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Fotografia: Mallory Hawkins
Publicado a: 04/10/2024

Renovação folk.

Ryley Walker: “As canções são abertas, por isso esperem muitas reviravoltas e improvisos”

Fotografia: Mallory Hawkins
Publicado a: 04/10/2024

Depois de um concerto em Lisboa, na Galeria Zé dos Bois, na passada quarta-feira, 2 de Outubro, o cantautor norte-americano Ryley Walker tem hoje apresentação ao vivo marcada para o gnration, em Braga. O espectáculo estava previsto para contar com a participação de William Tyler, mas devido a problemas de saúde do colega, Walker apresentar-se-á a solo nesta data, para a qual ainda existem bilhetes à venda por 12€ euros.

Aos 35 anos, o cantor, compositor e guitarrista de Illionois é já um nome bem estabelecido no seio da vanguarda folk de cariz mais autoral, injectando uma boa dose de psicadelismo numa música que ajudou a traçar a matriz sónica dos Estados Unidos da América. A sua carreira começa no início da década de 2010 e tem visto gerar uma série de lançamentos — de entre mais de uma dezena de discos, destacam-se All Kinds of You (2014), Primose Green (2015), Golden Sings That Have Been Sung (2016) ou Deafman Glance (2018).

O seu trabalho mais recente é o curta-duração So Close, a terceira peça com que contribuiu para o catálogo da nova-iorquina Husky Pants Records em 2022. Mas Ryley Walker não tem favoritos quando se trata de escolher o alinhamento para um novo espectáculo e, numa breve troca de impressões com o Rimas e Batidas, revela que tenciona percorrer “todos os discos” que lançou e que, em palco, gosta de “fazer tudo diferente a cada noite”, evitando a repetição de fórmulas e criando uma apresentação dinâmica que flui consoante os estados de espírito — o seu e o do público.



Em primeiro lugar, comecemos pelo tweet de maio passado: não se lê como um impulso do momento. É algo em que se pensou muito. Mas não deixa de nos apanhar a todos desprevenidos, mesmo que nunca tenha evitado falar dos seus problemas. As pessoas, incluindo os amigos que mencionou no referido tweet, tentaram dissuadi-lo desse estado de espírito de “mais um em mim”?

A ideia de estar sentado numa carrinha durante 8 horas por dia já não faz sentido. Gostaria de manter as actuações limitadas a compromissos especiais de uma noite e a gravar música. A maior parte dos meus amigos apoiaram-me. As longas digressões são um jogo para os jovens. Estou mais velho e frágil. Gostava muito de me mudar para a Europa, vou perder muito tempo a arranjar um visto.

A cultura pop e rock, mesmo as partes mais underground, sempre romantizou a fragilidade dos artistas, como se Nick Drake ou Kurt Cobain tivessem morrido pela sua arte. De certa forma, depois de tantas batalhas difíceis ao longo das décadas — contra o racismo, pelos direitos LGBT, pelos direitos das mulheres, etc. —, os cuidados de saúde mental parecem ser a última fronteira, não é?

Eu não daria ouvidos à opinião de nenhum músico sobre nada. Fala com um profissional e procura a ajuda que desejas. Eu vejo a música como um alívio do trabalho e da vida quotidiana. A liderança da saúde mental deve ser deixada para as pessoas que sabem do que estão a falar.

Lançou muito material nos últimos 15 anos. Como é que decide uma setlist agora que pode estar a fazer a sua última digressão. Qual é o repertório que você vai destacar nesses últimos shows?

Esses shows são todos de cantor/compositor e têm músicas de todos os discos que lancei. As canções são abertas, por isso esperem muitas reviravoltas e improvisos. Eu gosto de fazer tudo diferente a cada noite. O mesmo concerto todas as vezes seria desrespeitoso para mim e para o público. Eu não escrevo setlists. O que quer que aconteça, acontece!

Se esta for, de facto, a sua última digressão, já se apercebeu de que haverá uma canção especial que será a última que interpretará neste contexto? Qual é que poderá ser?

Gosto muito do meu álbum mais recente, Course In Fable. Acho que essas canções são as mais fortes e estou a adorar apresentá-las.

Vai continuar a fazer música, obviamente, mas se é verdade que as digressões eram o que permitia a sobrevivência de um músico independente, que mais pensa fazer daqui para a frente para ajudar a pagar as contas?

As digressões nunca foram a minha principal fonte de rendimento. As únicas pessoas que vivem da música são os miúdos ricos da geração da riqueza, e eles são uns cabrões. Sempre tive um emprego fora da música. Actualmente, sou empregado de bar, cozinheiro num restaurante e faço reservas num local de música em Nova Iorque. Não tenho nada em comum com os miúdos ricos que fazem música de merda e não se preocupam com as contas. A arte deles é falsa e as suas lutas são uma treta. Dêem-me uma banda de noise que acabou de sair de um turno. Isso é que é bom.


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