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Publicado a: 04/05/2015

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Há que dizê-lo sem nos sentirmos de alguma forma diminuídos no jogo de egos ibérico: Espanha atirou-se à techno com uma ambição invulgar no contexto europeu e hoje apresenta resultados bem visíveis e positivos dentro do género. Podemos tentar explicar essa conquista focando sobretudo a quantidade de salas e festivais que Espanha dispõe para estimular a techno, mas ninguém acredita que toda esta boa saúde dependa apenas de condições logísticas. Há algo mais aqui e isso pode muito bem estar ligado à indesmentível tendência destes produtores espanhóis (Mulero, Svreca, Reeko) em adoptarem Jeff Mills como referência recorrente. Procurar inspiração em Jeff Mills na música é, por sua vez, um pouco como tirar notas com Lionel Messi ao vê-lo jogar à bola: ninguém perde com isso.

O mesmo não significa que seja fácil perseguir os passos de um verdadeiro mestre que, depois de ter feito quase tudo em disco, transformou a techno no seu instrumento para conquistar o espaço, criar novos mundos e dar concertos que alguns até já compararam a experiências de abdução extraterrestre. Tendo Mills como guru principal, é portanto raro o novo álbum de techno espanhola que não queira ser uma afirmação artística, nem que seja em termos de dimensão. Alinhado com isso, Muscle and Mind, o mais recente longa-duração de Oscar Mulero, é claramente um disco de olhos colocados no espaço à procura de ouvidos para a sua extensa narrativa e ritmos mais elaborados do que os que encontramos nos inúmeros EPs do produtor de Madrid.

Logo na abertura – “Mind-Body Interaction” -, Muscle and Mind arrebata-nos com os ruídos de um jogo de snooker em que os planetas são as bolas, num tapete cósmico com evidentes marcas do som e do imaginário próprio de Jeff Mills. Reparemos aliás – e para encerrar de vez a comparação – em como a versão de dois discos de Muscle… (com um segundo CD chamado Dualistic Concept reservado a extras e remisturas) está estruturada de um modo muito semelhante à de Where Light Ends, álbum de Jeff Mills exclusivamente editado no Japão. É de ressalvar também o toque mágico e a tal fome de espaço de Oscar Mulero quando atrai para “Involuntary Response” umas névoas ambient que nos são familiares desde que Apollo – Atmospheres & Soundtracks, de Brian Eno, nos mudou a vida. Muscle and Mind não terá a mesma capacidade de mudar vidas, mas merece por inteiro o título de alto representante da techno espanhola.

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