenética como poucas, trouxe vários músicos e bailarinos consigo para o centro da acção, onde interpretou as faixas mais recentes que tem lançado — revelou até que todo este processo culminará com a edição de um novo EP em breve — e percorreu também os seus primeiros dois discos, dos quais se destacam “Kuzola”, “Hey Linda” ou o intemporal clássico “Wegue Wegue”, que remonta aos tempos áureos de Buraka Som Sistema. A dado momento, convidou pessoas do público para se juntarem a ela em palco, tendo retribuído no final com uma pequena performance no meio da multidão em conjunto com os seus dançarinos.


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