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Fotografia: Luan Martins
Publicado a: 24/09/2024

Cantora brasileira faz primeira eurotour com concertos em Lisboa e no Porto.

Rachel Reis: “Eu fico muito feliz com a minha trajetória quando eu olho pra ela desde o começo de tudo”

Fotografia: Luan Martins
Publicado a: 24/09/2024

Ser cantora não estava nos planos iniciais de Rachel Reis. Cantar era apenas uma brincadeira. Mas o viés musical fazia parte do DNA familiar. Sua mãe, Maura Reis, foi cantora de forró e seresta, fazendo versões de Kelly Key e Rouge, porém, encerrou a carreira ainda na infância de Rachel, passando o bastão para a filha mais velha Sarah Reis. “E eu demorei um pouquinho pra ir pra música porque, apesar de gostar de cantar, não levava a sério”, diz. “Até tinha algumas pessoas de casa e conhecidos que diziam que eu tinha uma voz boa pra cantar”. O interesse aflorou de verdade somente aos 18 anos pela necessidade dela levantar um dinheiro.

“Sempre trabalhei fazendo coisas aleatórias. Então, eu comecei a cantar em bares. Aproveitei uns contatos que minha irmã tinha quando parou de fazer MPB e fui. Fiz isso por uns dois anos, até que a vontade acabou. Já estava com uns 20 anos, e pensava: ‘Puxa, eu vou ficar cantando aqui até quando? Eu vou ficar cantando, perdendo a noite, ganhando pouco, escutando conversa de bêbado, já deu, né!?'”.

Foi nesse período que decidiu voltar a estudar. Entrou na universidade para fazer direito, mas após o primeiro semestre mudou para o curso publicidade e propaganda. Paralelo aos estudos, começou a fazer suas próprias músicas. “Trouxe de volta o olhar para a música, para tentar um outro caminho”. Nesse período também trabalhava como recepcionista de um posto de saúde. “Era um trabalho muito pesado, muito cansativo, e eu já estava exausta”, observa. “Eu lembro que queria muito sair, mas não tinha como largar porque não tinha dinheiro”. O empurrão aconteceu depois do assassinato do colega de trabalho que mais dividia os planos de futuro. “Ele queria ser jornalista, eu tinha vontade de fazer várias coisas, inclusive cantar”, revela. “Quando aconteceu isso com ele, eu me desestabilizei e larguei esse trabalho”. 

Após sair do emprego dedicou-se ainda mais às composições. Dessa imersão, nasceram duas músicas: “Sossego” e “Ventilador”.  Para gravá-las, Rachel economizou dinheiro e partiu da Bahia para Pernambuco. Essa decisão mudou de vez os rumos da vida dela. “Isso aconteceu em 2020. Foi o que Deus quis… Falei assim: ‘Vai ser o que Deus quiser.’ Depois disso, eu não parei mais”. Com fé, rabiscos, ideias e melodias gravadas e guardadas na cabeça, a Sereiona do Brasil (como se autodenomina) arquitetou Meu Esquema, o álbum que marcou sua estreia oficial. Antes, ela já tinha conquistado os ouvidos com alguns singles, incluindo “Maresia”, e o EP Encosta (2021). 

Sempre com sorriso no rosto, ela diz na conversa por vídeo chamada que esse disco foi desenvolvido com uma mistura de coisas. “Não foi algo que eu pensei do início ao fim, tipo: ‘Essa é uma história que eu quero contar, eu quero trazer essa energia.’ Não. Foi uma mistura de rabiscos que eu tinha ao longo da vida, de áudios, melodias, referências”, observa. “Eu peguei e misturei algumas coisas que eu pensava para o Encosta, porque a ideia era que fosse um álbum, só que para levantar um álbum eu precisava de uma estrutura maior e tudo mais”. Assim, ela guardou “sobras” do EP para fazer o disco que abriria as portas do Brasil e do mundo para a música dela. 

Sem falsa modéstia, Reis afirma que tinha confiança que seu trabalho seria bem recebido, tendo em vista que suas músicas já estavam caindo no gosto das pessoas. Logicamente, o receio bateu na porta porque conceitualmente o projeto ia para um caminho diferente do que ela tinha feito antes. Mas a confiança se manteve.

“Quando a gente lança, a gente sonha que chegue em lugares legais, né?”, reflete. “Que seja indicada a prêmios e tudo mais… a gente fica feliz com isso. Mas quando vê acontecer de fato é que o negócio pega. É bem diferente e eu sempre tento manter os meus pés no chão em relação a indicações e a premiações, porque a gente nunca sabe quando pode acontecer e por quais fatores isso pode acontecer. Mas quando a gente vê rolando, depois de tanto trabalho, de tanto suor derramado em cima daquilo, não tem como não vibrar. Então, a premiação do APCA (Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte – uma das mais importantes premiações do Brasil), que ganhei de artista revelação, o MVF Awards, de videoclipe do ano com “Lovezinho”,  e a indicação ao Grammy Latino (2023) foram coisas que me deixaram muito feliz, ainda mais no período que veio, que era um período em que o álbum tinha acabado de completar, acho que dois anos”. 



[A DESCOBERTA NOS PALCOS]

Presente na programação do MIL Lisboa, onde se apresenta dia 26 de Setembro, Rachel Reis faz uma pequena turnê pela Europa passando pelo Porto (Casa da Música), no dia 27 de Setembro, e seguindo para Madrid (29 de Setembro na Sala Siroco), Barcelona (1 de Outubro na Jamboree), Dublin (2 de Outubro no The Grand Social), Berlin (4 de Outubro no Badehaus), finalizando com um concerto no Studio l’Ermitage em Paris (5 de Outubro). Essa vai ser a segunda vez que ela sai do Brasil. A primeira foi em 2023 quando participou da premiação do Grammy Latino em Sevilha, na Espanha.

“Eu nunca tinha saído do Brasil, mas graças à música isso está acontecendo. Eu estou nessa ansiedade de conhecer os lugares, de cantar para essas pessoas, de cantar para as pessoas que são do Brasil e que foram morar fora e que gostam de mim, que vão aproveitar isso, aproveitar o meu show lá para poder fazer esse contato comigo”, revela. “Eu estou nervosa, não vou mentir para você não”.

Experiente em se apresentar nos pequenos tablados dos bares, em meio a conversas e bebedeiras, nem sempre tendo a atenção merecida, Rachel teve que rapidamente se descobrir nos grandes palcos. “Eu nada madura, porque a minha experiência era de barzinho, mas eu não tinha experiência de palco”. Quando passou a fazer parte de grandes festivais, tendo contato com um grande público e com pessoas que não a conheciam, teve que se adaptar. “Era o tempo inteiro trocando pneu com o carro andando”, brinca. “Eu lembro que eu tinha uma certa inocência sobre isso. Tipo, que era só ir lá e fazer. E isso aconteceu com Meu Esquema. Então, eu fico muito feliz com a minha trajetória, quando eu olho pra ela desde o comecinho de tudo”. 

Mais madura, ou com a maturidade ainda em desenvolvimento, como a própria afirma, Rachel Reis parte para o final da turnê de Meu Esquema. Diferente do começo, agora entra no palco com mais confiança. “A gente tenta se organizar. Vai com uma banda. Eu já tenho mais intimidade com o público e consigo me comunicar melhor, o que era um grande desafio no começo”. Para os concertos em Lisboa e no Porto, e os outros que fará no continente europeu, ela pretende levar um formato que se aproxime da plateia. “No formato reduzido, eu consigo interagir mais”, ressalta. “Eu adoro, amo, essa dinâmica de estar mais perto”. 



[SEGUNDO ÁLBUM]

Rachel Reis assegura que apesar de estar seguindo para as últimas apresentações de Meu Esquema, nunca vai abandoná-lo, porque é um filho. Sem querer, quase que ela dá um spoiler do que está por vir, mas logo se recompôs. O tempo de pouco mais de 2 anos que um terá do outro foi necessário para que ela construísse outras histórias. Porém, o segundo álbum chegará apenas em 2025.

“Ele está 95% pronto, mas esse ano tem spoiler de verdade que vai dar pra entender a energia dele. Eu acho que, inevitavelmente, como é o segundo álbum, ele tá um pouco mais maduro na composição, né? O artista sempre diz: ‘Esse aqui é o meu maior projeto.’ Mas eu sinto que depois de tudo que eu já fiz nele, de ter uma participação ativa na produção, que realmente é o que mais tem todos os pingos nos i’s do jeito como eu quero exatamente, do jeito que eu imagino”, reflete. “Então, eu tô muito animada e acho que é diferente de Meu Esquema porque talvez  fale um pouco mais sobre mim, do que sobre relacionamentos amorosos. É sobre essa complexidade que eu gosto de trazer na música em relação aos sentimentos, tanto sentimentos bons quanto sentimentos ruins, sabe?”

Para que saia do jeito que imaginou, Rachel diz que o processo de composição foi mais organizado. Também entendeu a história que desejava contar. “Eu quero ir por esse caminho, são essas experiências que eu quero trazer, eu vou sentar aqui, eu vou compor, vou fazer assim”. Essa dinâmica nem sempre acontece, depende muito do período e o que ela quer compartilhar, mas dessa vez teve que ser assim. “Eu lembro que a maioria das músicas que fiz, eu sentei, fui pensando, catei algumas coisas que eu já tinha guardado e eu levei pra outros caminhos. Foi muito nesse sentido”. 

Entre composições, concertos e gravações, a artista tem uma faculdade para terminar. E mesmo com toda essa carga, afirma que conseguiu conciliar tudo com tranquilidade, sem surtar, principalmente depois do carnaval. Aproveitando o assunto composição, faço uma última pergunta para Rachel Reis: entre palco e estúdio, qual é o seu ambiente preferido? Essa é aquela questão que faz os artistas pensarem duas vezes antes de responder. “Agora você me pegou porque eu gosto muito da coisa de compor”, diz. “Eu sinto que é o momento mais mágico que tem na coisa do artista, de fazer música. Eu acho que o momento de compor essa música, de colocar voz nessa música, é muito interessante”. Sem escolher um lugar preferido, ela concorda que um complementa o outro. 

“Geralmente, o nervoso é mais quando a gente vai pro palco, o frio na barriga é maior. Mas quando eu tô no palco também me sinto muito bem. Eu me considero mais puxada pro lado da composição, mas eu sinto que é isso: uma coisa alimenta a outra aqui na minha dinâmica. Eu preciso de uma coisa para que a outra funcione”.


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