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Publicado a: 12/02/2017

Prince: a cor do génio é púrpura

Publicado a: 12/02/2017

[TEXTO] Rui Miguel Abreu [FOTO] Direitos Reservados

Hoje realiza-se a 59ª edição dos Grammys e artistas intemporais que desapareceram no último ano como Prince ou George Michael serão homenageados, como não poderia deixar de ser. Quanto ao primeiro, um ícone em todos os aspectos musicais e não-musicais, o Rimas e Batidas recupera um texto originalmente publicado num número especial da revista Blitz. Rui Miguel Abreu é quem assina o ensaio sobre um deus da guitarra e nome incontornável da música pop, funk e rock que, finalmente, parece ter caminho aberto para as plataformas de streaming.

 

“Esperem alguns dias antes de desperdiçarem orações”, disse Prince ao grupo de fãs que a 16 de Abril de 2016 se juntou para uma festa em Paisley Park, o complexo de estúdios, sala de concerto e residência a que o génio púrpura chamava casa, em Chanhassen, Minneapolis, Estados Unidos. Na manhã de sexta-feira, dia 21 de Abril, a polícia foi chamada a Paisley Park depois da descoberta de um corpo inanimado num elevador. A notícia seria confirmada algumas horas mais tarde: Prince Rogers Nelson tinha morrido. O choque abateu-se sobre o mundo alguns dias depois de um alerta: uma aterragem de emergência do avião privado de Prince seguida de uma ida ao hospital cuja razão foi mais tarde apontada como “um severo caso de gripe”. Prince ainda foi visto a andar de bicicleta na sua vizinhança durante nessa semana, por isso nada apontava para um desfecho para o qual ainda não foram dadas razões de ordem médica ou de qualquer outra natureza. Prince desapareceu portanto aos 57 anos, meros meses após a edição daquele que foi o seu derradeiro projecto, o álbum HITnRUn Phase Two, lançado através do serviço de streaming Tidal em Dezembro último e em CD, no arranque deste ano.

Tomando apenas os seus mais profundos traços de carácter – a capacidade de entrega total ao trabalho, a excentricidade, a conduta quase espartana no que ao corpo dizia respeito, a libido acentuada, o permanente inconformismo, a necessidade de controlo absoluto de tudo o que se passava à sua volta, as nítidas reservas em relação aos media, a atitude de resistência face à indústria em que se inseria, o desafio de convenções de género e raça – nada diria que o que definia Prince não pudesse igualmente estruturar a personalidade de um génio da alta finança, de um atleta de elite, de um avançado cientista ou até de um prodígio das esferas mais eruditas da música. As qualidades deste singular artista sempre o elevaram alguns patamares acima da média. Por isso mesmo, Mick Jagger, na reação às notícias do seu desaparecimento, descreveu-o como “revolucionário”. Não há qualquer dúvida de que Prince inovou, inspirou e marcou muitas carreiras dos anos 80 em diante.

 



O New York Times descreveu Prince como “um reinventor do seu mundo e de si mesmo”, referindo-se ao facto do cantor ter sabiamente evitado a mais comum armadilha da pop – a cristalização de uma imagem que pode funcionar como um espartilho condicionador de carreira: Madonna, nascida no mesmo ano de Prince, dificilmente conseguirá alguma vez escapar à sua condição de eterna bomba sexual, imagem cada vez mais complicada de manter à medida que se aproxima vertiginosamente do seu 60º aniversário; Michael Jackson acabou mesmo por ser vítima da sua própria imagem de criança para sempre perdida num mundo de adultos; os Rolling Stones continuam a levar até ao limite a imagem de eterna «touring band», de bichos cujo habitat natural é a selva do palco. Que imagem singular poderíamos nós pregar no mural de Prince? Pegando no chavão «é um pássaro? É um avião?» criado no mundo dos comics para Super-homem, poderia perguntar-se o que foi, afinal de contas, Prince: «um músico de R&B? Um músico de rock? Homossexual? Heterossexual? Pansexual? Foi um homem de negócios? A primeira estrela musical do futuro? A última estrela musical de um passado que não volta? Negro? Branco?» A lista poderia continuar e serviria apenas para reforçar a ideia de que Prince se deu a algum trabalho para não se deixar enclausurar em nenhuma cápsula produzida pela voraz máquina pop. Prince foi, simplesmente, Prince. Um género de um homem só. Um universo com um único habitante. Um fenómeno.

George Clinton, histórico líder do monstro de duas cabeças Parliament/Funkadelic, que chegou a gravar para a Paisley Park Records, descreveu Prince ao New York Times como “um dos grandes: é um músico tremendo, estudou tudo e todos. E passa a vida a trabalhar. Mesmo quando está a improvisar com outros músicos no estúdio, ele está a gravar. Ele também vai a festas; e ouve de tudo na rádio; vai a clubes e depois vai para o estúdio e fica toda a noite acordado a trabalhar. Ele tem muito mais coisas gravadas do que o que ele edita”.

Num país onde a raça ainda carrega um peso especial – veja-se o atrito gerado recentemente pela adição dos N.W.A. ao Rock and Roll of Fame ou, algum tempo antes, a discussão erguida em torno da passagem de Beyoncé pelo intervalo do Super Bowl -, Prince insere-se, claro, numa nobre linhagem de artistas negros que usaram a capacidade de construir uma identidade artística vincada como uma alavanca de transformação da sociedade, como uma afirmação de individualidade e de liberdade num país que há 50 anos ainda debatia direitos fundamentais para os negros e que continua, no presente, a procurar erguer-se acima das divisões raciais e sociais que a sua própria história impôs. De Cab Calloway nos tempos do jazz a Little Richard no período formativo do rock and roll, de Jimi Hendrix e Miles Davis nos fervilhantes e libertários anos 60 a Sly Stone e George Clinton na expansiva década seguinte e daí a Michael Jackson há um panteão de fulgurantes artistas negros onde é igualmente possível inserir Prince Rogers Nelson. Personalidades distintas, únicas, cada uma delas revolucionária à sua maneira. Prince foi um dos gigantes.

 


[A BIOGRAFIA]

Prince nasceu em Minneapolis a 7 de Junho de 1958, precisamente quando o rock and roll se afirmava como a banda sonora do futuro da América. A sua família era oriunda do Louisianna e de forte inclinação musical: a mãe, Mattie Della, era cantora de jazz e o pai, John Lewis Nelson, foi um pianista líder de um trio de jazz. O seu nome artístico era Prince Rogers.

Ainda adolescente, Prince tocou teclados e guitarra na banda Grand Central ao lado de Andre Anderson, cantor que anos mais tarde teve uma breve carreira como Andre Cymone registando um pequeno hit com “The Dance Electric” a meio dos anos 80 – um dos muitos temas que Prince escreveu e produziu para outros artistas. Os Grand Central mudariam depois de nome para Champagne.

Aos 17 anos, Prince e Andre Cymone foram contratados para trabalharem com a banda 94 East. Datam desse período, anterior à estreia discográfica em nome próprio, algumas míticas sessões que constituem a pré-história discográfica de Prince que, com a experiência de estúdio conseguida com os 94 East, haveria de gravar as primeiras maquetes que o seu manager de então, Owen Husney, haveria de usar para lhe conseguir um contrato com a Warner Brothers. A estreia aconteceria em 1978 com o álbum For You, disco em que Prince deixou logo clara a sua individualidade assegurando a composição, interpretação e produção de todos os temas, incluindo a execução de todos os 27 instrumentos usados nas gravações.

Embora Prince tenha, justamente, conquistado a reputação de imbatível músico de palco graças a míticos e intensos concertos ao longo dos anos e até aos tempos mais recentes – assinou, por exemplo, uma incrível passagem pelo Coliseu dos Recreios em 2013 à frente do explosivo trio feminino 3rdEyeGirl -, não se deverá esquecer que foi igualmente um verdadeiro génio do estúdio, sabendo desde cedo separar os planos da performance de palco da dimensão mais cerebral do estúdio onde sempre recorreu às mais avançadas tecnologias para registar as suas ideias. Prince foi, nitidamente, um homem da idade das multipistas, quando a sua personalidade se podia, enfim, subdividir em diferentes canais, revelando-se em toda a sua riqueza plural: dono de uma invulgar capacidade rítmica e de uma óbvia riqueza melódica, Prince era ainda um cantor multi-tímbrico capaz dos mais arrebatados falsetes ou dos mais sensuais sussurros. Esse generoso pendor artístico, capaz de explorar diferentes direcções em simultâneo, fez de Prince um autor prolífico que, foram garantindo os seus colaboradores ao longo dos anos, deixa incontáveis horas de gravações inéditas nos cofres de Paisley Park, um acervo que se foi acumulando porque, muito simplesmente, Prince viajava a uma velocidade superior à das luzes da ribalta, gravando muito mais do que o mercado pop poderia absorver.

Um pouco de contabilidade, portanto. E volte-se, uma vez mais, a Madonna – comummente designada por Rainha da Pop, ela mesmo uma astuta mulher de negócios: ela pode ser vista como um perfeito barómetro para a medição dos standards de funcionamento de uma estrela de primeira linha no mais competitivo dos mercados musicais. A mulher de «Like a Virgin» nasceu em 1958, começou a editar em 1983 e até ao presente lançou 13 álbuns de estúdio. Já Prince, nascido uns meses antes de Madonna, em Junho de 1958, inaugurou a sua discografia em 1978 e até  Janeiro deste ano lançou exactamente o triplo dos discos assinados por Madge – 39! Claro que os números de mercado de Madonna esmagam Prince: mais de 300 milhões de discos vendidos em todo o mundo contra os “apenas” 100 milhões do filho pródigo de Minneapolis. Mas ao passo que Madonna se tornou uma corporação, sobretudo depois do notório e ultra-milionário negócio assinado em 2007 com a Live Nation, tocando para milhões de pessoas em todo o mundo em digressões de crescente complexidade logística, Prince soube manter-se ferozmente independente, chegando até o a revoltar-se contra a mesma Warner que elevou a rapariga de True Blue até ao topo da montanha pop e provando depois ser capaz de funcionar com sucesso como produtor de espectáculos independente sem nenhuma aliança com algum gigante dessa indústria. Madonna segue escrupulosamente as regras do jogo. Prince criou a sua própria liga.

Chaos and Disorder, álbum de 1996, foi, na primeira fase da sua carreira, o derradeiro trabalho que Prince lançou através da Warner, editora com que assinou contrato em 1977, logo aí deixando claro que pretendia afirmar-se segundo os seus próprios termos. Prince não apenas exigiu total controlo criativo como conseguiu, no contrato inicialmente estabelecido para três álbuns, reter os direitos de publishing de todas as suas composições. Mas, num gesto ainda mais revelador das suas convicções e ideias, Prince terá implorado a Lenny Waronker, o executivo com quem firmou a sua ligação ao gigante editorial, “please don’t make me black”. Do alto dos seus 19 anos, Prince Rogers Nelson já tinha a noção perfeita de que não pretendia ser mais um soldado no infinito exército de artistas R&B, para sempre confinados a um segmento de mercado, qual carne para canhão nos massacres constantes impostos pelo mercado.

 

 


[BLACK SUPERSTAR]

Ao contrário de Michael Jackson, no entanto, Prince nunca renegou a sua negritude. Muito pelo contrário, como o generoso afro com que foi aparecendo publicamente nos últimos anos da sua vida deixou bem vincado. Prince sabia que era negro, tinha perfeita noção da sua herança cultural e do seu lugar no mundo, mas nunca aceitou que isso limitasse a sua criatividade ou a sua personalidade. Era por isso que, sem problemas de qualquer espécie, podia arrebatar milhões no intervalo do Super Bowl com arrasadoras versões de clássicos dos Queen ou Creedence Clearwater Revival ou declarar, como aconteceu na última fase da sua carreira, que os Cocteau Twins foram a principal inspiração de “TicTacToe”, um dos temas que foi incluído em PlectrumElectrum, o álbum gravado com as mesmas 3rdEyeGirl que o acompanharam em 2013 no palco do Coliseu dos Recreios em Lisboa. Isto vindo do artista que sem qualquer tipo de hesitação mencionava na mesma frase Joni Mitchell e Sly and the Family Stone já nem deveria representar surpresa, mas a verdade é que existe um condicionamento que nos faz pensar que menções a determinado tipo de nomes soam naturais e outras podem parecer muito estranhas dependendo do tom de pele ou do campo estético em que cada músico se move. Ninguém está à espera de ouvir loas a Mahler vindas da boca de um rapper ou elogios a Alicia Keys proferidos por um músico de heavy metal. Prince e as incontáveis vénias que ao longo dos anos foi prestando a músicos de todas as «confissões» possíveis fazia-nos, no mínimo, perguntar «porquê?». E provava que o seu apelo inicial tinha razão de ser: “plase don’t make me black”.

A verdade é que Prince fez sempre questão de navegar contra a corrente: em plena era da explosão da MTV, quando a pop percebeu que o pequeno ecrã era afinal de contas o seu melhor veículo, Prince investiu a sério no cinema, pensando que a possibilidade de se exibir em diferentes salas ao mesmo tempo seria quase como poder realizar incontáveis concertos em simultâneo. Em 2012, a revista americana Wax Poetics dedicou um número inteiro a Prince, recheado com entrevistas com alguns dos seus mais próximos colaboradores, como Morris Day ou o seu manager dos anos 80 Alan Leeds e, ao mesmo tempo, identificando em artistas do presente como Frank Ocean, Toro y Moi ou Blood Orange sinais de uma alargada descendência. Leeds, falando sobre o primeiro filme de Prince, Purple Rain, estreado em 1984, explicava que só mesmo o génio que tinha escrito “When Doves Cry” é que percebeu o impacto que o filme teria: “Ele nunca se revelou surpreendido pelos relatos de plateias que reagiam ao filme como se estivessem num concerto”.

Mesmo com a crítica a desdenhar, o filme conquistou um Óscar para Melhor Arranjo Original para uma Canção (foi a última vez que se distinguiu essa categoria) e arrecadou 80 milhões de dólares na bilheteira atingindo um lucro considerável uma vez que foi realizado com um orçamento de apenas 7 milhões. Desejoso de controlar todos os aspectos da sua carreira, Prince não voltaria a fazer um filme que ele mesmo não dirigisse. O filme seguinte, Under The Cherry Moon, de 1986, não teve um comportamento comercial tão vigoroso (só recuperou 10 dos 12 milhões investidos) e foi arrasado pela crítica. Curiosamente, a sua banda sonora, o prodigioso Parade, álbum de “Kiss” ou “Girls & Boys” em que Prince registou a sua primeira colaboração com o arranjador de jazz Clare Fischer, revelou-se um sucesso tanto no plano comercial como artístico.

As más críticas a Under The Cherry Moon, no entanto, não demoveram Prince que regressou à realização para o filme concerto Sign o’ The Times de 1987, uma espécie de versão para cinema daquele que muitos acreditam ser o melhor álbum da sua carreira. A aposta nas salas de cinema não resultou, uma vez mais, mas o filme provaria ser capaz de ter uma segunda vida quando foi lançado em VHS no ano seguinte à sua estreia. Graffiti Bridge, apresentado como uma sequela de Purple Rain, filme de 1990 com Prince no principal papel e participações de Morris Day e Ingrid Chavez, foi outro falhanço, comercial e artístico, e marcou o final das experiências de Prince atrás das câmaras, pelo menos em registos de fôlego mais generoso. No mínimo, porém, estes filmes podem e devem ser vistos como gestos de independência de um artista que nunca parou de procurar uma forma alternativa de funcionamento no mainstream.

Prince rompeu as amarras que o ligavam à Warner com o álbum Emancipation, lançado através da sua New Power Generation (e nesse caso específico com distribuição da EMI) em finais de 1996. Para trás ficavam 18 álbuns, output prolífico para outros tantos anos de duração do contrato. Mesmo nessa época, já ninguém editava um álbum a cada doze meses: entre 1983 e 1996 Madonna editou apenas 6 álbuns; os U2, que inauguraram a sua discografia em 1980, até 1996 editaram 8 trabalhos de originais; os Rolling Stones, entre 1978 e 1996, lançaram apenas 7 álbuns; e David Bowie no período que começa com Lodger de 1979 e termina com Outside de 1995 assinou apenas 8 registos de longa duração. Prince era já, de facto, um caso à parte que a indústria tinha dificuldade em compreender.

 


[O ARRANQUE DA DISCOGRAFIA]

A estreia de Prince aconteceu em 1978 com For You e o período clássico que corresponde à antecâmara do seu sucesso comercial prolongou-se por Prince (1979), Dirty Mind (1980) e Controversy (1981). Nenhum destes discos conseguiu furar o top 20, apesar de Controversy ter ficado muito perto, chegando ao 21º posto das tabelas de vendas norte-americanas. Desse período emergiu, sem sombras para dúvidas, o seu génio musical capaz, por um lado, de traduzir o zeitgeist do seu tempo e de soar contemporâneo numa época de sintetizadores e balanço new wave, mas também remetendo para os clássicos que o inspiraram, de James Brown a George Clinton, de Sly Stone a Larry Graham (o homem do leme da Graham Central Station). «I Wanna Be Your Lover», «Sexy Dancer», «Dirty Mind» ou «Do It All Night» são nítidos pontos altos de uma carreira que, no entanto, ainda não tinha descolado da rampa de lançamento. Esse período foi, ainda assim, revalorizado em anos recentes por artistas como Dam-Funk ou Chromeo, entre outros, que voltaram a olhar para o funk digital dos anos 80 como vibrante factor de inspiração para alguma produção contemporânea. Dam Funk afirmou mesmo nas redes sociais, nas horas seguintes à morte do seu ídolo, que a sua carreira não existiria sem a inspiração de Prince que descreveu como o seu “herói”.

As mudanças reais em termos de notoriedade comercial começaram a acontecer com 1999, o álbum de 1982 que gerou singles como «Little Red Corvette» ou «Delirious» que conseguiram dar a Prince a sua primeira visão do topo, passeando-se confortavelmente pelo Top 10. Quando chegou a Purple Rain¸ em 1984, Prince provou final e definitivamente que sabia escrever e interpretar material capaz de conquistar o topo das tabelas: «When Doves Cry» e «Let’s Go Crazy» chegaram a número 1 e «Purple Rain» ao segundo lugar, fazendo de Prince a mais escaldante estrela pop de 1984 com um álbum que liderou a tabela de vendas da Billboard durante quase seis meses vendendo mais de 13 milhões de cópias. Um feito extraordinário para qualquer artista, mas absolutamente estratosférico para um performer que tinha pedido expressamente para não o limitarem a ser negro.

Nos últimos anos, Prince foi visto como uma voz algo reaccionária quando declarou a morte da Internet ou processou fãs que partilhavam músicas suas online – só algum tempo antes de morrer é que veio rever a sua posição nesta controversa questão e retirar as queixas declarando, a propósito da sua protegida britânica Lianne La Havas, «eu tenho alguns bootlegs da Lianne, mas não seria capaz de os vender. Fãs que partilham coisas uns com os outros, isso já aceito» – mas em pleno olho do furacão tecnológico que assolou os anos 80, Prince soube compreender o poder que novas realidades – como a que era sustentada pela MTV – tinham para a gestão de carreiras e apesar da falhada tradução das suas visões para o grande ecrã, assinou memoráveis vídeos que o apresentavam como uma figura maior do que a vida, um super-herói vestido de púrpura pronto para salvar o mundo com o poder destilado pela sua guitarra, uma espécie de evangelizador rock, sexual até à medula capaz de exercer um estranho fascínio sobre os dois sexos numa época em que nem os durões do rock escapavam à tentação de usar rendas, pôr um pouco de laca no cabelo, um toque de eyeliner para realçar o olhar e até uma explosãozinha de cor nos lábios… A carga sexual que Prince espalhava pelos seus trabalhos teve efeitos, como não poderia deixar de ser. A famosa «instituição» defensora da moralidade e bons costumes, o Parents Music Resource Center que passou boa parte dos anos 80 e 90 a colar autocolantes em discos de metal e hip hop, sobretudo, nasceu depois de Tipper Gore ter encontrado a filha de 12 anos a ouvir «Darling Nikki», um dos temas incluídos em Purple Rain onde Prince canta «I knew a girl named Nikki / I guess u could say she was a sex fiend / I met her in a hotel lobby / Masturbating with a magazine»… Weeknd uns quantos anos antes, portanto…

Purple Rain completou 30 anos em 2014, mas Prince, contrariando a vontade da Warner a que voltou a ligar-se, declarou-se logo indisponível para celebrações de qualquer natureza, renegando assim aquele que tem sido um gesto comum na estratégia desta indústria para se manter à tona de água. Numa recente (e rara…) conferência de imprensa dada em Londres em jeito de antecipação de PlectumElectrum, e a propósito do redondo aniversário do seu primeiro êxito massivo, Prince declarou laconicamente: «Tudo me parece diferente agora, porque eu estive lá. Eu escrevi aquelas canções, não preciso de saber o que aconteceu». O futuro foi sempre onde Prince esteve claramente concentrado. Revisitar o passado é uma armadilha que, pode-se garantir agora, nunca apanhou este artista.

À frente da poderosa Revolution, banda que o acompanhou durante boa parte dos anos 80, Prince assinou álbuns incríveis como o já mencionado Parade (1986), Sign o’ The Times (1987) ou Lovesexy (1988), discos que o afirmaram como compositor, intérprete e produtor e que efectivamente funcionaram como a régua por onde toda a pop deveria ser medida. Nenhum outro artista se revelou tão ousado ou avançado nessa época. Prince liderava o pelotão. O jornalista do Seattle Weekly Michaelangelo Matos assinou o volume que a série de livros 33 1/3 dedicou ao álbum que Prince lançou em 1987, que para muitos é o melhor da sua carreira, e aí escreve que “a característica mais imediatamente assinalável de Sign ‘o’ The Times é a sensibilidade jazzy que o atravessa”. Miles Davis, no mesmo ano, viu em Prince a mesma energia que no início da década anterior tinha identificado em Sly Stone: “Em 1987 comecei a entrar mesmo na música de Prince, dos Cameo de Larry Blackmon e do grupo das Caraíbas Kassav”, escreveu o trompetista na sua autobiografia. “Amo o que eles fzem, mas amo mesmo muito Prince e depois de o ouvir fiquei mesmo com vontade de tocar com ele. Prince é da escola de James Brown e eu adoro o James Brown por causa de todos os ritmos que toca. O Prince lembra-me o James Brown (…), mas também tem algo de Marvin Gaye e Jimi Hendrix e Sly até algo de Little Richard. É uma mistura desses tipos todos e de Duke Ellington. E também me lembra, de certa maneira, do Charlie Chaplin…” O facto de um gigante como Miles se ter visto obrigado a ir amplificando o seu próprio retrato de Prince, numa tentativa de lhe fazer justiça, é um claro sinal da diversidade e da amplitude do seu talento. Ele era, de facto, muitas coisas.

O período a que Miles se refere foi aquele em que Prince construiu o seu quartel-general, o complexo de estúdios Paisley Park, uma clara ferramenta para poder reforçar a sua independência. Situado em Chanhassen, nos arredores de Minneapolis, revelou-se um ambicioso projecto que serviu Prince, e voltando a recorrer ao universo dos comics, como uma espécie de fortaleza da solidão onde, rezam as lendas, Prince gravou ininterruptamente, tendo ao longo dos anos acumulado incontáveis horas de material inédito, facto que confirmou na já referenciada conferência de imprensa londrina.

 


[A REVOLTA CONTRA A INDÚSTRIA]

Na época da imposição de Paisley Park, no entanto, Prince foi tudo menos frugal com as suas despesas. Apesar dos sucessos continuarem a rolar com discos como a sua banda sonora para Batman (1989) ou o enorme Diamonds and Pearls (1991), Prince parecia gastar dinheiro mais rápido do que conseguia ganhá-lo, contratando gente a mais, investindo demasiado dinheiro nas suas digressões que apesar de extremamente bem sucedidas na bilheteira não rendiam o suficiente para pagar os luxos que a estrela púrpura exigia. Talvez essa pressão o tenha levado a aceitar os 100 milhões de dólares com que a Warner lhe acenou em 1992 para o convencer a renovar contrato, mas os termos não agradaram ao músico que admitiu pouco tempo depois que um negócio assim o fez perceber que «não se tem tanto poder como se supunha – e não se é dono das nossas próprias gravações». «If you don’t own your masters, your masters own you», declarou ele famosamente na altura, arrancando para uma campanha de resistência contra a Warner que o levou a abdicar do nome em favor de um impronunciável símbolo e a escrever a palavra «slave» na cara para fotos promocionais. Numa era pré-Obama, Prince comparava o negócio da música e a relação das editoras com os artistas aos tempos da servidão involuntária, causando um aceso debate nos media.

Neste complexo período, Prince questionou tudo: o poder das corporações, mas também a sua própria identidade. «Eu não sou o filho de Nell», declarou, referindo-se ao seu apelido «Nelson», «quem sou eu afinal? O que sou eu?» Prince sentia que todas estas questões lhe estavam a alimentar a criatividade, queria editar discos a um ritmo nada compatível com as intenções da Warner de espremer os singles até à sua última cópia, e por isso, depois de aceitar os 100 milhões, o artista que queria ser identificado por um símbolo disse ao patrão da Warner, Mo Ostin, certamente sem alterar a sua expressão facial, «deixem-me sair e devolvam-me os meus masters». Algo como: «Depois de te termos dado 100 milhões? Estás louco?» terá sido o que se ouviu do outro lado da mesa. Nada que tenha demovido o músico. Nelson George, uma das vozes da intelectualidade musical negra nos media americanos, escreveu mesmo que «Prince era menos escravo e tinha mais liberdade do que qualquer outro artista negro». Mas o que parecia ser suficiente para outros não chegava para Prince que não descansou até se libertar do contrato de gravação e edição, em Abril de 1996. Até 1999, o homem de Chaos and Disorder continuou a usar o Love Symbol como nome, esperando pelo fim do contrato paralelo de publishing que também o unia à Warner para recuperar o seu nome.

A fase final dos anos 90 revelou-se algo confusa, com Prince a testar novas formas de fazer chegar a sua música aos fãs: Crystal Ball, uma caixa de 5 CDs lançada em 1998, foi vendida através do seu website, mas de forma atabalhoada, com fãs que efectuaram a pré-compra a terem que esperar longos meses até receberem o disco. Ainda assim, foi a primeira vez que um artista daquela dimensão olhou para a Internet como meio alternativo para distribuir o produto do seu trabalho. Nesta altura, muito antes de ter declarado o óbito da Internet, Prince chegou mesmo a afirmar que a Internet representava o futuro: «Logo que a Internet se torne uma realidade deixará de haver necessidade de existirem companhias discográficas. Se te posso enviar a minha música directamente, qual é a utilidade de uma indústria musical?» Nos anos seguintes, Prince haveria de continuar a trocar as voltas à indústria experimentando modelos alternativos ao velho paradigma de negócio da indústria musical: em 2004, facturou quase 90 milhões de dólares com uma digressão em que cada bilhete vendido a 60 dólares incluía uma cópia de Musicology. A brincadeira, não excluída ainda assim pelas restritivas normas da Billboard desenhadas para protegerem os interesses das grandes corporações discográficas, valeu-lhe um Top 3 na América sem vender um único disco nas redes convencionais de retalho.

O álbum seguinte foi 3121 (2006), disco para o qual Prince preparou várias formas de receita, apropriadas para diferentes tipos de bolsa: um dos 130 lugares disponíveis para um jantar concerto no Roosevelt Hotel em Los Angeles custava 3121 dólares, 31 libras e 21 pence pagavam um bilhete para uma das 21 noites na arena 02 de Londres (com direito a uma cópia do álbum). Talvez um título mais apropriado para o álbum, e tendo em conta o seu antecessor, devesse ter sido Numerology… Mais discutida, no entanto, foi a sua decisão de distribuir o seu álbum seguinte, Planet Earth (2007), de forma gratuita através do jornal Mail On Sunday que supostamente pagou a Prince 1 milhão de dólares pelo privilégio, assumindo o próprio jornal todas as despesas com o fabrico e direitos do disco. O gesto fomentou a ira de retalhistas e executivos de editoras, mas parece não ter beliscado o futuro da carreira de Prince, que prosseguiu nos anos seguintes a bom ritmo e em topo de forma, pelo menos em cima do palco, embora com resultados desequilibrados em estúdio: Lotusflow3r e MPLSound (ambos de 2009) e 20Ten (2010, claro) têm os seus momentos, mas estão longe do melhor Prince.

Com o álbum de 2014 PlectrumElectrum, gravado com as mesmas 3rdEyeGirl com que subiu ao palco do Coliseu dos Recreios, marcou o seu reencontro com a Warner que, talvez pressentindo o potencial inferior do material contemporâneo de Prince, chegou a anunciar uma reedição expandida de Purple Rain. Talvez agora os planos da Warner explorar a memória de Prince se possam colocar em marcha já que em vida o cantor nunca se mostrou interessado em fazer isso. E há um imenso e inexplorado catálogo de inéditos para descobrir.

Uma leitura possível para o menor impacto dos registos discográficos de Prince na última fase da sua carreira pode ser o seu maior investimento nos palcos e nas digressões que produzia de forma quase independente. As suas duas últimas passagens por Portugal deixaram muito claro o poder e o talento que este pequeno músico conseguia conjurar em palco. O facto de não haver uma correspondência directa entre o seu brilhantismo de palco e a por vezes sofrível qualidade dos seus discos na última década e meia (pelo menos…) poderia ser encarada de várias maneiras – uma delas, certamente, levar-nos-ia a pensar que o músico compreendeu que com a implosão da indústria discográfica seria nos palcos que os artistas modernos teriam que aprender a sobreviver. Neste ponto da sua carreira, o génio de Prince soube espreitar estrategicamente em uma ou duas das canções de cada um destes discos, uma espécie de lembrete das suas capacidades artísticas, um apelo para que não o descartassem, mesmo quando usava cada um desses álbuns para testar o limite de resistência da corda que ainda o unia ao respeito dos fãs que aprenderam a admirá-lo na década de 80. Prince compreendia isso, porque mesmo na sua encarnação mais rock, à frente das 3rdEyeGirl, nunca se esqueceu de levar para palco os seus momentos mais orgiásticos dos anos 80. «FunknRoll», tema que encerrava o alinhamento de Plectumelectrum, mostrou-se como um compromisso entre o passado e o presente, talvez uma antecipação do que seria, musicalmente falando, o seu futuro. Art Official Age (lançado em 2014) e as duas partes de HITnRUN (do ano passado) confirmaram a estratégia de viajar entre épocas, musicalmente falando. Na Rolling Stone, e a propósito do seu derradeiro álbum, escreveu-se: “é o álbum que mais consistentemente nos prende que Prince lança em anos, cruzando ecos de fantasmas passados de Prince (à lá “Sexy MF” ou “Come”) e ao mesmo tempo soando refrescantemente moderno”.

 


[FEROZMENTE INDEPENDENTE]

Na verdade, Prince nunca se deixou prender: nem pelo passado, nem pelas correntes musicais e certamente nem pela sua editora. O seu período independente foi fértil: o artista fez-se à vida depois de se desligar da Warner durante os anos 90, compreendendo que sem uma estrutura poderosa por trás lhe competia a si manter viva a sua carreira e as suas empresas. Por isso mesmo, na sua era de independência, além de 14 álbuns de originais, dois álbuns ao vivo, duas compilações de sucessos, múltiplas edições exclusivas através da Internet, 3 Grammys e mais 11 nomeações, Prince ainda contabilizou 13 digressões, o suficiente para lhe valer, sem a menor sombra de dúvidas, o título de «hardest working man on showbusiness» em tempos criado para James Brown, um dos óbvios modelos da carreira do líder das 3rdEyeGirl.

A sua capacidade de trabalho também se manifestou em abundante obra assinada para outros artistas. De “Nasty Girl” escrito para as Vanity 6 a “How Come You Don’t Call me Anymore”, que Alicia Keys gravou em 2001, foram muitos os sucessos que escreveu e que foram cantados por gargantas alheias. Sobretudo de mulheres: Stevie Nicks cantou “Stand Back” em 1983; Sheila E. interpretou “The Glamourous Life” em 1984, o mesmo ano em que Chaka Khan registou um sucesso com “I Feel For You”; Sheena Easton deu voz ao sucesso “Sugar Walls” em 1985; as Bangles tomaram conta do cimo das tabelas durante algum tempo em 1986 com “Manic Monday”; Patti LaBelle cantou “Yo Mister” em 1989; e Sinéad O’ Connor teve um extraordinário número 1 em 1990 com “Nothing Compares to You”. São apenas alguns exemplos que reforçam a capacidade pop de um artista invulgarmente prolífico e certeiro. Um homem que obviamente amava as mulheres, mas que também nunca se conformou com as “regras” de identidade sexual usando rendas, saltos altos, cores berrantes e maquilhagem.

Apesar de toda esta exposição pública, no entanto, Prince continuou sempre a ser, essencialmente, um segredo. Pouco se soube da sua vida privada, as suas entrevistas foram muito raras e quando de facto aconteciam o músico costumava impor como regra aos jornalistas que tinham a missão de o enfrentar que nenhum dispositivo fosse usado para gravar as conversas, nem sequer caneta e bloco de notas, como se ele contasse com os efeitos difusos da memória como mais uma ajuda na manutenção do seu próprio mito. Jon Pareles, por alturas da edição do primeiro álbum de Prince como artista independente, citava nas páginas do New York Times as palavras do génio de Minneapolis a propósito do nascimento de um filho resultante do seu casamento com uma das suas cantoras de apoio, Mayte Garcia: «Nunca avançarei detalhes sobre crianças», garantiu. «Provavelmente serão elas mesmo a escolher os seus nomes».

 


[UM ENIGMA CHAMADO PRINCE]

Prince foi, de facto, um enigma. talvez um dos últimos enigmas da pop. E como todos os enigmas nunca chegou a envelhecer, talvez por escolher não correr contra o tempo – como Madonna ou Mick Jagger, aprisionados, como já se explicou, pela armadilha da juventude eterna –, mas a seu favor. Testemunha de Jeová convertido por Larry Graham, Prince não celebrava o seu próprio aniversário – «não há aniversários na Bíblia», explicava ele ao Guardian em 2011 – e acreditava que o tempo é apenas uma construção da mente: «não é real». E talvez essa ideia seja a mais revolucionária das que Prince usou para apoiar a sua carreira. No mundo da pop há dois tempos que realmente importam: o passado – aquele em que se acumulam conquistas e falhanços e para onde as estrelas da música podem remeter sempre que lhes apetecer, afinal de contas haverá sempre quem pague para ir ouvir, pela enésima vez, os hits da sua própria juventude (esse fenómeno deu origem ao chamado «heritage circuit» onde tocam agora as velhas estrelas dos anos 80); e depois há o futuro – aquele que faz cada artista acreditar que o próximo álbum é que vai ser, que os maiores êxitos ainda estão para chegar, que a distinção dos Grammys não falhará na próxima edição. Prince parecia ser dos poucos que escolheu antes viver no presente: descartou a possibilidade de celebrar os 30 anos de um dos seus maiores feitos discográficos e parecia não viver obcecado com o que o futuro lhe reservava, atitude que ajudou a explicar o seu hábito de chegar a uma cidade e marcar concertos de surpresa.

Outra das estratégias de que Prince nunca abdicou foi a de trocar as voltas a toda a gente para se fazer ouvir de formas inéditas, como aconteceu com os concertos da derradeira Piano and a Microphone Tour. Em Janeiro último, na Rolling Stone, Keith Harris escrevia sobre a experiência num texto com o título “Prince espanta em concerto solo emocional”: “Prince aproximou-se do piano, um baby grand púrpura. Tocou um único acorde, ressoante e grave. Levantou-se. Foi embora. Como poderíamos ter adivinhado, o primeiro concerto de sempre (primeiro de sempre?) a solo de Prince em Paisley Park, o seu complexo suburbano no Minnesotta, não foi um acontecimento simples e linear. O mago funk-pop de 57 anos abordou a performance como um desafio, uma oportunidade para provar que era capaz de nos dar um show completo de Prince sem nada daquilo que nos habituámos a esperar de um show completo de Prince. Nada de banda de primeira, nada de danças incríveis, nada de fogos de artifício na guitarra. Apenas, como o título prometia, um microfone e um piano. E muito Prince. Talvez mais Prince do que alguma vez tenhamos visto”. E, é possível acrescentar agora, muito mais Prince do que alguma vez voltaremos a ver.

Não deixa de haver algo de poético no facto da tournée de despedida de Prince ter acontecido num ambiente sem artifícios, sem truques, sem encenações. Para um artista que toda a vida esteve envolto em mistério, envolto num véu de mito e artifício, que sempre encarou o palco com algo de Broadway, a plataforma perfeita para fazer magia – “to put on a show”, expressão mais difícil de traduzir do que parece -, fazer uma última digressão sem apoio de outros músicos e sem a distracção proporcionada pelo “barulho das luzes” terá que querer dizer alguma coisa. Também vieram agora a público notícias que indicam que Prince tinha começado a escrever as suas memórias, algo que sempre resistiu a fazer até porque considerava o passado um lugar distante e o futuro o seu habitat natural. Como se desconhecem ainda as circunstâncias da sua morte não é possível dizer se estes géneros fazem parte de alguma encenação de despedida como sabemos agora que aconteceu com David Bowie. Ainda assim não é possível ignorar a dimensão poética desses concertos. Talvez Miles tivesse mesmo razão e houvesse nele algo de Duke Ellington. Facto inegável, como tanto o seu nome como o do autor de “It Don’t Mean a Thing (If It Ain’t Got That Swing)” faziam acreditar: Prince fazia parte da mais nobre realeza musical.

 


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