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O misterioso e igualmente pioneiro artista nova-iorquino Rammellzee é objecto de um novo documentário que tem o carimbo da Red Bull Arts, a mesma entidade responsável por curar, em Nova Iorque, a exposição Racing for Thunder, inaugurada no início do mês de Maio e aberta ao público até ao próximo dia 26 de Agosto.
O artista, que visitou Portugal para duas apresentações em 2007 — na ZdB, em Lisboa, e na Fundação de Serralves, no Porto — faleceu em 2010, permanecendo como um excêntrico enigma que marcou o mundo das artes plásticas e, lateralmente, o do hip hop.
Na altura em que visitou o nosso país, o programa da Fundação de Serralves dava conta da sua importância: “Rammellzee é uma das forças mais peculiares do post-punk nova-iorquino nos anos 80. O seu trabalho artístico assenta sobre a teoria por si desenvolvida e designada por “Iconic Panzerism”, vagamente baseada na reavaliação pós-estruturalista dos sistemas de linguagem, pormenorizando uma estratégia mais ou menos anárquica para a revisão do papel e do desdobramento da linguagem na cultura e na sociedade. Este plano é veiculado esteticamente no universo muito especial que Rammellzee criou e definiu como “Gothic Futurism”. As suas experiências com a abstracção da forma das letras foram fundamentais no movimento Graffiti em Nova Iorque e sua fama estabeleceu-se quando pintou as carruagens do metro com Jean-Michel Basquiat”.
Rammellzee deixou igualmente marca vincada no arranque da cultura hip hop quando, logo em 1983, gravou, com K-Rob, o clássico “Beat Bop”, tema que foi editado num altamente coleccionável (e bastas vezes reeditado) vinil com capa assinada por Jean Michel Basquiat.
“Na música”, explicava-se ainda em 2007 na comunicação de Serralves, “Rammellzee é uma das vozes mais originais do hip hop, tendo introduzido nos anos 80 estilos vocais muito particulares cuja influência ainda hoje é sentida em grupos como os Beastie Boys. Os Death Comet Crew são seus colaboradores desde então e ajudaram na criação da facção mais dura, underground e também arty do hip hop emergente em Nova Iorque naquela década. Hipsters da downtown nova iorquina numa altura em que punk rockers e b-boys frequentavam as mesmas festas, misturam ritmos sincopados com fragmentos de diálogos de filmes e de emissões televisivas, scratch, guitarras caóticas e noise industrial, numa das mais curiosas intercepções entre pos-punk, no-wave, disco e hip hop resultante da colisão entre várias “cenas” periféricas de Nova Iorque nos anos 80″.
Edições na japonesa Tri-Eight Recordings, na alemã Gomma ou na britânica Gamma Proforma ajudaram a cimentar o culto de um artista que, no entanto, foi muito para lá da música, como muito bem explicou recentemente, a propósito desta mesma exposição, a autora Geeta Dayall.
Agora, a Red Bull Arts apresentou o documentário It’s Not Who But What da autoria de Oscar Boyson. Trata-se de um filme realizado em estreita colaboração com a equipa curadora da exposição que é, até à data, a mais ampla mostra do visionário e revolucionário trabalho do artista que se apresentou ao mundo como Rammellzee.