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Fotografia: madalena.pt
Publicado a: 17/06/2021

Melancolia e emoções à flor da pele.

Phoebe sobre if i was simple in the mind, everything would be fine: “Fiz tudo de uma vez sem pensar muito no que estava a acontecer”

Fotografia: madalena.pt
Publicado a: 17/06/2021

Phoebe é o projecto de Bruno Trigo Gonçalves, produtor leiriense que edita hoje o seu terceiro EP if i was simple in the mind, everything would be fine. Depois do r&b escapista de Affection (2019) e dos subterfúgios drum’n’bass de Living On Valued Energy (2020), o co-fundador da Troublemaker Records estreia-se pela Rotten \ Fresh com um trabalho que cruza as electrónicas abstractas de registos anteriores com as texturas próprias da música shoegaze.

O EP, composto por quatro originais e uma remistura, surgiu de um bloqueio criativo provocado pelo primeiro ano de pandemia. A partir de um conjunto de gravações avulsas guardadas no seu telemóvel, Phoebe concebeu uma obra instintiva, feita de uma assentada apenas, e o resultado é surpreendente. Para entender melhor as motivações por trás deste lançamento, que é apresentado esta quinta-feira, às 18 horas, no HABITAT, em Leiria, estivemos à conversa com o artista sobre os processos que levaram à sua concepção, a vontade de introduzir diferentes expressões na mesma composição e o actual cenário da música eletrónica feita em Portugal.



Vamos começar pelo início: fala-me um pouco sobre o teu percurso enquanto músico e produtor. Como é que tudo começou e o que que te levou a querer criar a tua própria editora?

Bem, o meu percurso enquanto produtor começou um pouco como o de muita gente, de ser DJ e querer também passar as minhas próprias malhas. Senti uma necessidade de ter algo meu nesse aspeto. E com a editora [Troublemaker] foi o passo a seguir, de fazer imensa música e ninguém querer lançar, então foi um bocado em modo pirraça, sabes [risos]. Mas a cena mudou com o tempo e a necessidade passou a ser lançar outra malta que eu gostava e que tinha bué talento.

Entre o Affection, de 2019, e o teu último trabalho muita coisa mudou, desde os sons que os definem aos selos por onde foram lançados. Como é que tens visto a tua evolução – tanto a nível criativo como pessoal – desde que começaste a fazer música como Phoebe?

O Affection foi feito “out of necessity” de ter que dizer aquelas [coisas] todas, e foi a única maneira que encontrei para o fazer! Apesar de nunca ter sido meu intuito cantar em alguma malha minha, naquele momento e tempo específico foi necessário, havia muitos feelings envolvidos [risos] E, opá, eu gosto de bué cenas diferentes, é muito difícil para mim ficar só a fazer uma coisa, tenho que ir everywhere porque sempre fui assim, sempre produzi bué r&b, por exemplo, e ao mesmo tempo banging club belts, por isso essa parte sempre foi super natural para mim, although eu invejo producers que conseguem manter-se numa só linha e a fazer sentido. 

Neste EP introduzes algumas texturas que são típicas da escola shoegaze. Como é que surgiu este teu interesse pelas expressões mais alternativas do rock? E o que te tez querer implementar estes géneros nas tuas composições pela primeira vez?

As minhas influências principais sempre foram de escolas shoegaze, punk, post-punk e noisy stuff, logo para mim era quase imperativo isto acontecer, e até acho que já estava hinting [isso] no Affection, já havia algumas nuances de algo mais noisy. Mas devo admitir que estou um bocado nervoso por finalmente lançar algo que me identifique tanto.

Recorres a algum tipo de instrumentação acústica?

No Affection ainda usei umas guitarras e baixo, mas agora já só tento recriar cenas com samples. Como não sou o  melhor guitar player, tocar para mim é, de certo modo, limitador.

Como é que foi o processo de gravação?

Este disco foi só uma colecção de field recordings e gravações que tinha no meu telemóvel que eventualmente passei isso para formato canção, foi tudo muito natural, fiz tudo de uma vez sem pensar muito no que estava a acontecer, como isto foi fruto de um major block que tive durante um ano em que não conseguia sequer abrir o Ableton. 

Apesar de ser um trabalho maioritariamente instrumental, os títulos parecem sugerir temas como a dor, a amizade e, talvez, problemas relacionados com saúde mental. Podias elucidar-nos um pouco mais sobre esta questão? 

Sinto que tudo o que eu faça vai ter sempre esta quota melancólica, de certa forma só consigo produzir algo em momentos em que sinto que há algo para dizer. No primeiro foi um heartbreak e agora a perda de um dos meus melhores amigos. Foram dois momentos-chave na minha vida, em que acho que houve clicks que mudaram o percurso das coisas.

Este é o teu primeiro lançamento pela Rotten \ Fresh. Como se deu esta relação?

Penso que esta relação vem de 2019 quando a Odete lançou a joint tape pela Troublemaker com a Rotten, e aí conheci o Diogo, mas acho que já conhecia o Rochinha de gigs e online buds, foram logo pessoas que curti bué, e já era super fã de tudo o que a Rotten \ Fresh fazia, vou ter que admitir, então quando acabei este disco quis logo enviar para eles. E pronto, cá estamos [Risos].

Como fundador da Troublemaker e membro activo na cena de Lisboa, como tens visto o panorama da música electrónica local?

Eu posso ser suspeito, mas acho que está a ficar mesmo brutal, estamos a criar um ecossistema super consistente a nível de qualidade de música e producers, mas acho que o problema continua a ser a falta de support de clubs em dar oportunidade a malta que tem feito um óptimo trabalho em plataformas tipo Soundcloud. Óbvio que agora podem dizer que num “pós-covid” ninguém quer arriscar, mas isto já acontecia em pré-covid times.

O que podemos esperar do teu concerto no HABITAT?

Olha, para ser sincero, nem sei bem, estou um bocado nervoso por ir apresentar este disco à minha cidade. É sempre mais nerveracking quando tocas em casa, oiço dizer [risos] Na realidade até é a primeira vez que vou tocar live em Leiria, foi sempre DJ sets, então os nervos são bem maiores. Mas vou tentar fazer um apanhado de bué cenas que fiz e tentar mesclar isso tudo para ver no que dá.


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