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Publicado a: 17/10/2017

A (r)evolução do hip hop asiático em dez nomes

Publicado a: 17/10/2017

[TEXTO] Hugo Jorge [FOTO] Direitos Reservados

Quando falamos em música asiática a imagem de uma produção ao estilo de “Gangnam Style” de PSY poderá ser a primeira coisa que nos vem à cabeça. Embora a k-pop e j-pop continuem a representar uma parte muito significativa do mercado oriental, outros movimentos ganham vida por aquelas bandas e reclamam a nossa atenção. Um deles é, sem dúvida, o hip hop, cuja cena explodiu graças a nomes como Rich Chigga ou Keith Ape. Eles estão aí, rimando ao som de batidas trap, usando grillz e fazendo sucesso tanto em Seul como em Atlanta.

São uma nova geração de músicos com uma identidade e estratégia comercial definidas, filhos directos de um hip hop cada vez mais internacional, plano em que a linguagem perdeu espaço para a forma. Isso explica a proximidade de muitos destes rappers da componente visual do rap e trap norte-americanos. Num mini-documentário da Noisey em 2015, OKasian encapsulou esta lógica numa frase bem simples: “Podemos não falar a mesma língua, mas somos parecidos”. Esta ponte cultural tomou forma no sucesso de 2015 “It G Ma”, uma faixa original de Keith Ape que juntava um punhado de rappers asiáticos e acabou reeditada numa colaboração bilingue entre Estados Unidos e Coreia do Sul, juntando músicos dos dois países.

Se ao melting pot juntarmos o efeito das redes sociais e plataformas de stream na divulgação de música, então podemos começar a entender a origem e força desta onda asiática. Novos rappers saltam do anonimato todos os dias, enquanto outros mais rodados vêem a sua carreira ganhar um novo impulso – Dumfoundead é um bom exemplo. E apesar da Coreia do Sul representar a força maior deste movimento, a verdade é que o hip hop penetrou até mercados mais inóspitos como a China ou o Vietname. Mas chega de história. O melhor mesmo é conhecer quem a escreve. O Rimas juntou dez rappers asiáticos que vale a pena ouvir.

 


[Rich Chigga]

Quando em 2016 lançou o singleDat $tick” ninguém percebeu muito bem o que estava a ouvir. Afinal, quem consegue levar a sério um jovem indonésio de 16 anos com cara de bebé, fanny pack e uma camisola cor-de-rosa a rimar sobre gangues e polícias baleados? A verdade é que Brian Imanuel, até então conhecido pelo seu Vine, foi além da dimensão de “meme” e assumiu-se como uma das caras da nova geração de rappers asiáticos. O agora membro da produtora 88rising, foi moldando um estilo genuíno, carregado de rimas mordazes e metódicas. Prova disso é o último single, “Chaos”. É de esperar um álbum de Chigga para breve.

 


[Keith Ape]

Ganhou estatuto de fenómeno com o vibrante hit “It G Ma”, mais tarde remisturado na companhia dos pesos-pesados do trap norte-americano A$AP Ferg e Waka Flocka Flame. Até aí, era o menino bonito do ainda desconhecido trap coreano, cena que dinamizava através do colectivo The Cohort. Depois do boom de 2015, mudou-se para Los Angeles, aprimorou as suas rimas bilingues e foi protagonista de uma campanha publicitária da Converse, de onde saiu o incrível videoclipe de “Diamonds”. Vale também a pena ouvi-lo antes da fama cruzar os mares, quando Keith ainda era Kid Ash, em Brainwash, álbum colaborativo com o seu conterrâneo, G2. Mas como esta lista quer-se actual, fiquem com algo mais recente: “Achoo!” na companhia de Ski Mask the Slump God.

 


[Dumbfoundead]

Filho de migrantes coreanos, nascido em Buenos Aires e a viver há muito em Los Angeles, Dumbfoundead (a.k.a. Jonathan Park) tomou de assalto a Internet com as suas participações em batalhas de rap. Pelo meio, somou uma cheia de álbuns, a maioria dos quais independentes, e uma curta passagem pelo cinema. Apesar de nunca ter dado o salto para o mainstream – inexplicavelmente, muitos dirão – , Dumb conseguiu quebrar os estereótipos associados à minoria asiática ao mesmo tempo que tornou a indústria mais acessível aos seus pares. As suas letras são bilingues e falam sobre o dia-a-dia de um asiático-americano nos “States”, abordando de uma forma, muitas vezes, irónica, temas como raça e cultura – “Safe” é um bom exemplo, faixa que critica a falta de actores asiáticos em Hollywood. Mais recentemente, fundou a sua própria produtora BORN CTZN, através da qual editou o seu último EP, Foreigner.

 


[Awkwafina]

Qual Clark Kent, Lara Lum transforma-se em Awkwafina colocando um par de óculos gigantes que cobrem mais de metade da sua cara dando-lhe um ar cómico. Lum, que além de rapper é actriz, comediante, escritora e apresentadora de televisão, faz do sarcasmo o seu super-poder, desconstruindo o estereótipo oriental com a mesma agilidade tanto na música como no grande ecrã. Filha de pai chinês e mãe sul-coreana, representa a comunidade asiática, mas também a possibilidade de ascensão social das mulheres asiáticas – e, por consequência, de outras minorias. E fâ-lo de uma forma brilhante em “Green Tea”, videoclipe que tem a participação da actriz Margaret Cho. Doses redobradas de ironia e bom humor podem ser encontradas no seu único álbum, Yellow Ranger de 2014.

 


[Aristophanes]

Colocamos um pé no chão da electrónica para falar da taiwanesa Aristophanes. O nome surgiu-lhe durante um sonho, como explicou numa entrevista. E é algures numa dimensão paralela que a sua música toma forma, de ritmos instáveis e frenéticos guiados por uma voz que tanto sussurra como grita. O caso improvável – em Taiwan, ou Formosa, a grande maioria dos rappers são homens – despertou a atenção de Grimes que a chamou para colaborar numa faixa do álbum Art Angels. A dupla continuou a funcionar e mais recentemente editou “Humans Become Machines”.

 


[Higher Brothers]

Rimas em mandarim, referências constantes à cultura norte-americana e uma admiração profunda pela era digital. Eis os Higher Brothers, quarteto que lidera uma geração de rappers chineses  que subtilmente vai desafiando o conservadorismo do seu país. Os emojis são mais fortes do que as palavras, dizem eles, num país onde o acesso à Internet e redes sociais está condicionado. “WeChat”, com a participação de Keith Ape, prova que não há muralha que os pare. A faixa faz parte de Black Cab, álbum de estreia lançado este ano.

 


[Kohh]

Nome maior do rap nipónico, Kohh carrega todos os problemas sociais dos bairros de uma grande metrópole como Tokyo – a sua infância é contada por um documentário da VICE Japan. Deambulando entre o rock e o rap, com um estilo agressivo mas estético, coleccionou fãs dentro e fora do Japão – o ponto alto foi a colaboração com Frank Ocean numa versão alongada da faixa “Nikes”. A sua dimensão ultrapassa as fronteiras da música, tendo, por exemplo, desfilado na Semana da Moda de Paris. Para este “Paris” recomenda-se um copo de Saqué a acompanhar.

 


[Suboi]

Sem se importar com o que os outros pensam, Suboi – uma referência de infância à sua natureza “maria-rapaz” – quebrou barreiras culturais no Vietname tornando-se numa pioneira e auto-didacta. A raiva que ouviu em Eminem levou-a a recorrer à musica para expressar as suas próprias frustrações e vivências. É disso que Doi fala, do período pós-guerra, do pai e e das dificuldades em começar de novo. Em 2016 partilhou o seu talento com Barack Obama durante uma visita do então presidente dos EUA ao Vietname.

 


[OKasian]

Membro dos The Cohort, juntamente com Keith Ape, de quem é amigo de infância, e uma mão-cheia de outros super-talentosos rappers coreanos, OKasian é mais um nome catapultado pela 88rising. A viver entre os Estados Unidos, onde nasceu, e Seul, cidade dos pais, o som de OKasian encontra o equilíbrio perfeito entre uma educação ocidental e e sua herança coreana. Com um único álbum (Boarding Procedures) lançado em 2012, pede-se mais.

 


[Jay Park]

Depois dos Moutain Brothers em 1997, MC Jin em 2002 e Far East Movement em 2010, foi a vez de Jay Park assinar contrato com uma grande editora, a Roc Nation de Jay-Z. O feito é ainda mais notável se pensarmos que Park tem apenas 30 anos e um percurso próximo da k-pop. Nunca nenhum asiático-americano teve acesso a uma plataforma tão grande e Jay Park pode muito bem definir o caminho pelo qual o hip hop made in Asia seguirá no futuro.

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