pub

Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 12/11/2022

Casa cheia.

Regula no Coliseu dos Recreios: a aclamação de um ícone a celebrar 20 anos de carreira

Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 12/11/2022

Em 2002, Regula estreava-se com 1ª Jornada. Exactamente 10 anos depois, “Casanova” seria o hit que representaria a ascensão do rapper do Catujal — tornando-o num game changer do panorama, conquistando um circuito e inspirando muitos outros a perceber que (já) era possível fazer vida do rap, de forma independente. Mais uma década volvida e chegamos a 2022, quando Regula lança Ouro Sobre Azul e se apresenta em formato unplugged nos coliseus. O Porto terá de esperar até à próxima sexta-feira, dia 18; Lisboa já acolheu “O Da Vila” de braços abertos na noite de 11 de Novembro.

Não foi uma apresentação do mais recente disco, que foi anunciado há seis anos, mas antes uma celebração especial do percurso de Don Gula ao longo de duas décadas de carreira. Em palco, o MC estava acompanhado de 17 músicos e do hypeman Bacar, num formato completamente inédito tendo em conta aquilo a que nos habituámos a ver da sua parte — sobretudo actuações em clubes nocturnos ou festivais académicos no formato tradicional de rapper-DJ, que tanto serviram o seu gravitas de beats digitais, singles explosivos e postura com “temperamento de Joe Pesci no ‘Casino'”.

O que se passou no Coliseu dos Recreios esta sexta-feira, portanto, não foi nada disso. Foi a desconstrução dos temas de Regula, que se expandiram através de uma banda virtuosa orquestrada pelo prodigioso New Max, e que ganharam um novo corpo (e vida) ao longo de cerca de uma hora e meia de espectáculo. Era inevitável que alguns temas perdessem a força dos beats (sentiu-se isso em “Pay Day” ou “Nasty”, por exemplo) mas muitos mais saíram elevados através dos arranjos dos músicos. De “Cabeças de Cartaz” a “Diálogo”, passando por “Júlio César”, “Homem (do Saco)” ou “Toni do Rock”, muitas são as faixas que beneficiaram desta transformação ao vivo e foram apresentadas de forma revigorada. Apesar de já não andar na estrada como há 10 anos, Regula mostrou-se em topo de forma e voltou a demonstrar que tem uma das melhores deliveries do hip hop tuga. A jogar em “casa”, manteve a atitude contida, sem revelar vulnerabilidades nem mostrar grandes comoções.

O alinhamento foi claramente bem estruturado, com altos e baixos de energia ao longo do concerto. Levantaram-se centenas de isqueiros no ar em “Berço D’Ouro”, respeitou-se o luto íntimo de “Rosas”, mas também houve apoteose junto do público — sobretudo quando os vários convidados apareceram em palco, polvilhando o espectáculo de momentos de êxtase. Sam The Kid foi convocado para dose dupla com “Gana” e “Langaife”, Dillaz foi ovacionado em “Wake N Bake”, Veecious V fez um regresso marcante aos palcos portugueses com a sua versão de “Solteiro”, NBC e DJ Kronic evocaram “Especial”, Gson conduziu a performance como um autêntico “Chauffer”. Até o pequeno Santiago veio ao palco ser acarinhado pela multidão. Só faltou a participação de Blaya em “Mêmo a Veres”.

O resultado? Um espectáculo elaborado de consagração, numa altura em que Regula não tem mais nada a provar — e isso nota-se no pouco ênfase que deu ao novo disco –, mas que também pode ser representativo da nova fase do rap português. Depois do sucesso, fruto do hustling; e do dinheiro (como Regula diz, é só isso que tem feito); o que se segue? Não está confirmado se irá voltar à estrada em modo turbo ao longo do próximo ano, não nos parece provável, mas sabemos que tem os meios para concretizar tudo aquilo a que se propuser.

Seja como for, o público consolidado por Regula e outros ao longo dos últimos 10 anos mostra-se sedento de mais rimas que retratem tão bem a sua realidade, seja familiar ou imaginária para os ouvintes — e a consciência de classe torna Regula num rapper muito mais “social” em relação à forma como costuma ser percepcionado. Regula é o homem who made it na década de 2010, aquele que não facilitou mas conseguiu vingar, o rapper que talvez melhor personifique a ascensão do hip hop em Portugal. A sua consagração é, portanto, uma celebração com um significado muito mais abrangente e universal.


pub

Últimos da categoria: Reportagem

RBTV

Últimos artigos