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Publicado a: 14/03/2017

A paternidade e a independência são assuntos-chave em nova entrevista de Chance The Rapper

Publicado a: 14/03/2017

[TEXTO] Gonçalo Oliveira [FOTO] Complex

Chance The Rapper falou à Complex acerca das principais etapas do belo caminho que tem percorrido. A publicação norte-americana volta a ter o rapper de Chicago como principal destaque oferecendo-lhe a capa da edição de Fevereiro/Março de 2017.

O MC de Chicago deu um enorme passo no que ao hip hop independente diz respeito durante o último ano. Estreou-se em 2012 e, 3 mixtapes depois, emerge glorioso depois com direito a 3 Grammys na última edição da entrega de prémios mais aclamada do panorama musical.

 



Em entrevista conduzida pelo jornalista Noah Callahan-Bever, Chance The Rapper tocou em vários pontos fulcrais para a sua ascensão e manutenção no panorama do hip hop enquanto artista independente e revelou que grande parte da sua motivação vem da paternidade, a relação com a família e amigos e Deus.

“[Ser pai] teve um grande impacto naquilo que eu estava a fazer. Estava constantemente em digressão, a tentar descobrir para que onde ia”, conta Chance em relação à surpresa que foi saber que tinha uma filha a caminho. “A minha filha e a mãe dela ficaram comigo num quarto muito desconfortável quando estava em estúdio. Tentar construir um lar dentro de um estúdio é impossível!”, lembrou o rapper acerca de todo o processo de ter de ser pai e criativo ao mesmo tempo aquando as gravações de Coloring Book. Um álbum em que, até pelo título, se nota o peso que a paternidade teve no trabalho que desenvolveu. “É a reflexão do que realmente se está a passar. A existência é a coisa mais bonita e, quando tu realmente experiências a vida com o teu filho, tu sabes”.

Mas há também outras pessoas na vida de Chance. Embora admita que já não é o tipo de pessoa extrovertida que tenta conhecer toda a gente nas festas, existem amigos e familiares a manter por perto. Tanto que, ainda na fase inicial da conversa, admite que está a “pensar voltar a viver com os pais”. Não por algum tipo de necessidade, mas porque percebeu, agora que também é pai, a importância dos seus progenitores: “A minha mãe ama-me mais do que ama qualquer outra pessoa no mundo, e isso é surreal para mim. Por isso, é claro que quero estar perto dela.”

 



A ansiedade que chega com o mediatismo e a responsabilidade e o stress pós-traumático que advém de alguns episódios onde teve a infelicidade de ver alguns amigos morrerem à sua frente são alguns pontos menos positivos que também têm destaque na entrevista. “Estou calmo. Não me quero convencer que fui prejudicado por alguma dessas experiências. (…) Não posso olhar para isso dessa forma. Foram momentos incapacitantes que aconteceram na minha vida e agora as coisas estão diferentes”. Referindo ainda o medo de ter de recorrer a algum tipo de drogas de psiquiatria para contornar algum momento menos bom. “Gosto de fumar erva e isso, de relaxar (…) Não estou mesmo inclinado a experimentar novos tipos de drogas, mesmo que me sejam receitadas. Estou relaxado”, reforça.

O assunto Kanye West não poderia faltar: “Ele é um comediante de diversas maneiras. Escreve coisas que são dolorosamente engraçadas e outras dolorosamente verdadeiras”. Os dois foram-se aproximando nos últimos anos e já foram várias as vezes em que Chance elogiou West publicamente, que também é de Chicago.

Para terminar, o rapper fala também do seu status no panorama hip hop e aquilo que vê como uma das claras vantagens que tem ao seu dispor: ser um artista independente. “Tu precisas de um manager, de alguém que faça cenas por ti, de um assistente, um realizador, um engenheiro, alguém para gerir os concertos, alguém para gerir a produção. Há muitas coisas que vais precisar à medida que te expandes. Mas quando assinas por uma editora ganhas um patrão, e é essa cena que me lixa todo. Porque é que tens de ter um patrão?”, lançando ainda algumas farpas ao contar o que algumas editoras grandes fizeram para o rebaixar, “[em concertos] retiraram-me o estatuto de cabeça de cartaz para que os seus artistas o pudessem ser. Ou não me aprovavam os samples. Os samples que eram bons não mos permitiram usar”.

 


https://youtu.be/PfaKtyWlrlM


“Eu nunca fiz música para ganhar Grammys ou tocar no SNL ou entrar num festival. São tudo coisas muito, muito, muito importantes para mim, mas são apenas checkpoints ao longo da estrada para o céu”, concluindo, “as pessoas pensam que ser independente é fazeres tudo por ti próprio. Mas ser independente significa ser livre.”

No entanto, há alguns detalhes que podem sofrer alterações na forma como Chance se coloca perante o mercado. E, sem revelar muitos pormenores sobre o seu próximo trabalho, adianta que esse será o seu primeiro álbum a sério, muito devido ao facto de o querer colocar à venda. “Quase que odeio o facto de não poder entrar para as tabelas musicais. Eu consigo figurar nas tabelas, mas a forma como o streaming é contabilizado é fraco como o caraças. É injusto. 1500 streams é o equivalente a uma venda de um álbum, e isso é completamente injusto. Ninguém ouve os temas 1500 vezes quando compra um álbum.”

Sobre o disco que está a ser criado, garante que será algo mais em “aberto”, ao contrário das suas mixtapes, que tinham temáticas definidas. Chance descreve-nos um a um: “10 Day era sobre a suspensão escolar; Acid Rap era sobre o ácido; Coloring Book era sobre ser pai e sobre Deus. Eu penso que, seja este álbum o que quer que seja, não será tão centrado.”

A entrevista pode ser vista na íntegra no vídeo em baixo:

 


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