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Pedro Tenreiro

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De Cloud One a Eric B. & Rakim.

Patrick Adams (1950-2022)


Em 1988 comprei uma colectânea que moldou o curso dos meus consumos musicais. Era o segundo volume de uma série chamada Rare Groove, editada pela Street Sounds, um selo britânico que cobria algumas das tendências dominantes nos clubes londrinos, desde o jazz ao electro.

Neste disco, além de nomes que já me eram familiares, como Fred Wesley, Wilson Pickett ou os Dynamic Corvettes, esperavam-me duas descobertas: “I wouldn’t change a thing”, canção de Coke Escovedo que se transformaria num dos temas da minha vida, e Patrick Adams, o mentor dos Cloud One, aí representados com “Atmosphere Strut”.

Na mesma altura, a mãe de uns amigos tinha-me oferecido os poucos discos que tinha e, no meio de muita coisa sem interesse, lá estava de novo o nome de Patrick Adams, desta vez nos créditos de um LP dos Inner Life.

10 anos mais tarde, dois dos três temas que marcaram a minha estreia no mundo da produção, ao lado de Serial (dos Mind da Gap), partiam de samples desses dois discos.

Era uma das evidências da admiração que tinha por este génio.

Entre estes dois momentos fui descobrindo a sua obra, a sua importância, as suas ligações decisivas com tantos momentos chave da histórica da música de afro-americana.

O músico, o compositor, o produtor, o engenheiro de som e o A&R que abriu mundos ao mundo – desde a descoberta dos Black Ivory e, por inerência, de Leroy Burgess, num momento em que dirigia a Today e foi responsável pela edição de obras-primas de Debbie Taylor ou dos Madhouse, até dirigir as sessões de estúdio dos primeiros discos de Eric B. & Rakim.

Pelo meio trabalhou para marcas como a Atlantic, a Salsoul ou a Preludo, tendo sido responsável por alguns dos maiores hinos e êxitos disco, deu-nos projectos como Cloud One, The Universal Robot Band, Four Below Zero, Phreek, Bumblebee Unlimited, Musique ou Inner Life e participou na fundação de independentes incontornáveis como a Red Greg, a P+P, a Queen Constance, a Heavenly Star, a Land of Hits ou a Golden Flamingo, cujos discos fui coleccionando avidamente, nos bons tempos da Gemm, quando a Internet ainda era olhada com desconfiança, mas nos dava a oportunidade de comprar pérolas atrás de pérolas por uns meros cinco dólares.

Enfim, a sua obra é tão extensa e influente que é quase impossível encontrar palavras que lhe façam justiça.

Sempre houve uma coisa que para mim era fascinante na sua postura – o facto de os inúmeros discos de ouro e platina que ganhou, com produções extremamente revolucionárias e sofisticadas, nunca o ter impedido de arriscar e de voltar a casa, esse lugar onde a descoberta se confunde com a diversão.

Talvez Carl Craig tenha estado perto de o definir da melhor forma numa publicação que fez ontem no Instagram: “Patrick Adams IS the underground Quincy Jones.”


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