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Fotografia: João Tamura
Publicado a: 14/06/2019

Pedro Escumalha e João Medley Gonçalves lançaram o seu mais recente EP, Perceptions, em Maio.

RLGNS: “Houve um esforço consciente de tornar o mais orgânica possível a música electrónica”

Fotografia: João Tamura
Publicado a: 14/06/2019

O início de Maio presenteou-nos com o lançamento do mais importante trabalho de RLGNS até à data. Pedro Escumalha e João Medley Gonçalves são os autores de Perceptions, EP lançado de forma independente e o primeiro sem Débora Gomes.

A saída da vocalista do grupo redirecciona a atenção – tanto da perspectiva do criador como da do ouvinte – para os instrumentais e camadas que constituem este trabalho. Afastando-se um pouco da dream pop que caracterizava os dois maxi-singles, CDC01 e CDC02, este disco dá espaço para batidas mais desenvolvidas e eclécticas, e também para grooves mais dançáveis.

O EP conta ainda com a participação de Marisa Lazaroff Somssich no violino. O vídeo de “MeAtTheZoo” reflecte bem a paisagem do que é ouvido em Perceptions: o lado conceptual do projecto está patente na sonoridade electrónica com um som muito orgânico – típica de estetas como Bonobo ou Jon Hopkins – conseguida através do sampling, do uso de “gravações de campo” e de instrumentos acústicos.

Ao Rimas e Batidas, a dupla falou sobre o processo criativo de Perceptions, a produção do EP e o seu futuro.



Antes de mais, há, em relação aos EPs anteriores, uma novidade neste disco: passaram de trio a duo. Como é que isso afectou a vossa criação e o resultado final do disco?

Teve de haver uma adaptação da dinâmica do trio para duo: tanto a nível pessoal como musical. Na altura de compor músicas, a exposição das ideias passou a dar-se na base da dualidade, ou seja, se um de nós não concordasse com uma ideia, ela era trabalhada até que funcionasse bem para o todo, o que fez com que a composição se desse menos em ensaios live e mais em studio work, existindo assim um maior foco nos beats. Foi também a primeira vez que tivemos um artista convidado com a adição da Marisa no violino.

Como se dá o vosso digging? O trabalho de sampling de vozes é algo recorrente na vossa música.

Como referimos, com a perda de um membro sentimos a necessidade de continuar a trazer elementos vocais, e daí surgiram os vocal samples (que já usávamos nos EPs anteriores), os quais quisemos tornar numa “personagem principal” das músicas de forma a colmatar a ausência de voz humana. Alguns com origens externas e outros manipulados por nós. Utilizámos também vários samples instrumentais de muitas fontes, desde música pop até folk do Mali.

Como é gerir esta produção a dois? Têm o vosso processo muito organizado ou o instinto e o acaso guiam RLGNS?

De certa forma, a produção é organizada. Neste lançamento decidimos que as faixas deveriam começar sempre pelo drum beat, e dessa forma captámos os field recordings na casa do Pedro e começámos a trabalhar na batida a partir daí. Experimentámos com os mais variados materiais, incluindo areia, pedras e moedas como no beat da “MeAtTheZoo”. Após isso, é sempre um back and forth até à exaustão e principalmente até estarmos ambos contentes com a malha. Depois disso gravámos algumas coisas em estúdio que acabam sempre por modificar as texturas gerais.

Sendo este o vosso trabalho mais desenvolvido até à data, o que podem revelar sobre Perceptions? E de que maneira se relaciona o vídeo da “MeAtTheZoo” com o conceito do EP?

O EP desenvolve-se a partir da percepção humana num contexto natural, tentando transparecer estética e emocionalmente o envolvimento humano com e através da Natureza. Houve um esforço consciente de tornar o mais orgânica possível a música electrónica, a partir do qual surge a decisão de trazer elementos naturais para a música e daí a extensa utilização de field recordings, síntese granular e samples ou captação directa de instrumentos acústicos. O vídeo da “MeAtTheZoo” é mais uma extensão deste conceito: gravámos o vídeo despido de qualquer contacto ou interacção humana com o ambiente captado, cabendo assim ao espectador imergir nas paisagens de acordo com as suas preferências.

O que 2019 ainda reserva para os RLGNS?

Compor, compor, compor! Temos um EP e concertos preparados para breve, e ainda um singlecom um tema muito específico de modo a ser introduzido numa compilação. Esperemos conseguir acabar o nosso álbum de estreia ainda este ano e se possível colaborar com outros artistas.


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