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Publicado a: 11/06/2016

ProfJam: Introspecção e electricidade a colidirem numa noite sem espaço para Mixtakes

Publicado a: 11/06/2016

[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTOS] cross. e Rea Jones

Um novo capítulo começou na história de ProfJam. O Teatro da Comuna recebeu o concerto de apresentação de Mixtakes, o seu mais recente trabalho, e não sobraram dúvidas sobre o que aconteceu: ProfJam foi vencedor do princípio ao fim.

O Dia de Portugal e os Santos Populares a pintarem Lisboa de outra cor e o espaço da Comuna ia enchendo a conta-gontas enquanto Lhast passava uma selecção incrível de música. O produtor foi o responsável por fazer o warm-up e não falhou na sua missão. Ouviu-se Kendrick Lamar, Drake, Pusha T, Dillaz, Kaytranada ou Dr.Dre numa miscelânea de novos clássicos que terminou com “Do You No Wrong” de Richie Campbell, música produzida pelo DJ de serviço. O bass colocava as paredes a tremer e o público ambientava-se à sala até à chegada do primeiro nome da noite.

Seguiu-se Vácuo. O MC lançou este ano o seu álbum de estreia e foi por aí que se concentrou o material do seu showcase. A sala já apresentava uma moldura preenchida e Vácuo apresentou-se sozinho apenas com DJ. Sem inventar novas fórmulas, tivemos uma entrega muito assertiva com um flow que não traz de novo, mas que encaixa com as drums duras e os graves a perpetuarem-se no Teatro da Comuna. Palco cheio com Benny B, Eliot, Rott e Uno a fecharem o primeiro concerto da noite e a preparar-nos para o que viria a seguir…


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As cortinas fecharam e os b-boys invadiram o público da Comuna, fazendo uma espécie de interlúdio entre concertos – um momento a mostrar que ali se vivia hip hop. A cultura a ser celebrada e este era um dos concertos mais importantes do ano: ProfJam é um dos MCs da nova escola que criou uma base fiel de seguidores e é um dos mais criativos artistas desta geração que tem nomes como Mike El Nite, GROGNation ou Slow J – todos presentes no Teatro da Comuna para ver ProfJam.


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A entrada em palco do MC de Telheiras não se fez demorar e a sua entrada em palco dá-se com o único momento de Mixtakes que não é criado por si: “Dope (Hypnotik Skit)”. O espaço estava totalmente preenchido e as pessoas dão sinal que estão lá para tornar o concerto inesquecível ao cantarem de peito cheio “Festa Privada”, a primeira canção deste novo trabalho. Percebeu-se desde o início que o público estava conquistado sem Prof ter proferido uma palavra e até se ouve entre o público que o “homem vai ser grande”. Se existiam dúvidas antes do concerto, no fim sobrariam poucas…

As fórmulas do rapper são claras: existem rimas com duplos sentidos a deixar-nos a pensar em faixas como “Quatro Elementos”, “Mikado” e “Além”. As palavras de ProfJam trazem sempre uma certa espiritualidade associada e uma missão de tentar nos abrir as portas para algo mais esotérico. Mixtakes distancia-se de The Big Banger Theory porque é um trabalho introspectivo a tentar limpar-nos a alma do que nos polui numa sociedade a sobrecarregar de informação desnecessária.

O público sabe as letras do início ao fim e ProfJam vai sentido isso. “Não consigo parar de sorrir”, diz a certa altura do concerto. Rapper em estado de graça teve o primeiro grande momento quando se ouve “Queq Queres” onde rima que Viris, Gula, Sam, Mundo e Allen Halloween vivem dentro dele. ProfJam quer estar entre os melhores e não se coíbe de nomear os rappers que o inspiram. Certamente que ouviremos no futuro um MC em começo de carreira a referenciar o nome artístico de Mário Cotrim como inspiração também.


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A chegarmos ao fim de Mixtakes, “Malang Kalam” – um local espiritual criado por ProfJam – é a última música desta primeira parte que deixou claro que estávamos perante um dos momentos do ano. Mike El Nite, o DJ de serviço, tomou conta dos pratos e tentou que o público não desertasse na pequena pausa que dividiu o espectáculo, tratando de fazer a passagem do boom bap mais clássico do último trabalho e os instrumentais trap de TBBT.

O novo Justiceiro do hip hop nacional – que é DJ, produtor e MC de nível bem acima da média — deu-nos pérolas de hip hop que foram de “That Part” de SchoolboyQ ou “Jumpman” de Drake e Future ao grime de “That’s Not Me” de Skepta e Jme. Estava na altura de dar a vez a ProfJam e a electricidade da mixtape de 2014.

A segunda metade foi inaugurada e tivemos, finalmente, os convidados prometidos. Magboy foi o primeiro a acompanhar ProfJam para “Cépticos” e percebeu-se uma mudança radical na atitude do público: o som mais à base de graves de TBBT deixou o público mais enérgico a acompanhar o MC ligado à electricidade. A introspecção deixou de ter espaço e foi inteligente a forma como ProfJam separou os dois ambientes com a passagem certeira do seu DJ de serviço.

Um dos primeiros grandes momentos surgiu com Papillon (GROGNation) em palco. “Money” é a união de dois dos mais talentosos MCs da nova escola numa faixa onde mostraram as suas skills de forma exímia. “Este é o melhor concerto que já vi o Prof fazer”, desabafava Mike El Nite no palco. Não existiam dúvidas de que o público reagia em conformidade com a celebração e puxava o MC para cima em todos os momentos.


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O momento mais esperado da noite acabou, naturalmente, por chegar num concerto que já ia longo. O DJ tornou-se MC e “Mambo Nº1” levou a sala à loucura. A música feita a quatro mãos por ProfJam e Mike El Nite é, certamente, o primeiro grande clássico moderno de hip hop nacional, mudando, aquando da sua saída, o paradigma em termos de instrumentais, temáticas e flows que se ouviam em Portugal até à data.

A longa lição do professor estava finalizada e os alunos levaram consigo a matéria bem dada. ProfJam vai ser grande e tem uma base de seguidores pronto para o seguir até onde for preciso. O MC demonstrou que sabe rimar em qualquer ambiente sonoro e deixou uma marca em todos aqueles que quiseram ver os Mixtakes no Teatro da Comuna. Se passarem por lá, é possível que ainda encontrem o ProfJam a rimar em acapella em cima do palco…


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