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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 23/06/2022

Certificado de qualidade.

Patrick Adams, génio da música disco, morre aos 72 anos

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 23/06/2022

O nome Patrick Adams inscrito na ficha técnica de um qualquer álbum de disco foi sempre argumento suficiente para a sua compra. Como aliás a célebre frase “A Tom Moulton Mix” ou a descoberta de créditos envolvendo pessoas como Larry Levan ou Walter Gibbons. Porque foi precisamente com a era do disco que nomes inscritos em fontes de tamanho reduzido na contra-capa começaram a ter mais peso artístico do que os nomes dos artistas propriamente ditos. Estes homens — produtores, remisturadores, engenheiros de som — desenvolveram um toque mágico expresso através da mesa de mistura. O toque preciso que garantia a funcionalidade de um disco na pista de dança. Patrick Adams, sem dúvida, possuía esse toque mágico. Uma compilação clássica como Funky Disco Tracks of Cloud One, originalmente lançada em 1978 na Queen Constance, cedo demonstrou que Patrick Adams era dono de uma noção muito particular de groove que durante os anos mais quentes da revolução disco se tornou sinónimo de classe e eficácia. Esse génio e pioneiro faleceu agora, aos 72 anos, tal como comunicado pela sua filha, Joi Sanchez, através das redes sociais.

Patrick Adams nasceu em Março de 1950, no Harlem, em Nova Iorque. E como sempre acontece nestas histórias, revelou desde muito cedo uma forte inclinação musical. Reza a lenda que, entre os 12 e os 15, quando juntou um gravador ao trompete e à guitarra que já dominava desde os 10 anos, compôs e registou cerca de 400 canções. O envolvimento com a indústria discográfica não demorou a tornar-se realidade. Com apenas 16 anos formou a banda The Sparks cuja primeira missão foi um papel num filme da Warner, Up The Down Staircase. O grupo The Sparks nunca teve real sucesso, mas entrou em imensas digressões ao lado de monstros da soul como Jerry Butler ou os Commodores. Foi durante esse tempo que Patrick Adams revelou um outro talento ao escrever para A Rua Sésamo a canção “You’ve Got to Learn Something”, que ainda hoje faz parte do repertório da série.

Em 1970, já um veterano nas andanças da indústria, apesar dos seus tenros 20 anos de idade, Patrick tornou-se A&R da Perception/Today Records, editora para onde assinou os Black Ivory, um dos grupos pioneiros do disco. Um dos membros desse grupo respondia pelo nome de Leroy Burgess, que se sagraria como um dos mais requisitados compositores da era do disco e com quem Patrick trabalhou variadíssimas vezes. Em 1974, Patrick Adams abandonou a Perception para fundar a sua própria editora em conjunto com Peter Brown, um veterano da área da promoção. A P&P Records, baseada no Harlem, tornou-se a casa-mãe de uma série de etiquetas hoje muito procuradas como a SONY (Sound of New York), Queen Constance (a etiqueta do já referido álbum dos Cloud One), Heavenly Star ou Chocolate Star.

Patrick dirigiu todas estas etiquetas, dando um enorme contributo para o desenvolvimento do disco com as suas produções. Ele dirigiu esse conjunto de etiquetas até meados dos anos 80 e no seu currículo figuram hits estrondosos como o enorme “Last Night a DJ Saved my Life”, dos Indeep, lançado na SONY em 1982.

Patrick Adams nunca se confinou a um único papel na indústria e além de A&R foi igualmente compositor e um grande produtor e engenheiro de som. A sua história cruza-se inclusive com a do ihp hop pois o seu nome está associado, como engenheiro, a um dos maiores clássicos do género — Paid In Full da dupla Eric B & Rakim. Mas como produtor, Patrick Adams foi o responsável pelo maior sucesso da carreira do flautista de jazz Herbie Mann, quando este se aventurou em 1979 nos territórios do disco e gravou Super Mann! E como compositor, Adams também tem um currículo recheado, incluindo por exemplo o grande clássico “I’m Caught Up (in a One Night Love Affair)” para os grandes Inner Life (com voz da diva Jocelyn Brown, uma das musas inspiradoras do house). No ano anterior, Patrick já tinha trabalhado com Jocelyn Brown no clássico da Prelude (a etiqueta de François Kevorkian) Keep On Jumpin’ creditado a Musique. É nesse álbum (quatro temas apenas) que se encontra o grande clássico “In The Bush” cuja letra (“Push, push, in the bush”) motivou uma enorme onda de censura e, claro, um enorme êxito nas pistas de todo o país. O vídeo para esse tema foi rodado no mítico Studio 54!

Por esta altura, já a carreira de Patrick Adams estava associada a nomes hoje tidos como fundamentais nos meandros do Disco Sound, como aconteceu por exemplo com os Universal Robot Band com quem editou um dos primeiros maxis disponíveis comercialmente, logo em 1976, “Dance and Shake Your Tambourine”. Durante o período dourado do disco, Patrick trabalhou em mais de 1000 discos diferentes de gente como as Sister Sledge, Lolleatta Holloway, Main Ingredient, Shannon, Spinners, Rick James ou Candi Staton. Impressionante, de facto. É igualmente o nome de Patrick Adams que domina a ficha técnica do clássico Phreek, um disco que Larry Levan admirava tanto que levou os Class Action a gravar uma versão de Weekend só para a poder remisturar.

Na sua enorme carreira, o trabalho dos Cloud One, no álbum Funky Disco Tracks of Cloud One, destaca-se pela sua eficácia tremenda. É um álbum económico, que dispensa os arranjos de cordas e investe antes pelos territórios da tecnologia electrónica usando e abusando de moogs e clavinets para criar um clássico de sci-fi disco que ainda hoje é capaz de causar estragos nas pistas de dança.

Patrick Adams foi um gigante e, como se dizia no início deste texto, a presença do seu nome na ficha técnica de um disco — qualquer disco — deverá ser sempre motivo para a sua compra. Porque o alto nível das suas produções rendeu inúmeros clássicos que ainda hoje inspiram DJs, produtores e clubbers em todo o mundo.


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