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Fotografia: Sebas Ferreira
Publicado a: 21/11/2025

Canções à luz do violão.

Rubel no Centro Cultural de Belém: “Sejam bem-vindos ao meu quarto”

Fotografia: Sebas Ferreira
Publicado a: 21/11/2025

Nomeado à categoria de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira na mais recente edição dos Grammy Latinos com Beleza. Mas agora a gente faz o que com isso?, Rubel lançou-se numa tour de apresentação do álbum que correu todos os Estados do Brasil, fez-se estrear no Japão e regressa a Portugal, com quatro datas esgotadas em Braga, Lisboa e Porto.

Começando o concerto pelos acordes do violão que se conhece tão bem das suas composições, o ambiente intimista propaga-se pelos feixes de luz que o iluminam e pela acústica do espaço que se compõe pelo silêncio e atenção da plateia que ontem se fez apresentar no Centro Cultural de Belém.  Rubel recorda-nos da sensação que sentiu na primeira vez que atuou no antigo Musicbox, em 2018, e confessa ter saudades de “quando tudo começou, há cerca de dez anos”. A construção e apresentação do seu mais recente álbum pretende revisitar esse começo, entre o violão e o artista que nos acolhe com a frase “sejam bem-vindos ao meu quarto”, remontando-nos para o processo de gravação do álbum, todo feito em casa, tornando o palco um espaço confortável e caseiro, como era no início.

Intercalando o concerto com músicas dos seus primeiros discos, Pearl (2015) e Casas (2018), o universo introspetivo e poético que se vive no grande auditório do CCB se funde nas músicas autobiográficas do artista, alimentadas por uma conexão com a poesia. Se em 2023, com a apresentação do álbum As Palavras, Vol. 1 & 2, no Coliseu dos Recreios, sentia-se a influência do poema “Fevereiro” de Matilde Campilho como inspiração para a música “Toda Beleza”, que voltou a interpretar neste concerto, dois anos depois Rubel volta a fazer referência à literatura portuguesa, dizendo que o novo trabalho foi fortemente inspirado em Valter Hugo Mãe, ele que é mencionado diretamente na música “Noite de Réveillon”, interpretada pelo cantor e conjugada com o forte apreço que tem pelo público português, que ocupa grande presença neste concerto.

Rubel leva-nos numa longa viagem pelos seus quatros álbuns. Revivemos as bases do passado com os seus dois primeiros trabalhos e matámos saudades da tapeçaria sonora As Palavras, Vol. 1 & 2, que junta o forró, o funk, o samba e o pagode, mas aqui com o cantautor à luz do violão reinventando as suas próprias invenções e permitindo-nos aterrar no seu último LP que reflete sobre o amor, a fragilidade, a vida, a morte e como podemos lidar com isso tudo, dando-nos algumas pistas — talvez possamos “olhar com calma a janela”, “não hierarquizar a tristeza”, “ter fé na madrugada” ou simplesmente “ser feliz”. Dá-nos a conhecer um álbum com uma força transformadora e uma beleza frágil e humana, que encontramos nos gestos do cotidiano, nos nossos corpos e nos momentos da vida. Beleza essa que não resolve nada, mas muda tudo porque não nos dá respostas, não aponta caminhos, mas cimenta o chão onde pisamos e assegura consciência. Relembra-nos a importância da vida, com tudo aquilo que ela alberga, frisando que esta é incessantemente superior à morte e muito mais prazerosa se for vivida ao lado de quem amamos.

Desabafando como a sua intenção profissional era o de ser roteirista, Rubel entrega-nos um concerto em que demonstra, na plenitude do seu ser, o seu verdadeiro ofício: cantar. Fala-nos desta atividade como um mecanismo para “aquecer e espantar o frio”, que é exatamente aquilo que faz com as suas músicas e que materializa nos seus concertos: move pessoas, enche salas, aproxima corações, une o público para cantar em coro as suas canções e realça a beleza, fazendo-nos acreditar que podemos fazer muita coisa com isso.


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