O novo álbum já está cá fora e é mais uma prova da militância de Rato54, MC que está na fila da frente do som de Gaia há praticamente duas décadas. O hardcore dos Doink moldou-lhe a identidade e deixou o underground português de queixo caído em plena era dourada do rapcore e do nu-metal, mas À Solta segue a fórmula de sempre: beats e rimas num registo tão clássico como Rato sempre foi.
Já lá vão dois meses desde o lançamento e as novidades não se ficam por aqui. Em conversa com o Rimas e Batidas, Rato54 garantiu que a promoção do álbum ainda não acabou — “mas são surpresas!” — e levantou o véu sobre o regresso dos Doink, que aponta para breve. Falou no tempo, no espaço e aproveitou para deixar o convite: “Estou ansioso para ouvir o pessoal todo a cantar o À Solta”.
Dois meses depois, estás satisfeito com os resultados alcançados pelo disco? Com que objectivos é que o lançaste?
Estou super feliz com o À Solta. Cheguei a achar que tinha cometido um erro em fazer um disco físico, pois apercebi-me que as plataformas digitais tomaram conta do sistema, mas queria muito ver este trabalho materializado e sei que fiz a escolha certa. Nunca pensei vender tantos discos, principalmente fora de Portugal (aproveito a oportunidade para deixar um abraço ao pessoal de Paris, São Paulo, Luanda e Newark). Achei que a minha cena só rolava em Gaia, Porto e pouco mais. Também costumo andar pela rua a vendê-lo e está a ser uma surpresa sentir o carinho do povo todo que o compra e que fica ali comigo a conversar, a beber um copo, a ouvir um som até o dia cair. Este disco é um presente para quem ouviu o Rato54 em 2011 e fez dele aquilo que ele sempre desejou ser.
Tens planos para o continuar a promover?
Em termos de promoção do disco, tenho umas surpresas preparadas para saírem muito em breve. Uma delas será especial. Mas são surpresas!
A presença ao vivo é uma das tuas características mais marcantes. O que é que o público pode esperar dos concertos de apresentação deste À Solta?
Quem me conhece sabe como vivo os concertos. Com a fome que estou de palco será certamente um bom momento para mim e para o público. Estou ansioso para ouvir o pessoal todo a cantar o À Solta!
A certo ponto, no refrão de “Gangster”, há uma referência ao clássico “És como um Don“, dos Mind Da Gap. Vinte e dois anos depois, o Ace ainda está em forma e é um dos poucos convidados deste disco. A longevidade também te preocupa ou preferes viver o presente sem pensar nisso?
Sou um ser que vive o presente. Não penso no tempo, nem no que ele provoca em mim ou nos outros. No fundo quero é ter saúde.
E o regresso ao passado, à estética dos Doink, é possível? Ou até uma segunda vida da própria banda…
A estética dos Doink é um dos elementos que compõem a fórmula do meu sangue, e aproveito para dizer que Doink está a terminar um disco, que espero que saia ainda este ano.
Mesmo a solo, sempre tiveste uma sonoridade muito industrial e fora da norma. Já no novo disco, segues uma linha mais clássica. Voltar ao chamado boom bap também é uma forma de ser diferente?
De forma inconsciente sempre quis fazer um disco clássico, independentemente dos tempos que correm e das sonoridades que agora predominam no panorama do rap nacional. De forma consciente, nunca o faria para ser diferente. Sou apenas eu e a minha real criação artística, e eu sou um clássico.
“Quem me dera que nascessem microfones numa árvores qualquer”, dizias tu em “9miletal“. A profecia parece ter-se cumprido — ainda bem que há espaço para todos ou é caso para dizer “cuidado com o que desejas”?
Na minha visão há espaço para todos, mesmo para os que não sabem o que é o espaço.