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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 18/10/2019

A nova editora apresenta-se ao mundo num evento de dois dias que decorre hoje e amanhã.

Russian Library: a electrónica assombrada pela memória

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 18/10/2019

Russian Library é um espaço para explorar, musical e visualmente, um certo desencanto com a falência da cultura optimista que surgiu durante o pós-guerra e que viria a colapsar com o fim da guerra fria que, embora nunca se chegasse a cumprir, deixou fundações que continuam semi-presentes na nossa memória, amarrando o nosso presente e constituindo um espectro de resistência à esquizofrenia do capitalismo contemporâneo”. Em jeito de manifesto, é assim que se apresenta um novo selo apostado em explorar os efeitos da memória filtrada através de noções muito precisas de electrónica.

“A Russian Library é um espaço onde, mais do que uma estética, se partilha uma sensibilidade ou uma condição, e onde o que a informa é mais importante do que o processo ou a forma”, explica-se ainda. A editora, que tem “casa” no Bandcamp, plataforma através da qual disponibilizou três split singles assinados por Folclore Impressionista/Ondness, Aural Design/Supernova e Demónio António/Vuduvum.

A apresentação formal deste selo editorial começará hoje, no Desterro, em Lisboa, num evento que se prolonga até amanhã e que além de múltiplas apresentações ao vivo contemplará também uma feira de edições independentes, que contará com a participação de entidades como A Porta, CAPITAL DECAY, Colectivo Casa Amarela, combustão lenta records, Discrepant, Fungo—, Nariz Entupido, OUT OF ORDER, Rotten \ Fresh, Thisco Records, URUBU, Variz e ZABRA records.



Como é que nasceu e qual é a intenção da Russian Library?

A Russian Library surgiu da vontade de criarmos um espaço para explorar, musical e visualmente, um certo tipo de sensibilidade, que está muito marcada pelo desencanto com a falência da cultura optimista que surgiu no pós-guerra e viria a colapsar com o final da Guerra Fria, que embora nunca cumprisse o que prometeu, as suas fundações continuam semi-presentes na nossa memória, amarrando o presente e constituindo um espectro de resistência à esquizofrenia do capitalismo contemporâneo.

Este formato de splits pretende ser o único no catálogo ou vêem-se a editar álbuns, compilações e outro tipo de projectos?

Estes splits fazem parte da H Series, que está na génese da RL. Esta série, em concreto, irá ter continuidade sempre dentro deste formato, embora não obrigatoriamente em split. Compilações, sim, gostaríamos muito de fazer, e EPs também. Algumas edições poderão vir a sair em tape, especialmente no caso das compilações e álbuns. Mas, para já, não podíamos estar mais felizes com estas as primeiras edições: Folclore Impressionista / Ondness Aural Design / Supernova Demónio António / Vuduvum.

Um dos splits contém um tema dos Supernova. É um inédito dos arquivos?

Sim, é um tema de 1999, que viajou no tempo vindo dos arquivos dos Supernova. A verdade é que os Supernova, especialmente na fase do Atari Series #1 e Atari Series #2 (este nunca editado), pressentiam já aquilo que mais tarde viria a ter contornos bem mais definidos e receberia o rótulo de hauntologia, termo que Mark Fisher e Simon Reynolds começaram a usar para se referirem a um determinado tipo de sensibilidade estética, que na sua fase pré-hauntológica, de finais de 90, inícios de 2000, era partilhada por projectos como Stereolab, Broadcast, Air ou Boards of Canada. Os Supernova representam essa sensibilidade entre nós. Este tema, em particular, tem uma atmosfera inspirada por aquela música mais abstracta que era usada recorrentemente em televisão, que não fazíamos qualquer ideia de onde vinha, mas que hoje sabemos fazer parte dos catálogos de library music.

Há uma clara linha electrónica a atravessar os primeiros três lançamentos do catálogo. Será nestes campos, digamos, espectrais que pretendem movimentar-se no futuro? Há um programa estético definido para a Russian Library?

A Russian Library é uma construção estética, mas isso não quer dizer que tenha um programa estético pré-definido. Embora a forma e o processo sejam importantes numa construção estética, mais do que a forma ou o processo interessa-nos o que a informa e o tipo de sensibilidade que transporta. E isto aplica-se tanto à Russian Library como aos projectos com quem pretendemos trabalhar. Embora seja expectável que a maior parte dos projectos que a RL venha a editar sejam de natureza electrónica, de forma alguma encerramos a porta a outras possibilidades.

Como será o evento de apresentação do catálogo?

Vai haver uma festa de apresentação no Desterro já este fim-de-semana, hoje e amanhã (18 e 19), para celebrarmos o lançamento da editora e das primeiras edições. Nas duas noites haverá concertos e DJ sets. Concertos de Whalt Thisney, Local Looser e Caramelo+Petiz+Vicente; e DJ sets de Supernova, Halyne Pacheco, Nuno Afonso, Aural Design, Ondness, Telma e Miguel Sá. Vai haver também uma exibição contínua de pequenos filmes, que foram seleccionados por cada um dos projectos que vamos editar, e ainda, num outro espaço, uma instalação vídeo dedicada exclusivamente aos temas editados. Durante os dois dias vamos ter uma feira de edições, que deverá contar com a presença de um conjunto de editoras independentes, entre elas, A Porta, Capital Decay, Colectivo Casa Amarela, Combustão Lenta, Discrepant, Fungo, Nariz Entupido, Out of order, Rotten \ Fresh, Thisco Records, Urubu, Variz e Zabra records.


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