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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 11/12/2020

Sentir o pulso ao presente.

PZ e Da Chick triunfam no Betclic PlayMinds

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 11/12/2020

Numa semana onde a esperança num futuro menos confinado, isolado e distante fisicamente aumentou com as boas novas do início da vacinação, começamos a fazer o exercício nostálgico de olhar no futuro e ver nele o passado tão desejado, algo que a Betclic contrariou com uma experiência em que, em vez de pensar no passado, olha para o presente. Na era do ter de ficar em casa, e em que a vida se tornou quase exclusivamente virtual, nasce um universo paralelo, computorizado, onde as cidades são verticalmente enormes, os carros voam, as cores, como num bom universo sci-fi, vivem do preto e do azul, e o néon, esse clássico, existe em qualquer esquina. Este é um universo escapista, onde não somos humanos, mas sim avatares, personagens 3D, capazes de actos como saltar, dançar ou aplaudir (sem nos mexermos) os oitos artistas convidados a participar nesta realidade. Divididos em quatro unidades determinadas por sorteio prévio, músicos distintos, que nunca trabalharam entre si, uniram esforços para compor um tema inédito em 48 horas e o resultado foi ontem apresentado nesta virtualidade chamada Betclic PlayMinds.  

Xinobi e Marta Ren tiveram as honras de abrir este duelo, apresentado por Surma, a quatro músicas em que o júri éramos nós, os avatares que rodeavam em semicírculo os músicos, ou melhor, as suas representações digitais recriadas através de um processo de motion capture capaz, posteriormente, de simular os gestos, movimentos e as características físicas dos mesmos, enquanto o som tocava. “ Love For The Money”, apresentou uma união, nem sempre totalmente funcional, entre a eletrónica mais ou menos reconhecível de Xinobi e o apelo rock de Marta Ren. Pelo contrário, muito funcional foi a segunda actuação em que a combinação dos registos de Da Chick e PZ (onde nem o pijama faltou) foi perfeita. Uma faixa extremamente dançante, que tanto pendia para as batidas robóticas e minimais de Paulo Pimenta, como para o groove da autora de conversations with the beat. No no meio de tanta dança com feeling 80s, ninguém calcou os pés a ninguém e cantou-se em português, em inglês, houve algum rap, hooks viciantes (saídos de um sintetizador voador) e até o primeiro solo de guitarra de sempre de Da Chick. Foi-nos depois confidenciado pelos dois que tudo foi muito natural e que nem sentiram muita distinção das suas linguagens musicais, que elas completaram-se na perfeição. Nós também achámos.

O terceiro bloco levou-nos à música afro-portuguesa, convidados pela voz soul e cheia de corpo de Selma Uamusse e pela produção situada algures entre Berlim e Luanda de DJ Marfox. Foi interessante, mas como disseram, e bem, no chat: “faltou dois minutos ao tema” e mais Luanda. Para o final ficou o encontro portuense entre Tiago Nacarato e Capicua, num tema bem mais pop, directo e friendly que os anteriores, mas não menos eficaz, pelo contrário. Excelentes vocais, óptima linha de baixo, com a voz de Nacarato a combinar na perfeição com os backing vocals da rapper, que também debitou rimas que nunca retiraram o ponto certo de subtileza ao tema.

Uma fantástica canção que tem tudo para ser um hit de rádio, mas que, mesmo assim, não conseguiu retirar a vitória à segunda dupla: PZ e Da Chick foram recompensados com mais votos, mas também com uma bolsa de criação no valor de cinco mil euros.

Em breve, os quatros temas poderão ser ouvidos e vistos nas plataformas habituais. E ainda é possível fazer doações aos músicos presentes no projeto através de betclicplayminds.pt, onde podem também ter acesso ao making of dos processos de captação e produção do universo, ou a conversas sobre temas devidamente levantados como a correlação entre a interacção virtual e real, a criação nestes dois universos, o presente e futuro. Temas essenciais no nosso dia a dia e que tornam este conceito rico. Se calhar mais rico até que a própria execução, que, apesar de boa ao nível da animação, em que se conseguia perceber com imensa facilidade quem eram os músicos só pelos seus maneirismos, acabou por ser breve e talvez demasiado simplista. Bem sabemos que na era do virtual o mundo se pede rápido, mas estes 20 minutos pareceram escassos e demasiado breves, faltaram alguns momentos de pausa, como, por exemplo, no final, em que o espaço entre a última música e a revelação dos resultados foi quase nula. A relação entre os participantes também foi quase nula, assim como não se criou uma grande ligação entre participantes e os seus avatares. No fundo, durante estes minutos de escapismo, ouvimos alguns inéditos, estivemos entretidos e apreciámos o design visual desta cidade futurista e das animações, mas acabámos por não nos questionar sobre as grandes lições do projeto. Não sabemos se existe uma segunda edição a caminho, mas este projeto parece, tal como a sua duração, curto e passageiro. Por muito que viver num universo paralelo seja interessante, este acaba por se perder na repetição do produto sobrando o interesse das colaborações, e essas poderão ser feitas de diversas formas, muito mais imediatas.

No entanto, temos sempre de dar valor pela iniciativa de fazer algo distinto, inovador, por apoiar a música, ajudar a criar e, quem sabe, moldar o futuro e novas fórmulas, apresentar novas perspectivas de como fazer arte, ou dar concertos virtualmente, ou só por si, produzir algo que envolveu cerca de 40 pessoas, e, segundo foi dito, tanta diversão garantiu nas fases de motion capture. E num presente como o de hoje, tudo isso é essencial e urgente.

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