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Texto: ReB Team
Publicado a: 10/01/2022

Recuperar e olhar para o mais pequeno.

Reedições, edições de arquivo e 7″s: o melhor de 2021

Texto: ReB Team
Publicado a: 10/01/2022

Não é comum nesta casa, mas este ano sentimos o chamamento e decidimos não fugir a esse impulso: o director do Rimas e Batidas Rui Miguel Abreu e o documentarista Eduardo Morais focaram-se no verbo “reeditar” e o vinil que vem em dimensões mais reduzidas para uma série de escolhas que vão, esperamos nós, agradar a melómanos e curiosos.



[EDUARDO MORAIS]

“Em mais um ano de tragédias para o cemitério que é o Mar Mediterrâneo para alguns países de língua árabe como a Palestina ou o Líbano — ou o mais afastado Afeganistão —, várias foram as editoras independentes do Ocidente que celebraram a música do passado na região SWANA.

Em três lançamentos — uma compilação e duas coletâneas —, a Habibi Funk estabeleceu-se como a mais leal e digna editora a operar no mercado, extrapolando do campo musical e agindo politicamente sobre as comunidades que edita.

Lançado na recta final de 2021 — com a promessa de edição física para 2022 —, o meu topo da lista vai para The Intifada 1987, a disponibilização das caseiras gravações do palestiniano Riad Awwad com instrumentos electrónicos customizados, cuja edição em cassete levou à detenção do compositor por vários meses e à apreensão das suas cópias pelo exército israelita.

O compositor egípcio Baligh Hamdi — samplado por J Dilla ou Jay-Z — tem cada pé numa posição diferente desta lista: primeiro com a reedição das longas jams ao vivo de Khalik Hena, onde acompanha a cantora norte-africana Warda pela mão da francesa We Want Sounds; depois com Instrumental Modal Pop of 1970’s Egypt num carimbo da Sublime Frequencies.

De trajecto discográfico não tão consolidado mas a manter debaixo de olho: a Souma Records deu-nos as composições televisivas do egípcio ​​Hany Mehanna, enquanto a Right Track trouxe uma necessária nova edição para o clássico do libanês Elias Rahbani.

Em plena crise das grandes companhias aéreas, durante este ano foi também possível visitar musicalmente obscuridades de outros destinos como Espanha, Austrália, Grécia ou até mesmo Portugal.

Nos registos em sete polegadas, o luso-venezuelano Alex Figueira disparou um extraordinário single para incendiar as pistas de dança em “Maracas”, ao mesmo tempo que a Vampi Soul transforma dois hinos da pirosa década de 80 em bizarros hinos de cumbia. Da Estónia, Misha Panfilov Sound Combo solta mais um airoso groove de lisergia europeia actual e a enigmática Beynelmilân Orkestrasi incorpora a tradição turca com modernos instrumentos electrónicos.”

REEDIÇÕES:

Riad Awwad, Hanan Awwad and Mahmoud Darwish – The Intifada 1987 (Majazz Project)

– Warda – Khalik Hena (We Want Sounds)

– Majid Soula – Chant Amazigh (Habibi Funk)

– Baligh Hamdi ‎– Instrumental Modal Pop Of 1970’s Egypt (Sublime Frequencies)

– V.A. – LA OLA ANTERIOR Spanish Ambient & Acid Exoticism 1983​-​1990 (Bongo Joe)

– V.A. – Costa Nova II – Atlantic Funk & Soul Gems from Portugal (71-79) (Costa Nova Records)

– V.A. – Music For Airplanes – A collection of instrumental showpieces aMusic For Airplanes – A collection of instrumental showpieces and scores for Egyptian films and TV​-​series (1973​-​1980) (Souma Records)

– Wendell Harrison – An Evening with the Devil (Now-Again Records)

– V.A. – Ena Tefariki – Oriental Shake, Farfisa Madness & Rocking Bouzoukis From The Greek Laika Movement (Radio Martiko)

– V.A. – Oz Echoes: DIY Cassettes and Archives 1980​-​1989 (Efficient Space)

– Ian Carr’s Nucleus – Roots (Be With Records)

– Elias Rahbani – Mosaic Of The Orient (Right Track)

– Omar Khorshid – Omar Khorshid With Love Vol. 1 (We Want Sounds)

– Rogér Fakhr – Fine Anyway (Habibi Funk)

– Costa Blanca ‎– Viaje A Prantía (Altercat Records)

7″:

– Alex Figueira – Maracas (Music With Soul!)

– Misha Panfilov Sound Combo – Gin Tonic / Horizon (Fnr)

– Beynelmilân Orkestrasi – Tatli Dile Güler Yüze / Kirpiklerini Ok Eyle (Korsan Plakçılık)

– Cumbia Moderna de Soledad/Machuca Cumbia – Da Ya Think I’m Sexy​/​Stayin’ Alive (Vampi Soul)

– Leoparden & Rezzi Razzi – Hele Natta Lang (Lyskestrekk Records)

– Your Old Droog x MF DOOM – Dropout Boogie (Nature Sounds)

– Monsalve Y Los Forajidos – Bichos Remixes EP (Olindo)

– Nyati Mayi & The Astral Synth Transmitters – Jubilee (Bongo Joe)

– Nu Genea & Célia Kameni ‎– Marechià (NG)

– Morton And The Uptights – Taurus / Montego (Radio Martiko) RE



[Rui Miguel Abreu] 

“O passado nunca foi tão presente, de facto. Incluindo algum passado que não o chegou a ser, por ter sido logo arquivado e por ter permanecido décadas sem ser amplamente escutado, como aconteceu com o registo de 1965 da apresentação em Seattle de A Love Supreme, obra-prima de John Coltrane. A gravação feita por Joe Brazil permaneceu inédita durante mais de cinco décadas, mas em 2021, no âmbito das celebrações em torno dos 60 anos da Impulse, mereceu finalmente edição. Um ponto alto do ano, sem a menor sombra de dúvida. Também como parte das mesmas comemorações, foi-nos dada a ouvir a devoção espiritual de Alice Coltrane em Kirtan, como nunca antes tinha sido possível escutá-la. Um bálsamo num ano em que todos os remédios para a alma foram bem-vindos.

Houve mais edições de material arquivado e nunca antes lançado, pelo menos não da presente forma: a banda sonora do mestre François de Rubaix, Les Secrets de la Mer Rouge, concertos dos Can em 1975 ou as sessões completas do lendário Lee Morgan no Lighthouse, por exemplo. Com o jazz a agitar o presente, é natural que se parta também em busca das raízes desta cultura, gesto que ajuda a entender a profusão de preciosas e oportunas reedições nesta área.

Uma palavra também para o arranque do necessário e urgente programa de recatalogação da obra de José Afonso por parte do selo Mais 5 que para tal missão recolheu importante apoio da família do malogrado génio.

Finalmente, no campo dos sempre entusiasmantes sete polegadas, destaque natural para a rodela que reuniu Your Old Droog, Edan e MF DOOM no mesmo espaço vinílico. Uma verdadeira preciosidade. A repartição do clássico de J Dilla Welcome 2 Detroit por um abençoado conjunto de 7″, o relançamento pela Mr. Bongo de clássicos hip hop de EPMD ou Main Source, a reedição remasterizada de “The Number Song” de DJ Shadow ou a recuperação da pérola de Vum Vum Muzangola por parte da Groovie Records foram outros dos pontos altos do ano para aqueles que acreditam que os discos, como de resto as pessoas, não se medem aos palmos.”

Reedições e edições de arquivo:

– John Coltrane – A Love Supreme – Live in Seattle

– Alice Coltrane – Kirtan: Turiya Sings

– François de Rubaix – Les Secrets de la Mer Rouge

– Arthur Russell – World of Echo

– Can – Live in Stuttgart 1975

– Hailu Mergia and The Walias Sound – Tezeta

– Lee Morgan – The Complete Live at the Lighthouse

– Ian Carr’s Nuceus – Roots

– Roy Brooks – Understanding

– Sun Ra – Lanquidity

– José Afonso – Cantares do Andarilho / Traz Outro Amigo Também / Contos Velhos Rumos Novos

– William Parker – Migration Of Silence Into And Out Of The Tone World

– Don Cherry — Om Shanti Om

7”

– YOD + MF DOOM – Dropout Boogie

– J Dilla – Welcome 2 Detroit (7” boxset)

– Alex Figueira – Maracas (Music With Soul!)

– Vum Vum – Muzangola

– Sven Wunder – Impasto

– EPMD – The Big Payback

– DJ Shadow – The Number Song

– Main Source – Fakin’ The Funk

– The Diasonics – Gurami

– Soul Supreme – Let’s Ride / Soul Supreme – Feelin’ Good


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