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Fotografia: Nuno Martins
Publicado a: 09/03/2022

De um magnetismo sem igual.

Rescaldo’22 – Dia 3: estrelas magnéticas e outros corpos celestes

Fotografia: Nuno Martins
Publicado a: 09/03/2022

Escutando-se o arranque da apresentação de Má EstrelaPedro Alves Sousa no saxofone, Bruno Silva e Simão Simões em electrónica, Rui Dâmaso no baixo e João Portalegre na bateria – nada diria que um par de horas antes, nos bastidores do pequeno auditório do CCB, tínhamos conversado com o líder a propósito de DJ Screw e de toda a estética chopped & screwed de que o malogrado DJ texano foi intoxicado (e intoxicante) pioneiro. Mas a verdade é que as improvisadas explorações desta Má Estrela expõem o seu mais remoto ADN quando se começa a analisar as suas múltiplas nuances.

O quinteto, que terá estreia em formato físico em breve na Shhpuma, apresentou-se em palco com o tenor altamente processado e envolto numa redoma de electrónica, analisando com minúcia os abismos que se podem encontrar na hipnótica repetição. E aí, as referências avançadas por Pedro Alves Sousa começaram a fazer muito mais sentido: não apenas as mixtapes regadas a “lean” do pioneiro de Houston, mas também as cavernosas estruturas de graves que o dub clássico expôs. O que era originalmente conseguido manipulando o tempo com as psicadélicas funções de pitch do sampler e o espaço através dos mutes exacerbados com reverb e delay na mesa de mistura é aqui alcançado em orgânica comunhão live, com as faíscas electrónicas de Simões e Silva a espicaçarem constantemente os rugidos expressos em frases curtas de Sousa enquanto Dâmaso e Portalegre arrancam um drone rimbombante das entranhas da própria Terra. Óptima banda sonora para vídeos de implosões de edifícios em câmara lenta.

A sala do Pequeno Auditório do CCB, bem composta de atento público, incluindo algumas crianças que aparentavam não ser esta a sua primeira incursão neste tipo de eventos (há que ir preparando o futuro, afinal de contas, mesmo se às vezes o presente tudo faz para nos tentar convencer de que não vale a pena…) recebeu depois a Máquina Magnética de Gustavo Costa (percussão), Miguel Carvalhais e Pedro Tudela (laptops) e Rodrigo Carvalho (visuais) numa apresentação com carimbo da exploratória e nortenha Sonoscopia.

Tudela e Carvalhais trazem consigo uma ampla experiência de busca com os seus @c, célula criativa que em duas décadas ergueu uma vasta discografia nas mais aventureiras margens da electrónica (alojada sobretudo na sempre excelente Crónica) tendo o ano passado lançado Liminal Movements na lisboeta Holuzam. Já Gustavo Costa é um dos mais incansáveis e originais percussionistas/bateristas da nossa praça, uma verdadeira força da natureza que em 2021 lançou, com selo repartido pela Sonoscopia e Lovers & Lollypops, o fantástico Entropies and Mimetic Patterns.

Juntos, e usufruindo da retaguarda visual servida por Rodrigo Carvalho (mais os cénicos néons que emolduravam o espaço performático), Costa, Tudela e Carvalhais urdiram uma paciente teia de pulsares e texturas, de granulares detalhes e de reverberantes harmónicos metais extraídos de gongos amplificados e de um kit que Costa “enfrenta” de pé e com que fornece a fundação sobre a qual assenta toda a componente electrónica. Verdadeiramente magnética esta máquina cuja música, como a de Má Estrela de resto, também buscou corpos celestes. Estes mesmos, no fundo, os que nos carregam de um tempo (ou lugar…) a outro.

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