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Foi há cerca de uma semana que Dylann Roof, um rapaz ariano de 21 anos, entrou numa igreja frequentada pela comunidade negra norte-americana em Charleston, Carolina do Sul, e abriu fogo sobre os membros da congregação, assassinando nove pessoas. Este é o mais recente caso de violência racial nos Estados Unidos a atingir assinaláveis níveis de repercussão mediática internacional e foram muitas as figuras, entre, activistas e artistas, que expressaram a sua estupefacção e até tristeza à luz do massacre.
Nesta onda de indignação generalizada, os rappers norte-americanos não foram excepção e aventaram os seus sentimentos: Killer Mike ainda partilha de forma activa os seus pontos-de-vista sobre questões raciais na sua conta Twitter (e até em programas televisivos), debatendo mesmo a situação com os seguidores; na mesma rede social, o produtor 9th Wonder replicou o nome das nove pessoas assassinadas; e Talib Kweli, sempre bastante activo na defesa das liberdades e direitos dos negros no seu espaço na rede de micro-blogging, também fez questão de lançar os seus dois cêntimos sobre os eventos do passado recente.
Foram, portanto, muitos os rappers que se pronunciaram sobre o sucedido, mas foi a longa mensagem de Nas, publicada na Segunda-feira no seu Instagram – ilustrada com uma bandeira norte-americana a esvair-se em sangue -, aquela que teve a mais notória visibilidade nos meios de comunicação musical de todo o mundo.
Na sua declaração, o rapper de Queensbridge sublinha que os recentes eventos ocorridos nos Estados Unidos – sem esquecer os protestos em Ferguson e Baltimore – são “maiores” que uma simples disputa entre negros e brancos. Na mesma nota, Nas, expressa incompreensão face ao medo em que vive a comunidade negra, mesmo quando representa o maior elemento exportador da cultura americana.
“A América tem gasto tanto tempo, dinheiro e recursos em guerras no exterior e adormeceu por completo na sombra de uma guerra a ganhar forma nas nossas cidades, vizinhanças e quarteirões. É suposto erguermo-nos pela liberdade e igualdade de oportunidades. Isto é suposto significar MAIS do que apenas palavras, mas as recentes acções não representam aquilo que é suposto defendermos. Isto é MAIOR que uma questão entre PRETO e BRANCO. Isto é sobre a América vender um sonho falso. É óbvio que progredimos desde a concepção desta nação, mas tirámos os olhos da bola e parece que as coisas regrediram. Como homem negro, acho difícil compreender como a maior fatia de exportação (a nossa cultura americana) vem de nós. As pessoas na rua… O modo como o mundo se veste, fala, o que ouve, o que vê… Tudo isso vem de nós. Como é que podemos ser os responsáveis pela maior fonte exportadora da América e temer pelas nossas vidas como se não devêssemos pertencer a esta terra? Não tenho todas as respostas nem acredito que alguém tenha, mas precisamos ter uma conversação em torno de um melhoramento como nação. Como mostrar um pingo de progresso que mantenha a esperança viva. Este é um problema demasiado grande para ser resolvido da noite para o dia, mas é preciso haver respostas para algumas perguntas para que voltemos a encarrilhar no caminho certo. Gente incrível morreu por este país. Devemos isso ao passado, presente e futuro para nos unirmos e avançarmos este país pelo caminho certo. Esta é tanto a minha casa como a de todos os outros [americanos]. RIP CRISPUS ATTUCKS. O PRIMEIRO HOME A MORRER NA GUERRA PELA LIBERDADE AMERICANA E ELE ERA NEGRO. DEUS ABENÇOE CADA GOTA DE SANGUE INOCENTE DERRAMADO POR ESTA NAÇÃO E PELA MINHA FAMÍLIA.”