pub

Fotografia: Pedro Roque
Publicado a: 07/10/2021

Uma contínua expansão textural.

OUT.FEST’21 – 6 de Outubro: até que o drone nos separe

Fotografia: Pedro Roque
Publicado a: 07/10/2021

Foi preciso atravessar uma sequência infindável de rotundas para chegar à SDUB – Os Franceses (que acolheu as duas actuações deste terceiro dia deste segundo momento do OUT.FEST 2021), mas o percurso valeu a pena pela recompensa final: mais uma recomendável sessão com dose dupla de música exploratória.

Os responsáveis pelo ponto de partida desta noite foram os LUMP, duo constituído pela vocalista Mariana Dionísio e pelo prolífico trompetista João Almeida, jovens músicos mas já com alguma bagagens no campo do jazz e da improvisação livre; o universo estético dos LUMP move-se precisamente dentro destas duas linguagens musicais, e mostra ser um dos projectos mais revigorantes dentro de ambas. 

O concerto teve início com uma ação percussiva efectuada de uma forma tão meticulosa por parte dos dois músicos que se torna impossível de afirmar onde um começava e o outro terminava. Em pouco tempo, tornou-se também evidente a destreza tímbrica que ambos os executantes possuem: o trompete de João Almeida parece sofrer uma metamorfose sónica que o distingue do som natural deste instrumento (mesmo dentro das suas possibilidades no campo da música improvisada ou do free jazz), e a voz não-processada de Mariana Dionísio parece ser submetida, em determinados momentos, a efeitos de síntese eletrónica – é música concreta manipulada acusticamente. A partir daqui, Almeida prosseguiu para uma nota contínua com surdina, acompanhando uma linha de improvisação melódica atonal por parte da voz de Dionísio, a qual passou a ser imitada pelo trompete de forma pontual.

A segunda música apresentou-nos um diálogo ritmicamente mais assertivo entre os dois músicos e, gradualmente transitando o seu foco para a exploração de dinâmicas, fazendo-se notar novamente a destreza tímbrica da voz de Dionísio em particular, com dois ataques fugazes do trompete de Almeida a encerrar o tema em questão. O último tema foi também o mais curto, regressando novamente a um diálogo de improvisação melódica, desta vez mais rápido e menos dissonante, oferecendo assim uma clausura perfeita para uma prestação assinalável de música livre.

A segunda actuação da noite coube aos , duo formado pelo casal Filipa Campos e Paulo da Fonseca, que, em contraste com o duo que se apresentou anteriormente no palco da SDUB, centrou a sua exploração tímbrica através de instrumentação electrónica, não por isso menos entusiasmante: assim como na última prestação de dia 5, o centro das atenções deste concerto pertenceu novamente a um drone proeminente acompanhado pela exploração dos harmónicos a si relacionados – num delicado movimento estereofónico –, ao qual se seguiu um efeito crescente de ondulação da nota fundamental, assim como a adição posterior de outros efeitos sonoros, cada vez mais profundos, mas mantendo uma temática esteticamente serena. A exclusividade electrónica do recurso instrumental neste set foi rompida com a entrada de um outro drone, desta vez proveniente de uma guitarra eléctrica, que não deixou de ser consonante com as electrónicas, que voltaram a protagonizar sozinhas o resto do concerto, terminando num fade out dos efeitos que destronaram a nota principal de toda a composição. 

A entusiasmada reacção do público foi claramente sentida pelo casal, que reagiu com a troca de um beijo e esboçou sorrisos, transparecendo um sentimento de missão cumprida.

pub

Últimos da categoria: Reportagem

RBTV

Últimos artigos