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Fotografia: Carolina Dos Santos
Publicado a: 07/01/2019

Trabalhar nas margens da electrónica e do jazz.

RP Boo, Gabriel Ferrandini e Pedro Sousa na ZDB: o free jazz e o footwork em ebulição

Fotografia: Carolina Dos Santos
Publicado a: 07/01/2019

RP Boo tem-nos mimado. Depois de, no final do ano passado, ter vindo a Portugal para um concerto no festival Semibreve, em Braga, e outro no Musicbox, em Lisboa, voltou à capital para a abertura da temporada de 2019 na Galeria Zé dos Bois.

A ocasião nasceu de um convite de Pedro Gomes, da produtora Filho Único, que desafiou RP Boo a fazer em Lisboa, com músicos portugueses, aquilo que havia feito no Reino Unido em 2018: juntar-se a outros dois músicos, instrumentistas de alma e coração, numa fusão invulgar de géneros. Tal como em Glasgow e Londres, onde o baterista Paul Abbott e o saxofonista Seymour Wright ofereceram braços e pulmões à agitada electrónica de Kavain Space (mais conhecido por RP Boo), em Lisboa a fusão fez-se com Gabriel Ferrandini nas baquetas e Pedro Sousa no sopro e nas chaves do saxofone.

No icónico aquário do Bairro Alto, o trio ofereceu-nos quarenta minutos de ebulição incessante, na qual footwork e free jazz se fundiram num organismo explosivo feito de rápidos ataques e fortes transientes que, combatendo os rótulos, chegavam por vezes a soar-nos a noise.

Com pouco espaço para respirar, o som era constante, certeiro nos momentos em que lhe perdíamos o rasto, sem sabermos de onde vinha. Viriam as batidas que escutávamos das máquinas eléctricas de RP Boo ou da pujante bateria de Ferrandini? Os ecos melódicos híbridos dos sintetizadores ou samples processados por RP Boo ou antes notas do saxofone de Sousa, perdidas nos meandros da sua pedaleira? De Boo, distinguimos samples do seu passado e presente, de Legacy (2013) a I’ll Tell You What! (2018), enquanto que dos músicos portugueses nos chegava a liberdade fluída e improvisada a que já nos habituaram.

Pecando apenas por alguma falta de contenção, que às vezes escondia a admirável subtileza de RP Boo debaixo dos intimidantes timbalões de Ferrandini ou das erráticas escalas de Sousa, a colaboração cumpriu o prometido. Sobre a blueprint do jazz, os três músicos navegaram pelas margens da electrónica de dança e da música improvisada, momentos antes de quatro intensas horas nas quais RP Boo nos fez suar na sua aula de dança e som.


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