A 6.ª edição do Jazz na Real Vinícola realiza-se este mês com três eventos em datas distintas e o primeiro deles acontece já esta sábado, 14 de Junho, na Real Vinícola, que se situa no número 456 da Avenida Menéres, em Matosinhos.
Em causa está a estreia em palco da música contida em Boreal, o disco lançado em Maio último pelo CARA – Centro de Alto Rendimento Artístico e que juntou Perico Sambeat à Orquestra Jazz de Matosinhos. O veterano músico espanhol assina a composição dos oito temas alinhados no projecto, bem como os respectivos arranjos, a direcção musical e ainda parte da produção, função que dividiu com Pedro Guedes, além de tocar saxofone alto, saxofone soprano e flauta.
Perico Sambeat, nascido em Valência em 1962, é um dos mais renomados músicos de jazz de Espanha e uma figura central no cenário europeu do género. Com uma sólida formação musical adquirida no Berklee College of Music, nos Estados Unidos, desenvolveu uma carreira marcada pela versatilidade, pelo domínio técnico dos seus intrumentos e pela criatividade, explorando campos que vão desde o jazz tradicional até às fusões com outras linguagens, como o flamenco. Ao longo da carreira colaborou com grandes nomes internacionais como Brad Mehldau, Pat Metheny e Tete Montoliu, além de liderar os seus próprios projectos.
De modo a anteciparmos este concerto especial, trocámos algumas impressões com Sambeat, descortinando um pouco mais o processo que o levou a colaborar com a Orquestra Jazz de Matosinhos.
O concerto de dia 14 na Real Vinícola servirá para a apresentação de Boreal, o álbum que gravou com a Orquestra de Jazz de Matosinhos. Pode começar por nos dizer que disco é este e o que significa para si gravar com uma entidade tão especial quanto a OJM?
Boreal é o nome do meu último disco com a Orquestra Jazz de Matosinhos. Há algum tempo, o meu querido amigo Pedro Guedes convidou-me para gravar e passei o último ano, ano e meio, a escrever toda esta música para poder gravar com eles. Trata-se de uma big band pioneira, uma das melhores na Península Ibérica e das mais respeitadas na Europa, e para mim é uma grande alegria poder trabalhar com a OJM.
A experiência de gravar em estúdio e tocar ao vivo pode não ser assim tão diferente porque em ambos os casos a música resulta de uma entrega colectiva, mas há o factor do público. É importante para este tipo de música o encontro com um público conhecedor e receptivo?
A música que fazemos é jazz, como sabes, e essa música tem uma carga muito grande de interação entre os músicos. É muito mais prazeroso ouvir ao vivo do que em disco. Sempre pensei dessa forma.
Na qualidade de compositor e director musical, imagino que trabalhar com uma orquestra, por oposição a um pequeno ensemble, signifique trabalhar com uma mais vasta paleta de cores e, por isso, os “quadros” resultam sempre mais vívidos. Quais são os desafios, enquanto compositor e arranjador, de trabalhar com este tipo de escala?
É muito mais complexo e árduo trabalhar e escrever música para uma big band do que para uma formação pequena. Como dizes, a paleta de cores é muito mais ampla, há muitas mais possibilidades tímbricas e de todo o tipo. Na verdade, é sempre um grande trabalho escrever para orquestra, mas é muito reconfortante, também. É o meu terceiro disco com uma big band, gosto de saber para que formações estou a compor — não tanto para que instrumentos, mais para aquelas pessoas especificas. Muito destes temas escrevi a pensar na OJM, nos músicos que os vão interpretar.
A sua relação com a OJM já tem cerca de década e meia. Pode falar-nos do que foi fazendo ao longo dos anos com a OJM?
Há 15 anos colaborei com a OJM num concerto na Casa da Música. Desde então a OJM cresceu imenso, ganhou destaque em todo o mundo e atingiu um estatuto bastante prestigiante. Tem feito discos e parcerias fabulosas. Eu também ganhei mais experiência como compositor para big band e a verdade é que é um momento perfeito para mim, o de ter esta oportunidade, porque crescemos imenso nos últimos anos e este reencontro chega no momento certo para darmos continuidade à nossa feliz colaboração.
Quanto ao reportório de Boreal: estas peças foram escritas propositadamente para este trabalho ou são temas já antigos que arranjou especialmente para esta orquestra?
A maioria destes temas foram compostos para a OJM e a pensar nos músicos que os vão interpretar. Há um ou outro mais antigo, que tinha escrito sem este propósito, mas o arranjo e a orquestração são de agora.
Neste concerto na Real Vinicola, a localização deve ser igualmente especial. O que pensa de tocar num local como este?
Já toquei na Real Vinícola, é um lugar fabuloso e encantador. O CARA é um estúdio pioneiro na Península Ibérica, tem condições espectaculares e é um prazer gravar lá. Todo o espaço em redor é bastante acolhedor e luminoso, também já tocámos no exterior com o projecto “Ornette, What is This?”, com o Ricardo Toscano e a OJM. Estou ansioso por voltar a tocar na Real Vinícola e apresentar este disco, Boreal. Foi um trabalho titânico, escrever toda a música para uma big band, fazer arranjos, tocar, gravar… é tremendo. Vai ser a primeira vez que vamos tocar este disco ao vivo, no planeta, e estou emocionado por poder fazê-lo.