[TEXTO] Rui Miguel Abreu
Martin Jenkins construiu uma muito considerável discografia nestes últimos cinco anos: entre lançamentos em variados formatos e através de diferentes editoras (Ghost Box, Type, Ecstatic, Death Waltz, Dekorder…) contabiliza já sete álbuns (um deles em regime split com Not Waving) e outros tantos singles e EPs. O mais recente desses projectos tem por título Prowler e registou edição da norte americana More Than Human.
Prowler vai já na sua segunda edição em vinil, depois da primeira, entretanto esgotada, já registar preços bem dilatados no Discogs (cerca de 55 euros, a cópia mais barata). Sinal de que o output de Jenkins é sempre recebido com entusiasmo. Facto perfeitamente justificado ante a qualidade que invariavelmente exibe.
Este seu mais recente álbum é composto por sete faixas e soa quase como uma suite de lenta progressão, imersa em névoa analógica, num pulsar denso, negro e absolutamente hipnótico. Como se alguém tivesse filmado uma festa no The Institute em 1987 e projectasse o resultado na parede de uma cave ajustando o filme para o modo slow motion: techno para assombrar sonhos é o que Pye Corner Audio oferece em Prowler.
No fundo, Jenkins tem vindo a aproximar-se de um modelo intrigante: a sua criação assenta num atento e aprofundado estudo do passado, adopta e assume a personalidade das ferramentas que elege em cada momento (sintetizadores analógicos neste caso), mas nunca cai no erro do mero mimetismo, insuflando na subcave das suas criações detalhes de contemporaneidade que funcionam quase como migalhas de sentido largadas num labirinto de memórias. Migalhas que lhe permitem reencontrar o caminho de volta ao presente. E escutando Prowler não há a menor dúvida de que se por um lado Jenkins tem mergulhado com afinco nas invenções de futuro remoto comandadas pelos Underground Resistance, por outro sabe bem com que frequências (graves) se desenha o presente que vai sendo erguido na Hyperdub e quais as melhores formas encontradas por estetas como Legowelt para insuflar fantasia nos arranjos das suas criações. O melhor de dois (ou mais…) mundos.