Em Março do ano passado, Keso dava-nos a conhecer “Algodão Doce”, a primeira faixa de Sinceramente Porto, uma compilação que reunia, em jeito de homenagem ao hip hop da sua cidade, uma série de talentos portuenses, entre eles Roke, a voz intrigante desse tema. A qualidade e o potencial deste MC não passaram despercebidas, nem do público, nem da Paga-lhe o Quarto Records, editora que o convidou a prolongar a colaboração através da edição de novo material.
Shaitan, o resultado desta relação, nasceu a 15 de Janeiro, por isso fomos conhecer a sua essência e significado numa conversa em que falámos ainda do seu timbre e do acto de escrever de forma continuada.
A história de Shaitan está, inevitavelmente, associada à tua presença no Sinceramente Porto. Sentes que a “Algodão Doce” trouxe uma atenção e um entusiasmo maior sobre o teu trabalho?
Involuntariamente, a “Algodão Doce” proporcionou alguma atenção, mas nunca interferiu com o processo nem com a vontade de lançar música.
Nesse tema trabalhaste com o Keso, que agora usou a plataforma da Paga-lhe o Quarto para editar o teu trabalho. Houve logo o desejo de produzir este EP?
Depois da colaboração com o Keso na Sinceramente Porto, surgiu em conversa editar e distribuir um EP pela POQ. Passado uns meses, concretizámos a ideia com o suporte de uma super equipa sempre disposta a remar connosco.
Uma coisa que senti ao ouvir o Shaitan é que houve um amadurecimento da tua voz, a cadência, a rima, a tua sintonia com o beat… Contudo, não editavas nada desde o Corpo & Mente de 2018. O que dirias que foi fundamental para essa maturação?
Acho que a evolução é comum para quem pratica escrita de forma regular, daí haver diferenças rítmicas e temáticas de projecto para projecto.
É uma constante ouvirmos referências e comparações nos temas, e muitas delas bastante diversas entre si. Sentes que é algo que te identifica nos temas? Elas acabam por funcionar como uma espécie de peças que unidas montam o puzzle que é o Roke?
Uso referências para expor analogias e abordar premissas de uma forma mais leviana ou até mesmo mais hiperbolizada.
Quando ouço o teu som, uma coisa que desperta a minha mente é a tua capacidade de ser um rapper com uma linguagem muito contemporânea, mas que soube beber muito bem todo o legado do hip hop. O que sentes que de cada uma das escolas foi transportado para Shaitan?
Sou ouvinte das várias gerações de rap existentes, por isso represento um pouco dessa mistura de sons, códigos e mensagens, embora o intuito seja ser-se sui generis.
Este EP tem um som bastante negro e sombrio. É derivado ao momento actual? Foi muito influência das batidas produzidas pelo Lex Lucas? Elas acabaram por influenciar muito o que escreveste?
Apesar do meu timbre não corresponder ao meu âmago, sempre vivi nesse lado sombrio e também sempre o transpareci nas minhas letras. O Lex é um génio e sem ele não existiria esta banda sonora da minha vida.
O que significa o título do teu EP?
Shaitan é um termo islâmico referente ao diabo ou a um espírito maligno.
Para quem não conhece o teu trabalho, e visto que usaste muitas referências nas tuas linhas, qual delas escolhias para apresentar-te enquanto artista?
“Barba Negra do One Piece.” (Famoso mangá, de Eiichiro Oda, que pode ser ouvido em “Baú”).