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Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 18/11/2022

A espalhar amor e soul.

PJ Morton à conversa com MIRZA Lauchand

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 18/11/2022

No dia antes desta conversa acontecer, PJ Morton descobriu, ao mesmo tempo que toda a gente, que estava nomeado para mais três GRAMMYs. Watch The Sun, o seu mais recente longa-duração, garantiu-lhe essas nomeações, um disco em que dá a sua visão daquilo que é o r&b, a soul e o gospel em 2022, tendo Stevie Wonder, NAS ou JoJo, nomes que representam linguagens diferentes entre si, enquanto convidados.

Para falar com alguém com um percurso tão aclamado, e que actua esta noite em Lisboa e amanhã em Famalicão, o Rimas e Batidas convidou MIRZA Lauchand, um cantor nascido em Moçambique que vive em Portugal desde os 12 anos e que tem um percurso a solo com paragem recente e importante no EP lançado em 2021, Híbrido Vol.1, mas também um caminho altamente colaborativo, tendo trabalhado com Grada Kilomba, Gospel Collective, Soul Gospel Collective, entre muitos outros.



Senhor PJ Morton!

Sou eu, sim! Como estás, man?

Eu estou bem, meu irmão. Como estás tu?

Estou bem, obrigado.

Como está a correr a tua digressão na Europa?

A Europa tem sido excelente. Este tempo tem sido incrível. Todo o amor que nos têm dado tem sido arrebatador.

É a primeira vez que andas pela Europa com o teu projecto a solo?

Não. Já tocámos pela Europa um par de vezes antes. Acho que a primeira foi em 2017. A minha última digressão antes da pandemia até foi precisamente na Europa. Isso foi em Janeiro de 2020. Foi bom poder voltar e tocar tanto em salas que nos eram novas como noutras onde já tínhamos estado.

Em Portugal, esta será a primeira vez?

Vai ser a minha primeira vez em Portugal a solo. Correcto.

Tu já cá tinhas estado com Maroon 5, não é?

É verdade.

Do que é que te recordas da experiência em Portugal?

É uma cena completamente diferente. Espero conseguir ligar-me com as pessoas, sentir o amor. E esperar que essa ligação seja algo que possamos construir durante os anos que se seguem. Estou ansioso por experienciar isso com a minha música e o meu espectáculo.

Quero dar-te os parabéns: acabas de ser nomeado para os próximos GRAMMYs.

É verdade. Consegui mais três nomeações! É de doidos.

Tu já tens quatro GRAMMYs. De certeza que vais sair da gala com mais uns GRAMMYs no currículo [risos].

Sim [risos].

Tu já fizeste tanto pela cultura no geral e pela música negra, não apenas através dos Maroon 5 e do teu projecto a solo, mas também pelas incontáveis colaborações que já fizeste com outros artistas ao longo da carreira. Este tipo de prémios ainda são importantes para ti?

Acho que é sempre importante ter essas coisas em perspectiva. Tu podes até acabar por sair de lá sem nenhum prémio, mas considero uma coisa bonita ser-se reconhecido por aquilo que se faz, especialmente nos GRAMMYs, porque são os teus pares aqueles que te vão congratular. Sim, é bom saber que fazes algo que é digno de ser reconhecido, mas tens de perceber que o teu valor não se resume a isso. Também está presente quando crias algo de belo, algo que tenha significado. Isso é o mais importante. Mas é óptimo receber prémios. E os GRAMMYs significam muito para mim porque são os teus pares, os outros músicos, a congratular-te pelo teu reconhecimento.

Eu comecei a seguir-te a partir do Gumbo e acompanhei tudo o que veio a seguir. O teu projecto mais recente é o Watch The Sun. O que é que consideras ser o mais importante a reter da mensagem desse disco?

É importante saber que ele foi criado a partir do momento em que a pandemia começou, quando tudo fechou. Tive muito tempo para processar as coisas. Também se passaram algumas coisas na minha vida. Esse disco fala muito de relacionamentos e de amor. A vida estava a acontecer durante a pandemia, por isso surgiram muitas canções sobre a vida, como a “The Better Benediction”, a “My Peace”, a “Be Like Water”. Este foi o álbum para o qual eu mais me esforcei, daí eu ter convidados como o Stevie Wonder, o NAS, Jill Scott, El DeBarge… Tendo todas estas pessoas, eu quis realmente apresentar o meu melhor trabalho. Tive tempo para me focar. Também quis inspirar as pessoas, porque os tempos eram sombrios nessa altura. Senti que era o meu trabalho manter essa perspectiva, de que “isto não vai durar para sempre e é por isso que eu quero que vejamos sol”. Por isso, é um álbum sobre amor. Um álbum profundo e vulnerável. Acho que foi o disco em que mais me esforcei e ter todas estas pessoas envolvidas foi uma coisa muito grande. Também é por isso que estou mais entusiasmado pelo facto de o álbum ter sido nomeado. Estar nomeado significa muito para mim porque este álbum, como um todo, significa muito para mim.

Acho que esse álbum está muito equilibrado. Tem soul, r&b… E creio que — corrige-me, se estiver enganado — que este é até o primeiro disco em que tens um par de temas gospel.

A única canção oficialmente gospel é a “The Better Benediction”. Esse é o tema que tem essas linhas. Diria que é neste álbum que todos os meus universos colidem. Tens o gospel a ir beber ao r&b, a pop a ir beber à soul. Tens tudo aquilo que me influenciou e, por isso, as linhas estão muito esbatidas. Creio que a “The Better Benediction” é a única oficialmente gospel. E esta é a primeira vez que consigo estar nomeado para os GRAMMYs com um tema de gospel e outro de r&b.



Acho a “Be Like Water” um tema incrível. O que te levou a convidar o Stevie Wonder e o NAS? Foi algo planeado ou simplesmente aconteceu?

Simplesmente aconteceu. Quando o estava a escrever, tentei não pensar em mais ninguém, porque isso, por vezes, pode sugerir-te certas coisas para aplicar na música. Eu não quis isso. Quis que saísse da forma mais pura possível, sem ter de pensar em ninguém. Inicialmente, a ideia era ter um poeta, mas depois pensei no NAS, porque o beat era muito diferente e eu não me consegui lembrar de muitos rappers que conseguissem caber ali. Não o conheço pessoalmente, mas contactei-o. Eu conheço o braço direito dele, de Nova Orleães, o Gabe. Foi ele que me meteu em contacto com o NAS, que adorou e disse que participava. Eu nem sabia que ele andava a trabalhar em tantos álbuns. Estava ocupado e aquilo demorou um bocado. Entretanto, o Stevie [Wonder] perguntou-me se eu queria trabalhar noutra canção com ele. Fui ao estúdio dele e fizemos um dueto, que ainda não sei quando sai, mas fará parte de um álbum dele. Eu não ia estar a chatear o Stevie para entrar neste álbum, até porque já lhe tinha pedido algumas vezes. Mas disse-lhe, “Stevie, eu tenho este tema no qual acho que vais encaixar muito bem”. Enviei-lhe e ele, “eu entro!” Por isso, convidei o NAS primeiro mas o Stevie gravou antes dele. Então, enviei ao NAS a nova versão. “Diz-me quando puderes, o Stevie já se juntou à faixa também”. O Gabe ficou do tipo, “que cena de doidos, perguntaram-lhe recentemente com quem é que ainda lhe falta colaborar e ele falou no Stevie Wonder”. Foi perfeito. O NAS completou a faixa e ela ficou assim.

Essa gravação da parte do Stevie, tu estavas presente quando ele gravou?

Sim, estava lá. Fui eu que fiz a produção das vozes dele.

Qual foi a sensação? Não é todos os dias que se produz para uma lenda como o Stevie.

Pois não!”Fazer a produção destas vozes do Stevie?! Ao início até estava com vergonha, achava não havia nada que lhe pudesse dizer. E ele diz-me, “PJ, preciso que faças a produção”. Eu acabo por desligar e “vamos lá meter mãos à obra”. Se fores a ver aquele que tem sido o registo moderno da voz dele… nesta faixa soa ao Stevie clássico! Foi como que um sonho tornado realidade. Já não preciso de fazer mais nada [risos].

É incrível. Não só tens o Stevie, como também o rei lightskin do r&b, o senhor El DeBarge.

É verdade. Mais um herói.

Também não foi pensado? Ou escreveste esse tema já a contar com ele?

Também não foi nada pensado. Essa foi a última canção na qual trabalhei antes do meu computador avariar em Março de 2020. Andava a brincar com aqueles acordes. Depois do computador avariar, deixei-a de lado e foi a última canção que terminei para o álbum. Pensei que o El DeBarge ia soar bem naquilo e decidi, “se isso não acontecer, deixo-a de fora do disco”. Entrei em contacto com o El, do nada, e ele disse que também era meu fã. Foi tudo amor. Quase como um tio e o seu sobrinho, ou algo do género. Estivemos juntos. Fui a Los Angeles gravar a parte dele. Depois rodámos o videoclipe em Atlanta. Foi uma cena magnifica.

Mais para o fim do disco, na “The Better Benediction”, tens uma versão com homens e outra com mulheres. Eu estou bastante familiarizado com a música gospel e existem alguns coros de gospel aqui em Portugal. Mas as pessoas que tu escolheste para esses temas são incríveis e eu acho que não conheço nenhuma delas. Foi uma surpresa muito grande. Como é que chegaste a eles? Fazem parte da tua igreja ou algo do género?

Não. São artistas com os seus próprios créditos. Muitos deles são nomes bastante conhecidos aqui na América. À parte do gospel, eles são dos melhores cantores do mundo. O Zacardi Cortez e o Darrel Walls são duas das melhores vozes masculinas que existem no mundo. Felizmente também são meus amigos. A ideia, no início, não era para ser tudo vozes masculinas. Os calendários não eram compatíveis e acabou por ficar assim, só com homens. É como é. As coisas acontecem e eu não forço muito. Depois de estar feito, as pessoas começaram a dizer, “precisamos de uma versão feminina”, então fui trabalhar nisso e pensei quem poderia convidar.

Nos últimos anos temos visto gente como o Bruno Mars e o Anderson .Paak a vencer os GRAMMYs de r&b e eu creio que isso foi algo que começou com o teu Gumbo. Sentes algum tipo de responsabilidade em carregar essa bandeira do r&b?

Eu acho que r&b/soul/gospel são apenas as coisas que me são mais naturais. Eu fui influenciado por muito mais do que isso, mas o que sai, e a forma como sai, é soul e r&b. Mas eu acho que a minha responsabilidade é apenas ser autêntico e honesto porque esse é o exemplo que quero deixar na minha passagem. Sê tu mesmo e sê singular. A única responsabilidade que eu alguma vez senti foi, “ok, PJ, não tomes esta decisão porque viste aquilo a acontecer ou porque é o que está a resultar na rádio, a tua responsabilidade é seres tu mesmo porque alguém está à tua espera, e se estás a tentar ser outra pessoa, então eles não te vão ter a ti e é uma falha na causa-efeito”. Essa é a minha única verdadeira responsabilidade, eu acho que agora estou a carregar a tocha da soul, mas isso é porque eu sou assim genuinamente. Isso é quem eu sou. Sou um gajo da soul. É o que me move. Vou continuar a ser eu mesmo e espalhar este amor e soul [risos]. 

Continua a fazê-lo, por favor. 

Mas isso é a cena sobre a soul, para mim. Se eu fizer uma música country, ela seria soulful porque é daí que eu venho. A parte da soul… eu posso levá-la a qualquer lado comigo. 



Uma das coisas que veio do PAUL é que trouxeste a JoJo de volta. Ela sempre foi muito boa, mas por alguma razão, pelo menos no meu radar, ela desapareceu e voltou no PAUL. E ela agora também está neste disco. Como é que essa relação começou?

Tu dizes que no teu radar desapareceu por uma razão. Ela esteve presa num contrato com uma editora por 10 anos e nem podia usar o seu próprio nome, não podia lançar música. E em 2018 ela anunciou: “eu estou fora deste contrato e posso fazer o que quiser”. E eu fiquei, “yo, JoJo”. E eu continuava a segui-la, por isso sabia que ela continuava a cantar e que era ela mesma, mas acho que foi a dificuldade de não conseguir gravar nem lançar nada. Ela estava literalmente numa prisão. Essa foi uma das razões para ela estar afastada. Como eu disse, a minha responsabilidade é ser autêntico e eu sabia que ela encaixaria na canção e não me interessava o que tinha acontecido no passado. Ela ia matar aquilo. Foi o timing perfeito, ela saiu daquilo e eu pensei, “tenho a canção perfeita”. Ela veio ao meu espectáculo em Los Angeles e estava preparada e foi o timing certo. Uma das minhas grandes canções, vencedora de um GRAMMY. Mas é a minha mana, a JoJo. Eu amo-a, ela é tão incrível pessoalmente como artisticamente. Provavelmente trabalharemos para sempre juntos. 

Ela vai aparecer com um álbum produzido por ti?

Eu amaria. Nós falámos sobre isso. Estou aberto a isso, ela terá tudo o que quiser de mim. Nós falámos dela vir a Nova Orleães para fazer música, por isso nunca saberemos. 

Vamos meter isso no universo. Uma coisa que aprendi sobre ti e que não sabia antes é que a tua família é dona da antiga casa do Charles Bolden

Sim, é verdade. Nós também não sabíamos [risos].

A sério?

Estava escrito na estrelas, acho. Depois do [furacão] Katrina, todas as propriedades, a igreja da minha família e tudo, estavam lixada, por isso eles compraram tudo à volta. E nessa propriedade essa era apenas uma casa que ninguém disse que tinha sido do Charles Bolden. Os meus pais não sabiam — o meu pai é do Canadá — e eles acabaram a comprar esta casa dentro deste grupo de propriedades. Depois, eles descobriram o que era, mas eu não sabia o que era, estava a viver na Califórnia e quando voltei para Nova Orleães eles contaram-me sobre isso e eu disse, “isto soa a algo que eu quero pegar”. Eu não sabia o que ia fazer com isso, porque não é a minha área, mas senti que era algo que ninguém sabia. Já se passaram vários anos desde que começássemos a tentar perceber o que vamos fazer — e navegar o espaço das organizações sem fins lucrativos tem sido diferente [risos], mas tenho aprendido, para ser honesto. Estou excitado e mal posso esperar para contar ao mundo a história de alguém tão especial para a cultura de Nova Orleães.

Há dois sítios onde quero ir quando for pela primeira vez aos Estados Unidos da América: Atlanta e Nova Orleães. 

Não estamos longe [risos].

Nova Orleães é muito rica culturalmente. Como é que isso moldou a tua própria jornada? Que memórias é que tens de quando eras miúdo em Nova Orleães, as primeiras músicas que ouviste…? Começará pelo teu pai, certamente. 

Havia música em todo o lado, sabes? Havia second lines nas ruas. Estávamos na igreja e havia música, saíamos e havia música nas ruas. E existe tradição. Nova Orleães tem uma tradição muito grande. Nós fazemos certas coisas todos os anos. A cidade ofereceu-me o amor pela tradição e por carregá-la. Eu não percebi isso quando era miúdo, mas acho que isso foi incutido em mim: ralar-me com o que veio de trás e garantir que trazemos isso para o presente enquanto continuamos a inovar, não nos sentindo confortáveis para fazer aquilo que fizemos no passado. Bem, o jazz foi criado em Nova Orleães porque alguém não estava satisfeito. E foi o “Buddy” Bolden. Ele disse, “eu sei que se toca corneta desta maneira, mas eu quero tocá-la doutra maneira e não quero saber se não foi feito antes, eu vou fazê-lo”. Depois tivemos o bounce e outras coisas que Nova Orleães incutiu em mim. Sinto-me muito grato, é uma cidade tão única. E eu não a apreciei enquanto crescia, só depois é que percebi o quão única era. 

Acho que isso acontece bastante com toda a gente, só damos valor a certas coisas quando envelhecemos. Sou de Moçambique, um país perto da África do Sul. Já estiveste na terra-mãe? 

Nunca estive. Apenas no Norte de África. No meu aniversário era suposto ter tocado no The Cape Town Jazz Festival e a pandemia aconteceu. Depois tentámos remarcar em 2021, mas pronto. Não consegui ainda ir à terra-mãe, mas estou ansioso por fazê-lo. Sinto que há uma conexão profunda-

Especialmente Nova Orleães. Se não me engano, foi uma porta-de-entrada para o tráfico de escravos-

Sem dúvida. Foi dessa forma que tivemos jazz. Foram os escravos africanos que vieram e aos domingos deram-lhes… há um sítio chamado Congo Square, que ainda existe, onde todos os escravos podiam ir e não serem perturbados pelos seus mestres. Podiam vender coisas, tocavam música e dançavam. E foi aí que a nossa cultura nasceu: na intersecção disso tudo em Nova Orleães, que já estava lá antes da América — os franceses mandaram naquilo, depois os espanhóis. Essas culturas misturadas foi como chegámos ao que temos. Por isso, eu sinto-me profundamente ligado [a África], só que tenho de lá ir. Para ser honesto, o grande foco para nós em 2023 é África. Vou lá passar muito tempo lá. 

Tu és casado há 12 anos?

14 anos no Natal. 

Uau. 14 anos, três filhos. Quanto desta vida de família inspira as tuas canções? Todas as tuas canções são, de alguma forma, autobiográfica?

Não, não sou esse tipo de escritor de canções. Eu não sou autobiográfico, o que tornou Watch The Sun especial porque foi a primeira vez que … grande parte deste álbum sou eu, a minha vida e as minhas palavras. E os meus sentimentos. A maneira como costumo escrever é como um repórter que se relaciona com coisas, eu escrevo sobre coisas com as quais me relaciono. Estou a olhar para as experiências das outras pessoas, para as suas relações, estou a olhar para eles e a dizer, “eu revejo-me nisto, deixa-me…” Não é sempre completamente a minha história e eu sempre adorei ouvir as ideias das pessoas e relacionar-me com elas, por isso como escritor de canções gosto de ter várias perspectivas com as quais me conecto verdadadeiramente. Existe sempre um bocado de mim lá, mas essa é a minha maneira. Porém, Watch The Sun foi muito autobiográfico. 

Eu vi uma entrevista tua em que dizias que enquanto o teu pai estava a dar o sermão tu escrevias canções de r&b. Os teus filhos escrevem enquanto falas com eles?

Sim, isso foi no álbum de gospel, os interlúdios [risos]. Perguntaste-me se os meus filhos escrevem?

Sim, quando estás a falar com eles. Vês alguma inclinação artística neles?

[Risos] Sim, vejo. E eles olham é para os telefones [risos], mas acho que até isso os vai meter à nossa frente de uma certa forma. E, sim, acho que todos os meus filhos têm uma inclinação criativa de qualquer tipo, isso existe neles, não estou a forçar nada. Da mesmo maneira que o meu pai não me forçou como cantor e criativo. Ele percebeu que não precisava de me pressionar. Estou ansioso para ver naquilo em que eles se vão tornar. Estou entusiasmado para apoiá-los seja no que for. 

Podemos fazer um exercício, já que estamos a chegar ao fim? O teu top 5 de melhores álbuns de r&b/soul de sempre?

Oh, uau. Temos de dizer What’s Going On. Tantos álbuns do Stevie [Wonder] que podia encaixar… Hoje vou dizer Innervisions. Posso dizer cinco só do Stevie. Álbuns cruciais de r&b… é uma loucura nunca ter pensado nisto antes. O Live do Donny [Hathaway]. Esse disco mudou-me mesmo muito. Quando pensas no Gumbo Unplugged… eu era um ouvinte com 30 anos do Live do Donny, eu sempre tentei ter esse som. Quanto a Aretha Franklin e Whitney Houston, eu penso mais em canções. Voodoo do D’Angelo. Amo esse álbum. Esse é especial para mim. Sabes uma coisa? Vamos fechar com o álbum das SWV que tem o “Weak”. Essa faixa foi a primeira que programei. O meu pai trouxe-me um M1 no Natal e tinha o mesmo som de piano eléctrico [começa a cantar]. Eu ouvi e fiquei, “é isto!” e foi a primeira vez que sequenciei num teclado. Esse álbum e “I’m So Into You”… “You’re Always On My Mind”… quer dizer isso é um clássico. Falhei o álbum da Brandy, mas estou a dizer isto sem pensar muito [risos]. A variedade de música que escuto é uma loucura.

Tens colaborado com muitos rappers, desde o Tobe Nwigwe à Rapsody. Tu e a Rapsody têm que fazer um álbum do estilo The Best of Both Worlds

Isso não me aborreceria.

Neste último álbum tens o Wale, o NAS. O que é que procuras num rapper? Há algo em particular que procures num rapper para te levar a convidá-lo para uma faixa tua?

Acho que não é diferente de uma participação de um cantor. Para mim, eu estou a criar um filme e preciso da personagem certa. Depende do que estou a falar, depende de como soa e de como me faz sentir para a personagem encaixar. Para o “So Lonely” eu sabia que tinha uma influência afrobeat mas que também tinha a influência de Nova Orleães, certo? Por isso o Wale, que é nigeriano mas também vive cá desde sempre, percebe todos esses aspectos e entende de go-go em DC e de second line de Nova Orleães, por isso ele era a personagem certa para “So Lonely”. “Be Like Water” soa a Stevie e, como disse, aquele beat para o Nas foi como… eu não consegui pensar em mais ninguém. Foi uma lista com três pessoas, vá: Kendrick [Lamar], NAS e JID. Só esses conseguiriam compreender essa nuance de estranheza para aquele espaço. Agora que está feito, e isso é que é uma loucura, parece mais fácil ouvir alguém fazê-lo. Mas quando ouvi pela primeira vez esse beat, era um pocket muito original mas o NAS fez com que parecesse fácil. E também era uma faixa madura, se nos cingirmos àquilo de que ele está a falar. “Be Like Water” é sobre um homem que já tem um pouco da vida às costas e que percebeu o que fazer agora, por isso não vou iria buscar o rapper mais novo do mundo, percebes? O NAS era a personagem certa.

Watch The Sun é a banda sonora do teu filme. Qual seria o título desse filme?

Crescimento [risos]. Ou Growing Pains [risos]. 


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