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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 16/11/2022

Do tarraxo ao techno.

rkeat: “Já vi que a simplicidade é o que faz uma cena grande e completa”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 16/11/2022

Esta quinta-feira, dia 17 Novembro, a Labanta Braço ganha corpo e espaço físico para dançar no Lux Frágil num alinhamento que junta live acts e DJ sets de artistas que têm a sua quota-parte em algumas das revoluções sónicas dos últimos anos em território nacional. A propósito da festa, o Rimas e Batidas foi ao encontro de de um desses nomes: estivemos à conversa com rkeat, o produtor que esculpiu instrumentais para singles como “Sauce” (de Sippinpurpp) ou “#YUZIGANG” (de YUZI), e falámos sobre a Think Music, trabalhar com rappers, o acto da criação e sobre algumas novidades reservadas para o próximo ano.



Como é que foi o impacto de chegares a Portugal em 2016?

Eu nasci cá em Portugal, em Almeirim, uma zona pacata no Ribatejo. Já tinha vindo a Lisboa, mas não tinha família cá nem nada. Depois fui para Cabo Verde, viver com a minha família e a minha mãe. Houve uma altura, para aí quando estava a passar para o 10º ano, em que comecei a pensar na música que estava a fazer, a acreditar mesmo naquilo que estava a fazer, então vim para cá, para perto da minha irmã, que já cá estava a viver. Eu em Cabo Verde já era DJ, já ia a festas, mas sempre pensei que ao vir para Lisboa esta cena da música seria capaz de evoluir mais, assim como eu próprio.

E como é que correu essa integração no meio?

Foi muito espontâneo. Olhando para trás, vejo a cena como tendo acontecido de uma forma muito natural. Até parece um filme, eu não conhecia nada, fiz só a minha cena. Cheguei cá, já fazia som… e depois uma discográfica lá do norte, a XXIII, mostrou interesse pela minha cena. Entrei no roster deles e fiz parte durante algum tempo. E a partir daí apresentaram-me o Osémio Boémio, um produtor de Lisboa que é meu amigo hoje em dia. Naquela altura tinham-me dito que ele morava cá e devia reunir com ele. A partir daí comecei a sair com ele, a conhecer outras pessoas que também faziam beats, comecei a ir a concertos, a conhecer pessoas. Comecei a conhecer mais pessoas só de ir a sítios onde havia pessoas com interesses em comum.

Então, a XXIII foi o teu primeiro contacto cá em Portugal. Como é que foi a transição da XXIII para Think Music?

Conheci o oseias., depois fui indo a concertos e conhecendo o pessoal. Estou a falar de amigos, felizmente, mas também estamos a falar de pessoas com quem faço música. Mostrava as coisas que eu fazia, e foi mais a partir daí, desse contacto, ia conhecendo pessoas. Por causa disso conheci o YUZI. Nessa altura ele nem cantava, e eu já fazia beats, e como ele era meu tropa eu mandava-lhe e dizia, “sei que não curtes cantar, ainda não ’tá a tua cena mas olha aí, curte”. Depois ele começou ali a fazer um som que ele não sabia bem o que era, mas dizia sempre, “quando eu for gravar vai ser no teu beat”. E foi esse o beat que depois mais tarde deu origem à “#YUZIGANG”, que foi o primeiro single dele e o primeiro da Think Music. Foi por causa disso. Aliás, houve dois lados. Uma parte foi eu já estar a fazer música para o YUZI e ele estar a ser scouted pela Think, e o pessoal viu que eu era um produtor português, e como a cena ‘tava fixe, se calhar foi daí que partiu o interesse deles. Já havia muitos produtores trap, mas não tantos como agora. Também o Osémio já me tinha dito que o Prof[Jam] andava a criar uma label, então deu-me o toque. Acho que ia dar de qualquer das formas.

Como é que estares dentro da Think Music e fazeres esses géneros de beats? Como é que isso influenciou a tua vida como produtor?

Nessa fase eu já fazia instrumentais de trap há muito. Mas não era o principal para mim. Na altura em que estava na XXIII não estava a fazer tanta produção para rappers. Já fazia, mas não era o meu objectivo principal, ainda queria fazer música a solo, mais electrónica, mas o hip hop e o trap sempre estiveram lá. Porque, por exemplo, quando estava em Cabo Verde estava fazia beats por causa de tropas meus que queriam cantar. Mas chegou uma altura, com a idade, em que me afastei de uma sonoridade que continuo a gostar, só que não estava a fazer tanto sentido como produtor. O mais importante é estar a gostar. Se eu não curtir, não vou estar a fazer. Então, afastei-me dessa sonoridade e decidi entrar mais na zona dos beats, mas nunca parei de fazer a sonoridade que fazia antes. Continuo a fazer os beats estranhos que fazia há cinco anos. Depois na altura em que saí da XXIII afastei-me um pouco da música, para pensar sobre que realmente queria fazer. Nessa altura estava a fazer beats porque gostava, produção para mim é diária. Gosto mesmo de fazer, então era só isso. Nessa altura fui fazendo beats e beats, e a cena começou a funcionar e a partir disso comecei a olhar para os beats como algo que eu queria fazer, então fiquei mais por ali, foi assim que surgiu essa entrada no game do hip hop.

Como é para ti teres o nome numa das faixas clássicas do trap, a “Sauce”?

É surreal, para ser sincero, sempre foi um sonho meu alcançar um disco de ouro (ou um disco de platina). Mas também não esperava que fosse tão cedo. O facto de ter chegado a isso e ter feito um som com tanto impacto é uma sensação incrível. Sinto que foi mesmo a minha visão a concretizar-se e, também da parte deles, do Sippinpurp, e toda a gente que ajudou a fazer aquela música. Foi um single em que senti que tive muita mão e senti que o pessoal conseguiu perceber. Foi uma faixa em que me mandaram a voz e eu é que fiz o beat. Ouvi o que ele ‘tava a cantar e a música desvendou-se ali. Foi bom ter a minha ideia ali.



Como é que descrevias a relação entre rapper e produtor?

Eu gosto. O produtor sabe coisas de produção, e tem de ter algumas noções de cantar, como é que se canta no tempo, etc. Mas há certas cenas no rapper, que não tem esse domínio tão grande da parte produção, que trazem uma nova visão, às vezes até com ideias melhores do que aquelas a que um gajo está habituado. Acontece, acho que é fixe termos escolas diferentes. Mas há certos aspectos em que o meu lado de produtor também tem de se conter, porque às vezes pode ser demais. Então, agora tento ser o mais simples possível. Já vi que a simplicidade é o que faz uma cena grande e completa. Às vezes sentia que as músicas precisavam de mais uma cena, mas à vezes as trocas de ideias acabam por te fazer chegar a melhor resultado. Às vezes mandam ideias que eu penso que nem dá, mas como o rapper se expressa de uma forma diferente do produtor acaba por ser sempre fixe.

Tens vários géneros musicais no teu repertório de produção. Tens jungle na Padre Himalaya, tarraxos e techno no SoundCloud. Como é navegar por tantos géneros musicais?

A música que eu faço hoje é a musica que sempre consumi. Eu sempre gostei de tudo aquilo que me soa bem, não me importa o género musical. Se eu gostar da sonoridade, gosto. Normalmente não penso fazer um género específico. Vai saindo. Há dias em que me apetece fazer uma coisa em específico, mas é porque me apetece fazê-lo, não há um género. Mas se calhar agora é no techno e no trap que me estou a sentir melhor. Mas também não gosto de me deixar ficar nesses géneros. É como disseste, eu tenho jungle na Padre Himalaya, tenho cenas de grime, é o que for. Eu só faço música, não queria ser conotado por géneros. Eu só faço sons. Espero conseguir chegar a esse nível em que o pessoal começa a ver isso. Mas a malta vai conseguir ver.

Podemos esperar algo para breve?

Para o ano vou começar a lançar mais, vou começar a estar mais activo e mais regularmente.

Como é que te sentes a fazer parte desta iniciativa, a Labanta Braço, e finalmente veres esta festa, que é um pouco uma celebração da empatia, a acontecer?

Acho bom. Há situações em que não deu para fazer esta festa, mas acho fixe terem-se lembrado e terem feito também que as pessoas se lembrassem. Fico contente por participar neste projecto, não só pela causa mas também pelo alinhamento em que me incluíram. É bom estar nesta festa e estar nesta ação que parte, como tu disseste, desta empatia. Acho que as pessoas devem explorar mais isso, não fecharem os olhos a certas coisas e não olharem de uma forma tão quadrada. 

Vai ser do tarraxo ao techno?

Em relação ao meu set, normalmente quando vou tocar, tento não pensar tanto no que vou fazer, mas para esta noite tenho preparada muita música minha que ainda não saiu, quero fazer uma cena especial para esta cena. Acho que vale mesmo a pena. Vou tentar ir do tarraxo até ao techno e queria mesmo levar as pessoas numa viagem. Para as pessoas verem que não precisa de ser uma só cena.


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