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Publicado a: 06/12/2016

Pratica(mente) em discurso directo

Publicado a: 06/12/2016

[TEXTO] Rui Miguel Abreu [FOTO] Ricardo Miguel Vieira

10 anos de Pratica(mente). Sam The Kid lançou o seu último álbum de originais em 2006 – ano de edição de outros trabalhos incríveis como Projecto Mary Witch ou Serviço Público – e estabeleceu uma fasquia altíssima para todos os que vieram a seguir. A data exacta é um mistério – dia 6? dia 8? -, mas isso é o menos importante quando falamos num conjunto de canções que obrigou todos os MCs a reescreverem as suas rimas. O Rimas e Batidas celebra os 10 anos com a recuperação de um texto onde o rapper de Chelas descreve as suas próprias canções. 

 


No seu quarto de um sétimo andar de Chelas, Sam The Kid guiou-nos por alguns dos momentos-chave de Pratica(mente), o álbum com que assinala o reencontro com as rimas depois de uma pausa para um já clássico álbum de instrumentais.

 


https://www.youtube.com/watch?v=UFCsbzp4LH0

[Poetas de Karaoke]

“Este é o primeiro single e começa com o José Saramago a falar num programa de televisão. É um tema que lança às pessoas um apelo para serem originais naquilo que fazem. E acho que um dos factores que contribui para a originalidade do hip hop tuga é a língua. Não sou mega-fundamentalista nisto e até reconheço que nós, os rappers, somos mais americanizados do que esse pessoal do rock que canta em inglês, mas também gosto de ser um pouco advogado do diabo…”

 


[Abstenção]

“Já tinha esta batida há bué de tempo e o meu pai dizia-me sempre que se eu fizesse uma letra ia ter um tema muito forte. Eu nunca toquei na política e de certa forma estou-me nas tintas para essas questões e sei que represento muita gente. Eu só seria capaz de votar em alguém que gostasse e nunca por exclusão de partes. Eu quero votar a favor de coisas e não contra coisas. Este tema vai ser o segundo single e tem um sample com a voz do meu avô.”

 


[À procura da perfeita repetição] 

“Este som é um pretexto para eu explicar como é que faço a minha música. Até tem uma contradição, porque eu digo à minha irmã que faço tudo aqui [aponta para o sampler] e na verdade tenho o Carlos Bica no contrabaixo e o Gramaço no saxofone. Mas pronto, depois de ter gravado o Carlos Bica meti-o no sampler, para deixar tudo no ponto certo. Vai ser o terceiro single.”

 


[16/12/95]

“Com esta música eu pensei no que é que me poderia ter levado a não ser MC. Há pessoas que por terem um filho ou isso deixam de fazer hip hop, têm que ir trabalhar e quando chegam a casa já não estão para estar concentrados a escrever rimas. Então eu pensei numa altura decisiva da minha vida, quando decidi levar o rap a sério. Foi no final de 95, altura em que tive o meu primeiro grupo, os Official Nasty. Nessa altura arranjei uma namorada, ali no liceu. Mas depois larguei-a porque estava muito motivado com o grupo. E há uns tempos, passados dez anos, vi-a no supermercado ainda com o mesmo namorado que ela arranjou logo a seguir a mim e pus-me a pensar: ‘ela era muito fixe e eu até podia ser aquele bacano.’ Inspirei-me nessa situação para criar este tema que fala do destino e que diz às pessoas que o rumo que tomamos, por muito difícil que pareça, às vezes é mesmo o melhor.”

 


[A partir de agora]

“Este é o tema que marca a abertura do álbum, é a faixa 2, logo depois da introdução, e sublinha a minha postura a partir de agora. Isto é a minha resposta a todo o assédio de que fui alvo de todos os ângulos. Nos concertos, nas editoras, do pessoal que me pede beats… Sou eu a dizer que já chega, que já não papo grupos e que agora é tudo a sério. Quero respeito.”

 


[Ignorância]

“É um som para os ‘haters‘, para os que só mostram coragem atrás de um teclado, atacando-nos na Internet. Eu gosto de mostrar versatilidade e o beat puxou-me para este tipo de mensagem que é mais para dentro do hip hop.”

 


[Slides (referências)]

“Aqui conto com o Melo D e falo das minhas referências da adolescência. De certa forma é um som um pouco egoísta e as pessoas não percebem do que estou a falar. Toda a gente faz sons assim, a falar do período back in the days, mas se calhar são mais abrangentes de forma a que a mensagem chegue a mais gente. Não me parece que vá haver gente que vá perceber o meu disco do princípio ao fim, porque há referências muito pessoais. Por isso eu digo que costumo fazer música só para mim. E depois espero que as outras pessoas gostem.”

 


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