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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 15/01/2019

Rafael Toral ao vivo no gnration: “Estou a demolir fronteiras…”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 15/01/2019

Rafael Toral apresenta-se ao vivo em Braga, no gnration, no dia 18 de Janeiro. À cidade dos Arcebispos, Toral vai levar um espectáculo com que assinala um quarto de século sobre o lançamento de Wave Field, um dos seus primeiros exploratórios trabalhos a solo que o ano passado mereceu relançamento através da Drag City.

Este concerto terá uma vertente visual especial e será apresentado com som surround 6.1, propondo-se assim uma invulgar experiência imersiva ao público que decida estar presente.

Explica Toral que Wave Field nasceu, ele mesmo, de uma experiência sensorial muito específica, num concerto dos Buzzcocks em Portugal, em 1994, quando assinaram a primeira parte da única e mítica apresentação dos Nirvana no nosso país, no Pavilhão do Dramático de Cascais, uma caixa de reverberação gigante, para quem se lembra.

Daí a um disco que ganhou estatuto de culto e mereceu elogios de gente como Lee Ranaldo ou Jim O’Rourke foi um passo, com a Moneyland Records a acolher a edição original que, mais de duas décadas depois, mereceu relançamento em vinil pela etiqueta de Chicago Drag City, a mesma que já tinha dado atenção a Plux Quba, outro seminal trabalho de electrónica portuguesa, este com assinatura de Nuno Canavarro.

A propósito desta oportuna e simbólica apresentação de Wave Field, Rafael Toral respondeu a quatro perguntas do Rimas e Batidas.



Como é que achas que o tempo marcou um projecto como o Wave Field? O que significa regressar aquela música, 25 anos depois?

O que acho fascinante é justamente que o tempo não o tenha marcado. Na altura estava a tentar concretizar uma ideia que tinha na cabeça, mas agora percebo porque teve um impacto tão grande quando saiu. É um objecto que consegue ser ao mesmo tempo estranho e sujo, mas também familiar e claro. Encontrei-o intacto, ao fim destes anos todos, não envelheceu nada. Para além da comemoração e da recente reedição em vinil, esta revisitação dá-se num período de transição em que estou a demolir as fronteiras que delimitaram o Space Program e a entrar num campo mais aberto, o que inclui permeabilidade a dados vindos de obras que construí no passado.

O álbum foi originalmente editado pela Moneyland Records, etiqueta do João Paulo Feliciano bastante conotada com um certo rock alternativo. À época também produziste trabalhos nas margens do rock, caso dos Supernova por exemplo. É um campo de que te poderias voltar a aproximar? Há algo de rock no Wave Field?

O Wave Field é como um destilar de rock, uma essência de rock tornada líquida. Foi num concerto dos Buzzcocks com péssima acústica, em que não se percebia nada senão uma massa indistinta de som, que “ouvi” o Wave Field pela primeira vez.

Como paradigma de trabalho, interessa-me pouco, o rock baseia-se no formato de canção, interpretada pelos elementos de uma banda com uma lógica funcional. Pode produzir resultados maravilhosos, mas eu preciso de um campo de trabalho mais aberto. Mas tenho tido curiosidade sobre possibilidades numa esfera mais jazz-rock ou algo híbrido com um grau semelhante de abertura.

Este espectáculo terá particularidades acústicas e visuais. Podes elaborar sobre isso?

É uma versão que elaborei em resposta a um desafio da Filho Único e optei por expandir a peça no tempo com materiais de origem mas modificados, e no espaço, com um sistema surround hexagonal com espacialização independente de várias camadas de som. Também tem a particularidade de eu não tocar guitarra ao vivo, e ainda está em aberto se vou tocar alguma coisa além de operar a mesa.

Visualmente, recuperei um vídeo de 1995 (Power Field) que me habituei a exibir na época com a performance ao vivo de Wave Field.

Mais planos para os próximos tempos?

Muitos… vou tentar passar mais tempo em estúdio e menos a organizar digressões, para começar finalmente a gravar o próximo disco que há-de materializar e definir o âmbito desta “terceira fase” e trabalhar na concepção de um novo modelo/paradigma de performance solo. Mas antes desse, há duas produções em curso, uma nova colaboração com o João Pais Filipe na esteira de “Saturn”, e uma versão de “câmara” de uma peça de 1992, (AER 7, incluída no Sound Mind Sound Body), com piano, harpa, vibrafone, etc. É um projecto antigo que tenho querido fazer desde então. Há também a estreia ao vivo de uma nova formação do Space Quartet, e ainda coisas que já estão prontas há tempo mas ainda não saíram, como o trio com Tim Daisy e Mars Williams gravado em Chicago, ou o duo com Ryan Jewell…


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