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Publicado a: 24/10/2016

A procura pela redenção dos “super-heróis falhados” Weis e Virus

Publicado a: 24/10/2016

[ENTREVISTA] Ricardo Farinha [ARTWORK] Pedro Podre & Contra

Weis (rapper) e Virus (além de rapper, produtor) são dois artistas da cidade do Porto que se juntaram para criar Agora ou Nunca, um EP de “super-heróis falhados” com 12 faixas. Já conhecíamos Weis da mixtape Preso a Ideias Soltas, por exemplo, e Virus lançou neste mesmo ano a beat tape Streetamente para a Rua.

A dupla esteve à conversa com o Rimas e Batidas sobre a produção deste disco e até já se fala de um futuro trabalho entre os dois, além de outros projectos onde o duo se volta a cruzar. Ora espreitem.

 


Como surgiu a colaboração entre os dois?

Weis: Conheci o Virus há uns tempos através de um amigo que temos em comum e que estava sempre a dizer (tanto a mim como ao Virus) que nos devíamos juntar. Apresentações feitas, acabei por ir a casa do Virus ouvir uns beats e letras e gostei do trabalho dele. A partir daí, ele chegou-se à frente para começar a produzir para mim e a ideia agradou-me bastante. Embora trabalhássemos mais como rapper e produtor, a ideia de rimarmos juntos sempre esteve presente.

Virus: Uma vez vi o Weis na rua! Ele olhou para mim, eu olhei para ele e disse assim: “Vou-te comer!” E comi. Basicamente é esta a historia por trás do nosso romance.

 

Como recolheram os instrumentais para o EP?

Weis: O primeiro som do EP a surgir foi “Dinheiro”. Era um tema do Virus e quando ele me mostrou pedi para entrar na faixa também. Podemos dizer que o EP começou a partir de uma faixa solta. Gostámos do resultado e, à medida que ele ia produzindo, ia-me mostrando os instrumentais que ambos gostávamos. As que transmitiam alguma ideia nós seleccionávamos. Também houve instrumentais que surgiram depois de letras. Mostrava-lhe algo que tinha escrito ou vice-versa e se achássemos que dava para o EP íamos procurar samples e sonoridades que nos levassem até à onda da letra.

Houve ainda dois beats que não foram produzidos pelo Virus: um pelo Effennexis — mal me foi mostrado pensei que aquele beat era a cara do nosso EP e que teríamos de gravar ali; e outro pelo Khapo — para essa faixa não estávamos a conseguir encontrar o beat e demos mesmo muitas voltas. Até que numa ida à HoodGroove, o Khapo mostrou-me uns instrumentais e achei que este ia resultar bem para a letra que tínhamos.

Virus: Com um saco de serapilheira. Fizemos uma convocatória de 12 a 13 voluntários para a colheita dos mesmos, iniciámos a campanha de recolha um dia destes que passou. Entretanto… após escolha dos melhores produtos, convocámos mais um ou dois trabalhadores altamente especializados para tratarem então do produto como deve ser (não é?) e fazer chegar então aos seus lóbulos frontais com um kick do cara?#o.

 

Como foi trabalharem em conjunto? Como é que isso funcionou?

Weis: Ui, que pergunta… [risos] Eu gostei bastante de trabalhar com o Virus e acho que me ajudou a estruturar melhor algumas coisas. Embora tenha sido um projecto relativamente rápido, vejo uma boa construção e fiquei contente com o resultado final… Para mim, as maiores dificuldades foram acompanhar o ritmo de escrita deste rapaz e aturar o “perfeccionismo” dele. Para o Virus, os sons “nunca estão bem”; estão sempre no “quase quase lá”. Isso começava-me a deixar de pé atrás no lançamento do EP porque cada vez achava aquilo mais desactualizado e já me tinha fartado dos sons.

Virus: Bacano, a verdade é que tem de ficar perfeito, se não o que é que um gajo cá anda a fazer, não é? Mas após chegarmos ao amor perfeito, percebemos que o perfeito não existe e temos de trabalhar com o que existe. Dito isto, posso afirmar que adorei fazer este projecto de bosta com o meu puto Gustavo! Difícil foi não acabar com um projecto idiota no meio de tantas ideias.

 

Porquê a estética dos super-heróis? Conseguem explicar-nos esse conceito?

Weis: A ideia dos super-heróis surgiu com um tema do EP que depois foi sendo desenvolvido mais na capa, nos teasers e skits. Mas deixo o Virus desenvolver esse conceito melhor.

Em relação ao título “Agora ou Nunca”, este surgiu não só por estar ligado aos super-heróis mas também porque o momento em que estávamos a trabalhar no EP era decisivo: eu ia para fora dentro de três meses e o Virus também não iria ficar por Portugal. As gravações teriam de ser tratadas “agora ou nunca” e assim foi! A três dias de sair de Portugal ainda andávamos a gravar algumas partes do EP.

Virus: O tema nem é bem super-heróis. A cena é super-heróis falhados porque no fundo todos o somos. Todos dizemos que vamos mudar o mundo e o c#ralho mas no fundo nada acontece. Isso acaba por ser o reflexo das nossas personalidades e da forma como retratamos as conversas de hoje em dia. Surgiu então o nome “Agora ou Nunca” visto que salvamos o mundo agora ou já não há remédio para a coisa.

 

Que temas é que procuraram abordar no EP?

Weis: O EP acaba por ter dois lados: um fun/egotripping/javardice e outro em que abordamos temas mais “sérios” e introspectivos. Nestes últimos temas, abordámos a questão do dinheiro e como este controla o mundo; a desgraça do presente — através do “Cápsula 540” que supostamente é um som do futuro que retrata uma viagem ao passado (presente); o percurso natural de tudo na vida — ou a arte de não dizer nada para alguns [risos]; e o amor.

Virus: O que me passou pela cabeça.

 



E que sonoridades procuraram ter?

Weis: TODAS! Quer dizer, neste EP ainda não exploramos tudo o que temos em mente mas procuramos não ficar fechados a uma sonoridade e ir experimentando. Neste EP ficamos mais à volta das batidas clássicas porque talvez seja a sonoridade em que estamos mais à vontade para rimar os dois.

Virus: Algo que te faz abanar a carola, que podes sentir no carro a ir para casa e que te possa dar energia. Eh.. não sei bem. Claro que se nota que seguimos uma onda de sons “samplados” e batidas mais corridas, mas em termos de querer conduzir a audiência para um ambiente especifico não aconteceu à priori.

 

Que projectos é que os dois têm para o futuro?

Weis: A nível pessoal estou a tratar de mais um EP, mas numa sonoridade bastante diferente do que tenho vindo a fazer (se bem que alguns dos sons já são de 2014). É um EP mais electrónico e com vários produtores, ainda não posso adiantar muito sobre este projecto porque ainda me faltam definir algumas coisas.

Tenho também várias faixas soltas para lançar, participações para trabalhar e queria mesmo começar a tratar disso. Há uns dias comecei a pensar também num EP Weis e Virus 2 e, a brincar, a brincar, acho mesmo que vai acontecer (mas tudo a seu tempo rapaziada…). Para juntar à festa, há uns meses surgiu-me a ideia de fazer um álbum, não sei quando, ou se vai acontecer, mas já tenho no ambiente de trabalho uma pasta com o nome “possível álbum” e com umas letras lá dentro, vamos ver…

Virus: Demasiadas cenas para a minha pequena cabeça queimada das drogas [risos]. Basicamente, nos próximos dois meses vou lançar o meu EP a solo, ainda sem título, e a minha segunda beat tape que tem o título  Hidden Stash. Estou a pensar em lançar também uma compilação de sons antigos dentro de uns meses, algo só para ficar no registo e não como mais lixo no meu PC. Depois, os projectos em que estou mais empenhado: um EP com o Keno, em que vou entrar apenas na parte da produção — agendado para daqui a um mês — e ando a cozinhar também o que será o meu primeiro álbum, para sair dentro de meio ano a oito meses, sensivelmente.

O tal muito provável Weis e Virus 2 para sair daqui a um ano ou algo assim… e um EP de sonoros muito mais virados para o electrónico que quero produzir aqui ao meu colega Gustavo, embora ele ande meio hesitante. Vamos lá, pessoal, quem falar com o gajo que puxe por ele também que eu sei que vai ser em prol da humanidade!

 


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