[TEXTO] Gonçalo Tavares [FOTOS] Pedro Mkk
Depois de um set de abertura de DJ D-One e uma breve passagem pelos 90s, East Coast e West Coast de Notorius B.I.G e Coolio, por exemplo, Rael entra para a Cave de um Plano B muito bem composta. Rouba o microfone e a sua voz soa límpida, muito próxima do que conhecemos em estúdio, compensando a sua performance reservada. O rapper paulistano, com 4 álbuns e uma carreira de peso, não dramatiza ou se gesticula, não dá muito show com o corpo. Mas não o faz porque não precisa.
O refrão de “Tudo Vai Passar” e de “Do Jeito”, na linha da frente da setlist, continuam cativantes e descobrem-se nas vozes da audiência. Quando o MC pedia coro, os presentes eram muito receptivos, como se ouviu no acappella de “Rouxinol”, com grande parte da sala em uníssono com o músico.
O concerto foi também uma antologia da carreira de Rael, 8 anos desde o lançamento do seu álbum de estreia, MP3 – Música Popular do 3° Mundo, tendo dado para perceber as mudanças de gosto dos seus instrumentais e vocais. “Vejo Depois” e a sua flauta tropical e a muito bem recebida “Ela Me Faz” com guitarras e metais jamaicanos evoluíram para a produção mais cuidada de “Estrada” ou “Minha Lei”, ambas do último álbum Coisas do Meu Imaginário. Dos contornos reggae do refrão de “Tudo Vai Passar” para o canto em hino de “Ser Feliz” para o flow técnico de “Tá Pra Nascer Quem Não Gosta”.
A voz cantada de Rael ganha destaque em “Aurora Boreal” (e na gag que a antecedeu em que fingiu que ia cantar “A Change Is Gonna Come” do Sam Cooke) parcialmente só tocada com guitarra e o seu delay. A audiência é afectada pelo intimismo do momento mas não perde a reacção. Se até então dançava energicamente ou levantava as mãos, agora cantava de forma subtil, carinhosa. Esta dicotomia alimentou o concerto até ao fim — a música de Rael sem adornos no palco a telecomandar os corpos e vozes do público.
Uma acappella sobre um episódio da tour de 2008 serve de intro para “Envolvidão” e para uma audiência ao rubro. Ainda ouvimos “Quem Tem Fé”, “Num é só ver” de Emicida e reveladora da cumplicidade dos dois músicos (Capicua, outro vértice do projecto Língua Franca, onde entram os brasileiros, estava na plateia), “De Amor”, um cover de “A Casa” do Vinicius de Morais e Toquinho e uma reprise de “Aurora Boreal” para fechar o show. Sempre apoiado na voz e com uma permanente (e bem conseguida) comunicação com o público.