pub

Fotografia: Sebastian Rodriguez
Publicado a: 09/07/2022

De Pi'erre Bourne a Future.

Rolling Loud Portugal’22 – Dia 3: a verdadeira arte de entreter na lil night de encerramento

Fotografia: Sebastian Rodriguez
Publicado a: 09/07/2022

Falar sobre o Rolling Loud não é falar sobre um típico festival português. Afinal, este é um dos grandes festivais de hip hop do mundo, algo que se não fosse o sol, as praias e a proximidade geográfica com Inglaterra não existiria no nosso país. E, até certo ponto, talvez não vivêssemos assim tão mal sem ele.

Pi’erre Bourne apresentou-se sozinho em palco (e carregado de auto-tune como, aliás, foi a regra neste festival) para o nosso primeiro, e valente, concerto do dia. O americano chegou-se à frente numa noite de Lils e prestações muito aquém do esperado. Este, contudo, não foi o caso. De um lado para o outro até suar em bica, Bourne foi atiçando o público que desde o início o acompanhou a cantar “Drunk and Nasty”. Ainda era cedo mas o artista já contava com algumas dezenas de fãs entre a pequena multidão que se acumulava para o ver no palco principal. E, por eles, esforçou-se.

“Biology 101” foi um dos pontos altos do alinhamento rapper e produtor e evidenciou aquilo que já antecipávamos, que um set deste género resultaria sempre melhor à noite e num espaço fechado do que num amplo areal debaixo de sol forte. Esse era um facto que teríamos de ignorar.

Carregado de energia mas também com pressa por culpa dos 20 minutos de que dispunha, Pi’erre Bourne sprintou um pouco por todo o seu repertório sem pausas e disparou “40 Clip” antes de repetir “Drunk and Nasty”, que antecedeu uma curta e eficiente saída de palco. O sentimento, esse, seria o de dever cumprido. Ficou apenas alguma mágoa dos fãs mais sérios (e havia alguns), que certamente ficaram com água na boca depois de uma tão curta exibição.



As expectativas eram grandes para ver mais um membro da Cactus Jack em acção em Portugal. Com “Mo Bamba” como referência, adivinhava-se um ajuntamento expectante em relação a um repertório que não seria conhecido para lá desse tema, acreditávamos nós. Ao contrário do que pensámos, a plateia – que disputava espaço com um concerto em simultâneo no palco principal – apresentou-se preparadíssima para cantar vários refrões.

De forma electrizante, Sheck Wes entrou em palco com o rosto coberto por uma máscara de ski vermelha que aguentou menos de um minuto e a invocar o prolongado “Siiiiii” de Cristiano Ronaldo e usado até à exaustão pelos britânicos na Praia da Rocha durante os últimos três dias. Ao contrário dos artistas que por ali foram passando, o rapper estava a par do acontecimento e aproveitou a oportunidade para discorrer sobre as suas preferências futebolísticas centradas no jogador português antes de se interromper – “que se lixe o Messi, o Ronaldo é o melhor do mundo! Desculpem, ando a jogar demasiado FIFA”.

O discurso foi utilizado para recuperar o fôlego, mas não lhe serviu de muito já que a energia do público pedia todas as calorias de Wes, que nunca hesitou em utilizá-las. Por isso mesmo, “Stick” foi uma demonstração de resistência em palco.

O concerto prolongou-se intercalando temas de várias fases do artista incluindo “Chippi Chippi” ou “Gang Gang” que gerou uma explosão de alegria nas primeiras filas. Dali para a frente a coisa só melhorou com “Sheck Jesus” e “Mo Bamba”, o tema mais aguardado, e houve mesmo tempo para estrear material novo. Mas isso fica para quem lá esteve e não perdeu um espectáculo que facilmente compete pelo título de melhor concerto do palco secundário.



O primeiro Lil do palco principal (Uzi Vert seria o único que o acompanharia aí — Lil Skies, Lil Yachty e Lil Tecca ficariam-se pelo secundário), viu a entrada atrasada devido a alguns problemas de segurança nas filas dianteiras que motivaram repetidos apelos da produção para que toda a plateia recuasse um passo atrás. As instruções foram cumpridas e assim se reuniram condições para começar um dos melhores concertos da noite.

Graças ao trabalho do seu DJ – essencial ao longo de todo o concerto -, quando subiu ao palco Lil Baby encontrou toda uma plateia de lanterna em riste para o receber – e que visão deve ter sido naquele início de noite.

“Pure Cocaine”, um dos primeiros temas, evidenciou aquilo que se esperava deste concerto e dia de festival em particular: o uso do microfone como acessório. Apoiado em back vocals feitos para cobrir mesmo a voz principal, o rapper de Atlanta, na Geórgia, limitou-se a acompanhar os seus refrões fora de tom. Sem grande espanto nosso, o público adorou.

Ainda assim, o artista fez-se acompanhar de quatro bailarinas bem coreografadas, que trouxeram um toque diferente à performance com um primeiro pico em “Close Friends”. O tema pareceu ser o único em que chegámos a ouvir a voz de Lil Baby sem grandes apoios e teve direito a coreografia íntima com uma das bailarinas num exercício de dança inédito (?) no festival.

Ao longo do resto do que podemos considerar uma sólida performance, o artista trouxe-nos temas como “Yes Indeed” (que conta com a participação de Drake) e “We Paid”, que foi acompanhada por um espetacular jogo de luzes, cores e pirotecnia em palco. Valeu pela espectacularidade e pecou pela falta de voz ao vivo.



Seguia-se mais um Lil, que entrou em palco às 22h30 com um original penteado, organizando as tranças de modo a que formassem dois chifres. O look era demoníaco e um presságio do que estaria para acontecer numa altura em que o festival estaria lotado — e isso notava-se na plateia que deixava poucas clareiras na totalidade do recinto.

Não enganaremos ninguém se dissermos que Lil Uzi Vert foi uma valente desilusão – a maior do festival. O motivo é simples e prende-se com o pouco uso do microfone, que neste caso era um mero adereço durante as canções.

Não se pode falar em escândalo e nem sequer é novidade que o playback seja uma ferramenta essencial do mundo do espetáculo, mas talvez não estejamos suficientemente habituados ao que pelo mundo fora se faz. Em Portimão foram 40 minutos de concerto sem que o rapper de Filadélfia cantasse uma única palavra. Pelo meio, e sem que enganasse ninguém, assistimos a uma masterclass de lipsync. Ainda assim e, novamente, para espanto de poucos, o público adorou assistir à listening party mais informal de sempre.

Hype man no seu próprio concerto, Lil Uzi Vert limitou-se a puxar pelo público que, em menos de nada, reagia com uma força surpreendente. Parece estranho, mas quão difícil será entreter um público jovem, estrangeiro, de férias e embriagado numa noite quente na praia? Será este o preço a pagar pela presença das maiores estrelas do hip hop em Portugal? Será que vale a pena?

Sem que parecessem reconhecer alguma das perguntas acima, a plateia vibrou ao som de “Do What I Want”, “That’s a Rack”, “Loaded” e “wokeuplikethis*” enquanto “XO Tour Life” preparou todos para um final de concerto enérgico entre a plateia. No final, os fãs de Lil Uzi Vert mostraram-se satisfeitos. Nós não.



Não foi preciso prever o futuro para adivinhar que outro artista de Atlanta só poderia superar essa performance e isso confirmou-se assim que, no primeiro instante, ouvimos a sua voz com apenas alguns filtros e sem efeitos carregados — e à sua frente estava uma das maiores plateias do festival. Afinal, este seria o último concerto desta edição do Rolling Loud na Praia da Rocha e não havia desculpas.

De facto, o concerto começou bem para os “reais” que, nas filas da frente identificaram e acompanharam a faixa com que o rapper decidiu abrir o concerto – o feito mereceu-lhes um agradecimento à parte. Esses mesmos “reais” não tardaram em aceder ao pedido de Future que aproveitou o final da primeira canção para trazer um tema badalado ao longo do festival e apelar à libertação dos membros da YSL (Young Stoner Life) encarcerados sob acusações polémicas.

Musicalmente falando, o primeiro momento da performance deu-se depois de “pushin P”, quando Future interpretou a sua parte de “Buggati” num formato de cerca de 30 segundos a um minuto que, de resto, seria utilizado para apresentar uma série de temas já na recta final do concerto.

Mas muita coisa se passou no entretanto com destaque para a interpretação enérgica do original de Young Thug, “Relationship”, ou mesmo “New Level” (A$AP Ferg) e “Love Me” (Lil Wayne). O concerto estava a correr bem e as vibrações eram positivas até que, à beira do clímax e com a plateia preparada para engrenar uma mudança acima, a organização sentiu-se na obrigação de interromper o espetáculo por motivos de segurança nas primeiras filas.

A assistência era de tal maneira elevada e motivada que as filas dianteiras se comprimiam perante a hipótese de que se pudesse chegar um metro mais próximo dos artistas e culminou num problema que tanto preocupou os organizadores do festival. E bem. Menos de cinco min depois, contudo, estavam reunidas as condições e a festa retomou, mas uma mudança abaixo. Pelo menos até Lil Uzi Vert entrar em palco.

A reação do público foi de euforia mas era fácil de adivinhar o que se avizinhava e, em vez de dar a voz, o rapper voltou a apresentar-se em palco para motivar os fãs com os seus gestos. E não estava em palco há muito tempo quando Uzi se atirou para o meio do público, chegando mesmo a perder-se no meio da multidão. Sempre calado, Uzi permaneceu em palco durante várias canções onde se incluiu “Wait For You” que Future descreveu como “a canção número 1 dos tops”.

“Mask Off”, por sua vez, foi a última música a ser tocada na íntegra para agrado dos fãs que aí começaram a dispersar. Seguiram-se cerca de 10 minutos de DJ set acompanhados à voz num sprint por alguns dos temas mais reconhecíveis de Future. E assim, sem mais nem menos, estava encerrada a primeira edição do Rolling Loud em Portugal.


pub

Últimos da categoria: Reportagem

RBTV

Últimos artigos