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Quavo & Takeoff

Only Built For Infinity Links

Quality Control / UMG Recordings / 2022

Texto de Leonardo Pereira

Publicado a: 07/11/2022

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Only Built For Infinity Links é a estreia em dupla do tio Quavo e do sobrinho Takeoff, conhecidos maioritariamente como membros dos Migos, trio com bases firmes no estado de Geórgia, nos Estados Unidos da América. Já lá iam mais de 10 anos de história daquele que era provavelmente o grupo de trap mais conhecido mundialmente quando Offset, o outro membro-fundador que ainda não tinha sido referido, deixa de seguir os outros dois nas redes sociais, começando aí a especulação sobre esta cisão, que é fácil de encontrar pela Internet fora e que acaba por não ser de muito interesse a sua exploração. Portanto, arriscamos começar a análise com a seguinte afirmação: este é um dos melhores álbuns de trap do ano. 

Nem o tio nem o sobrinho se acanharam e dá para sentir que havia algo a provar para os dois neste OBFIL: flows variados e interessantes, afastando-se um pouco dos triplets com que os Migos conquistaram o rap game, acrescentando variedade às cadências e aos tons com que cospem barras que nunca, ou pelo menos raramente, fogem ao subject matter a que estamos todos habituados – o braggadocious, o come-up e o struggle, a superioridade lírica e financeira, a prolificidade sexual e, claro, os Audemars Piguet. Mas é mesmo por isso que ouvimos Migos, não é? Uma nota adicional para a mestria de Quavo a escrever refrões e a adaptar a sua voz para momentos diferentes – há um esforço claro para que determinados momentos sejam orelhudos e para que as linhas quotable tenham o impacto pretendido.



Em termos de seleção de batidas, há highlights e lowlights, como de costume num álbum destes intérpretes. Destacamos aqui algumas que achei notáveis: “Bars into Captions” (com produção de Buddah Bless & Quavo) é uma interpolação lindíssima da “So Fresh So Clean”, dos Outkast (sempre referidos por todos os membros dos Migos como sendo uma das suas maiores inspirações); “See Bout It”, saído das mãos de Mustard, Nic Nac e Sean Momberger, tem um sample de sopros que criou um quartinho para viver na nossa cabeça desde a primeira vez que a ouvimos; “Look @ This” (feito a seis mãos por Murda Beatz, Zaytoven & DJ Durel) é introduzida por um arranjo de cordas que soa a pavilhão de dança do século XVII em Paris e que é tornado num beat rico com uma textura surpreendentemente avultada para trap, estendendo a passadeira vermelha perfeita para as rimas da família. Foco final em “Mixy” (de Murda Beatz & Joseph L’Étranger), que nos apresenta a única voz feminina do projecto, Summer Walker, mais uma vez numa forma indiscutível, e obriga tanto Quavo como Takeoff a adoptar um ritmo diferente, que não lhes fica nada mal (algo que já tinham mostrado nos respectivos álbuns a solo), e em “Nothing Changed” (DJ Durel & Mars), que causa uma inevitável stank face

Antes de fecharmos o texto, há ainda que referir a qualidade das features no disco – a primeira que ouvimos é a de YoungBoy Never Broke Again em “To The Bone”, o que define logo uma fasquia alta. E só não fica por aí porque em “Chocolate” recebemos o duo Young Thug e Gunna (free the boys!) que simplesmente se recusam a não ser a atracção principal de uma faixa. De Summer Walker já falámos (mas aproveitamos para reforçar que soa a paraíso e que a queremos ver mais neste registo). Birdman e Gucci Mane fecham o longa-duração em termos de colaborações, em “Big Stunna” e “Us vs. Them”, respectivamente, e os veteranos sabem perfeitamente o que é que têm de fazer para soarem bem, especialmente o Wop, que deixa uma mensagem especial – “Free Young Thug and Gunna, while you at it Pooh and Foo (slime!)”.

O álbum peca um pouco pela duração (demasiado longo), mas devemos admitir que poderá ser mais uma questão de attention span e que não cortávamos nenhuma das faixas do alinhamento final. Mesmo que algumas se afastem de um ritmo ideal, nenhuma é uma skip, o que é uma melhoria clara sobre os outros trabalhos do grupo. 

RIP, Takeoff, gone too soon! The culture will miss you.


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