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Texto: Vítor Rua
Fotografia: Ilda Teresa Castro
Publicado a: 03/01/2023

Tecnicamente apurado.

Rodrigo Amado no VAGO: o tríptico sagrado

Texto: Vítor Rua
Fotografia: Ilda Teresa Castro
Publicado a: 03/01/2023

No passado dia 28 de Dezembro, pelas 21 horas, o saxofonista Rodrigo Amado deu o seu último concerto de 2022 no espaço VAGO, um clube em Lisboa situado na rua das gaivotas.

Uma excelente ocasião para ouvirmos ao vivo o seu último disco, Refraction Solo, que é também o seu primeiro disco a solo. E que maravilhoso disco é! Já considerado pela imprensa mundial de jazz e da música improvisada como um marco nos discos a solo para este instrumento.

O clube estava cheio de um público essencialmente constituído por jovens adultos da Geração Y que escutavam uma música ambiente própria dessa geração. Prestes a iniciar o concerto e então com a presença do músico, ao primeiro som de saxofone, a sala imediatamente ficou em silêncio, rendida àquele antigo instrumento e à música produzida por Rodrigo Amado.

O som que ecoava no espaço era o de um saxofone tenor, já com umas décadas e com uma sonoridade orgânica que nos permite escutar melodias com texturas “lisas” ou “granulares”, e que fazia vibrar os nossos corpos — pois não só pelos ouvidos escutávamos aquela música, mas também pela ressonância que sentíamos na pele.

O primeiro tema iniciou com notas de longa duração, com um som doce e suave, mas eis que rapidamente Amado se entregou a intrincadas variações, jogando com velocidades e durações temporais variegadas. Utilizando um microfone Sennheiser, era com dificuldade que nos apercebíamos que o som de saxofone que nos chegava aos ouvidos estava a ser amplificado, tal era a qualidade tecnológica — este é um tipo de microfone que reproduz o som do instrumento com uma elevada qualidade sónica muito próxima do seu som acústico.

No final do primeiro tema e depois de ser largamente aplaudido, Amado iniciou a sua segunda composição/improvisação. Um tema de melodia aparentemente simples e de teor popular a la Ornette Coleman, mas que também se transforma num filigrana sónico de altíssima complexidade, repleto de ostinatos e arpejos, executados a uma velocidade alucinante, demonstrativa do enorme virtuosismo do improvisador. Na pausa deste seu segundo tema, e antecedendo o terceiro e último do seu concerto, Amado dirige-se pela primeira vez ao público, agradecendo os calorosos aplausos da sala repleta e atenta, e anuncia que vai terminar o espectáculo com uma última improvisação.

Esta sua última composição, uma espécie de mescla dos dois temas anteriores, iniciou com notas de longa duração, numa espécie de temática que desembocou em texturas sonoras de volume elevado — sons agudos perto dos ultra-sons. Simultaneamente, Amado associou a técnica “growl”, em que o som do instrumento sai misturado com a voz do instrumentista, criando formantes — reforço de frequências por um ressoador —, e multifónicos — dois ou mais sons em sobreposição —, para no final retornar às notas doces, melódicas e suaves de longa duração, dadas pelo seu vintage saxofone tenor.

Numa virtuosa performance musical e aplaudido duas vezes — o público pretendia um encore —, Amado dá por findo o seu brilhante concerto e nós público, uma noite memorável bem passada, a ver e ouvir, um tríptico sagrado, este seu último concerto do ano, com três temas/improvisações do seu último disco.


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